Desculpas

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Nº de palavras: 3758
Nº de páginas: 19

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- Agora que já se conhecem toca a trabalhar! – Diz o Richard num tom autoritário que me irrita de imediato.

- Trabalhar? – Pergunto, na esperança de ter ouvido mal.

- Ao trabalho, novata! – Ordena, pondo-se à minha frente num gesto de intimidação.

Isto não está mesmo a acontecer...

- Richard, por esta altura já devias ter percebido que eu não acato ordens facilmente. Eu não vou fazer nada. – Afirmo, calmamente, pondo as mãos na cintura e olhando para ele olhos nos olhos. Se ele acha que me vai conseguir intimidar está muito enganado. – Não trouxe roupa para fazer exercício e definitivamente não vou começar a trabalhar só porque tu queres!

- Eu disse: ao trabalho! – Grita, aproximando-se ainda mais, agora já claramente irritado.

Levanto o queixo para diminuir a nossa diferença de alturas, praguejando internamente quando ainda só lhe chego ao queixo, mas mantenho-me altiva sem recuar.

- E eu disse: não!

- Quem é que tu achas que manda aqui? – Pergunta, baixando o tom, nalgo que, mesmo assim, me parece que ele está a gritar comigo. Longe está o brilho de divertimento nos olhos dele e a picardia brincalhona a que me tinha habituado nele.

- Achas que me interessa?

- Devia, porque enquanto estiveres neste campo, pertences-me! – Declara com um sorriso malicioso que me dá voltas ao estômago. E não no bom sentido.

Pertenço...

Isso era o que eles diziam. Como é que eu pude sequer pensar que ele era boa pessoa? Ele é igual a todos os outros! Pior, até. Ele fez-me acreditar que as coisas podiam ser diferentes.

Algo na minha expressão deve ter denunciado o quanto aquelas palavras mexeram comigo porque o sorriso dele rapidamente desapareceu, substituído por um olhar preocupado. Não que eu note. Qualquer simpatia ou compreensão que eu podia ter é esquecida quando mágoa toma conta de mim.

- E eu que pensei que tu eras diferente... – Murmuro, mas sei que ele me ouviu. – És tal e qual a todos os outros. Nada mais do que um atrasado que pensa que pode ter poder sobre mim; que se acha melhor só porque sim! – A minha voz ganha ímpeto à medida que falo e quando dou por mim as palavras que saem da minha boca já não são em inglês. – EU ODEIO-TE, RICHARD LAUGHLIN! A ti e a tudo aquilo que tu representas!

Por um longo segundo, tudo permanece em silêncio. Nem o meu próprio respirar apressado e irregular parece conseguir quebrar o momento, deixando todos os olhares presos em mim no Richard.

O meu coração começa a bater com mais força contra o meu peito perante o olhar excruciante dele, tentando desesperadamente arrancar todas as camadas que eu fui construindo à minha volta com o tempo; um olhar que me parece compreender e apoiar. Fugazmente, vi-me a querer deixá-lo entrar; a querer abandonar toda aquela carapaça protetora à minha volta só para ele.

Só para ele.

Até que o seu olhar muda, deixando-me no centro de toda a sua raiva e frustração e quebrando por completo o momento. Descarto apressadamente a ideia absurda que me passou pela mente, admoestando-me a mim mesma por querer confiar nele segundos depois de lhe dizer que o odeio, mesmo que ele não tenha percebido.

- No meu campo, as minhas regras! E eu quero saber o que disseste novata! – Exige.

- Só podes estar a gozar! Achas mesmo que é a dares uma de capitão que eu te ensino português?! – Grito, sentindo a minha fúria igualar a dele.

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