Liam

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- Liam?! O que é que tu queres?!
- O que não tive na outra noite! - Diz e tenta entrar no apartamento, mas eu empurro-o.
- Vai sonhando! - Fecho-lhe a porta na cara, mas ele para o movimento com uma mão.
- Não linda, eu vou ter o que quero e vai ser hoje!
Ele empurra a porta com mais força e eu sou obrigada a andar para trás para me equilibrar.
- Sai daqui! - Grito.
- Senão o quê?
- Eu já passei por muito, aprendi umas coisas pelo caminho.
- Óptimo, se fosses inexperiente não ia ter piada nenhuma!
Ele fecha a porta e avança na minha direção. Quando está perto o suficiente tento dar-lhe um murro, mas ele agarra-me no punho. Sem perder tempo dou-lhe um pontapé na barriga e ele cambalea para trás.
- Dói, não dói? - Gozo.
Desta vez sou eu que avanço e ele tenta agarrar-me, mas eu desvio-me, ficando ao lado dele e dando-lhe um murro nas costelas. Ele leva o murro como se não fosse nada e vira-se para mim dando-me um murro na cara. Caiu no chão com a força do impacto. Começo a levantar-me, até ele me dar um pontapé no estômago que me faz cair outra vez.
- Dói! - Responde.
Ele baixa-se, agarra-me o cabelo e levanta-me. Arrasta-me para o sofá e atira-me para cima dele. Começa a desapertar o cinto e eu entro eu pânico.
- Steven! STEVEN!!! - Grito quando me lembro que ele está mesmo no apartamento à frente.
- Não devias estar a chamar pelo teu namorado? - Diz com um sorriso enquanto baixa as calças.
Levanto-me do sofá e tento ir para a casa de banho trancar-me, mas ele é mais rápido e agarra-me mandando-me para o sofá de novo, mas desta vez prende-me agarrando-me nos pulsos.
- STEVEN!!! RACH!!! - Tento outra vez.
- Isso continua a gritar!
Irrito-me e dou-lhe uma joelhada nas jóias. Ele sai de cima de mim e agarra o sítio.
Corro para fora do apartamento, bato e grito desesperadamente à porta do apartamento do Steven. O Liam agarra-me outra vez e leva-me para dentro do apartamento, trancando a porta desta vez.
- Vais pagar pelo que fizeste cabra!
Ele dá um passo na minha direção e eu dou um para trás. Continuamos assim até eu ir contra a parede.
- Yasmin, estás bem? - Oiço do outro lado da porta.
- Steven, ajuda-me!! - Peço desesperada.
Vejo a maçaneta a rodar mas a porta não abre.
- Yasmin abre a porta!
- Não posso!
O Liam agarra-me e deita-me no sofá pela terceira vez, deita-se por cima de mim e prende-me as mãos com uma das suas e as minhas pernas com as suas.
- Steven, rebenta a merda da porta!!!
O Liam baixa as calças do meu pijama com a mão livre até aos meus joelhos.
Tento soltar-me desesperadamente mas sem sucesso.
- STEVEN!!! - Grito uma última vez.
O Liam põe a mão por baixo da minha camisola e desaperta-me o sutiã.
Oiço um estrondo e sinto o Liam sair de cima de mim. Quando olho vejo o Steven em cima dele a dar-lhe murros até o pôr inconsciente. Aproveito o momento para puxar as calças para cima e apertar o sutiã.
- Estás bem? - Pergunta-me.
O que aconteceu torna-se claro na minha mente e começo a chorar.
- Yasmin! - Oiço a Rach gritar e depois sinto o seu abraço.
Não sei bem quanto tempo chorei no ombro da Rach, mas quando a soltei o Ricardo estava no meu apartamento.
- A minha Stingy... - Diz enquanto corre para mim e me agarra como que para ter a certeza que eu estou ali. Começo a chorar outra vez.
O meu pranto finalmente para e solto-me do Ricardo, limpando as lágrimas.
- O que é que aconteceu?
- Nada.
- Nada, não! Ele... Ele violou-te?
- Não. O Steven chegou antes de ele ter a oportunidade.
- Então o que é que ele te fez?
- Deu-me um murro na cara, um pontapé na barriga e atirou-me para o sofá três vezes.
- Três?!
- Pensas o quê? Eu sou um osso duro de roer! - Digo com um sorriso fraco.
- Eu não sei o que é que fazia se ele te tivesse feito alguma coisa... - Diz abraçando-me outra vez.
- Nunca vais ter de descobrir.

Acordo com o cheiro de comida a ser feita e saio imediatamente da cama. Vou para a cozinha e encontro o Ricardo a fazer panquecas.
- Uh, cheira bem!
- Bom dia, Stingy. - Sauda sem olhar para mim.
- Bom dia.
Vou para a sala e sento-me no sofá. Assim que o faço, lembro-me da noite passada. A minha única vontade neste momento é queimar o sofá e comprar um novo, mas não sou assim tão fraca. Não me vou livrar de um sofá em perfeitas condições só porque um cabrão qualquer me tentou violar. Eu sou mais forte do que isso!
Ligo a televisão e começo a ver o primeiro programa que me parece decente.
- Stingy, podes vir comer! - Chama da cozinha.
Pulo do sofá e vou para a cozinha. Pego no garfo e como as panquecas.
- Isto está delicioso!! - Digo com a boca cheia.
O Ricardo dá um sorriso fraco e começa a lavar a loiça. Ele não comeu...
- Ok, o que é que se passa? - Pergunto depois de engolir o que tinha na boca.
- Não se passa nada.
- Então porque é que estás a agir assim?
- Eu estou normal...
- Não, não estás!
- Estou sim!
- Se isto é o teu normal, então andas a mostrar uma mentira a todos os que te rodeiam!
- Se calhar tu é que não me conheces tão bem quanto pensava.
- Conheço-te bem o suficiente para apostar que estás assim por causa do que se passou ontem! - Ele deixa cair os pratos no lavatório e vira-se para mim.
- E se o Steven não tivesse chegado a tempo?!
- Mas chegou.
- Mas e se não tivesse?!
- Ele chegou a tempo e isso é tudo o que interessa!
- Não, não é!
- Então o que é que interessa?!
- O teu bem-estar! Ou vais-me dizer que estás bem?! Tens o olho mais negro do que antes e aposto que essa barriga também deve estar linda!
- Isso passa com o tempo!
- E psicologicamente?! Estás bem depois de ele ter... - Ele vira a cara enojado.
- De ele ter o quê?! Ele não me fez nada! Ele tentou violar-me e não conseguiu. Devias estar aliviado e não... assim!
- E achas o quê?! Que ele vai desistir?!
- Mesmo que já não o tenha feito, eventualmente vai-se fartar.
- Achas mesmo?!
- É o que pessoas como ele fazem! Gostam de sentir que têm o poder sobre alguém, mas quando percebem que a pessoa não se vai submeter, seguem em frente.
- E como é que tu sabes isso?!
- Porque toda a minha vida lidei com pessoas assim!
Ele fica a olhar para mim boquiaberto e não diz nada, mas eu sei que ele se quer desculpar, só não sabe como.
- Vou tomar um banho. - Digo enquanto me levanto.
Preparo umas leggings e uma camisola larga e vou para a casa de banho do quarto.
Fico pelo menos meia hora de baixo do chuveiro a esfregar o meu corpo nu apenas com a àgua que caía. Sinto-me suja. Sinto como se o cheiro dele se tivesse unificado com o meu corpo, e por mais que eu esfregasse ele não iria sair.
Fecho a àgua e passo o champô pelo meu cabelo. Esfrego-o até não haver hipótese nenhuma de o cheiro do champô não permanecer no meu cabelo.
Passo-me de novo por àgua.
Ponho muito mais amaciador no meu cabelo encaracolado do que é necessário e depois lavo o meu corpo. Esfrego-o até a minha pele ficar vermelha e o gel de banho seco.
Passo-me por àgua pela última vez, e desta vez não aguento as memórias que se forçam a entrar na minha mente.
Choro enquanto a àgua lava as lágrimas da minha face. Tremo enquanto a àgua quente percorre o meu corpo. Soluço enquanto o som da àgua a correr o abafa.
Vá lá, Yasmin! Com tanto que já passas-te não vai ser o Liam a deitar-te a baixo! Não pode ser!! Eu recuso-me a chorar pelo que QUASE aconteceu! Foi um susto, mais nada. Agora tens de te levantar e andar de cabeça erguida, é o que fazes sempre. Nunca precisas-te de ninguém e sempre sobreviveste, agora já tens alguém. Agora, podes viver! Por isso, levanta-te e todos os outros que te querem deitar a baixo podem ir com os porcos!!!
Respiro fundo, fecho a àgua e saio da banheira, limpando as últimas lágrimas que se atreveram a cair.
Visto-me e vou para a sala, onde está o Ricardo, as raparigas e os restantes idiotas.
- O que é que... - Sou cortada pelas raparigas a abraçar-me.
- Estás bem?! - Pergunta a B preocupada quando o abraço acaba.
- Porque é que não haveria de estar?
- Não sei, talvez por esse olho negro, essa barriga roxa e pelo facto de quase te terem violado?! - Exclama a Jo.
- Eu estou óptima! - Asseguro.
- Não, não estás! - Grita o Ricardo.
Olho para eles pela primeira vez desde que chegaram e vejo o mesmo olhar refletido em todos eles. Um olhar de pena.
- Ah, não! Nem pensem! Se vieram para aqui para terem pena de mim podem virar-se e sair porta fora!! Eu estive muito pior, tanto fisicamente como psicologicamente, e nunca tiveram pena de mim! Vocês não vão ser os primeiros! - Grito.
- Yasmin, ninguém está com... - Tenta o Steven.
- Podes parar aí com as tretas de psicólogo! Tu é que o impediste, tu é que estás em psicologia, tu eras o único de quem eu não esperava isto. - Digo magoada e ele desvia o olhar não aguentando.
- Miúda, nós só queremos ajudar...
- Se me querem ajudar tratem-me como sempre trataram. Por esta altura vocês já devem saber do meu passado. - Todos eles acenaram afirmativamente. - Então acham mesmo que esta é a primeira vez que eu lido com tarados?
Tanto eles como elas ficam a olhar incrédulos para mim.
- O quê?! - Pergunta o Ricardo horrorizado.
- Nem sempre houve um Steven do outro lado do corredor...

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