Ele é meu

145 11 0
                                        

- Há hipóteses de ele ficar com amnésia?
- Há.

Sento-me nos bancos à espera. Por não ser família, não me deixavam entrar até que ele acordasse, que era mais ou menos daqui a duas/três horas. A Nicole disse-me para ir para casa, mas eu simplesmente não conseguia deixar o hospital sabendo que ele precisava de mim. Porra! Só o simples facto de não poder estar ao lado dele quando ele acordasse já me fazia sentir como uma inútil! Nem me façam começar a pensar que isto tudo aconteceu porque ele me queria levar a algum lugar!
Ponho a cabeça entre as mãos, apoio os cotovelos nas minhas pernas e começo a chorar.
Foi culpa minha! Se não fosse por mim, isto não teria acontecido!!
- Yasmin? - Ouço uma voz preocupada e suave.
Levanto a cabeça e vejo o Gabe.
- Olá. - Forço um sorriso e limpo as lágrimas.
- Eu acabei de falar com a Nicole e ela convenceu-os a deixarem-te entrar. - Levanto-me rapidamente e vou logo para o quarto, do qual já decorei o número. - Vai correr tudo bem. - Assegura num sussurro.
Tento acreditar nas suas palavras, mas o meu pessimismo impede-me de o fazer.
Entro no quarto dele e seguro um soluço. Só a imagem dele deitado, inconsciente numa cama com sangue a ser injetado nas suas veias, faz-me querer voltar atrás no tempo. O que eu não dava para o fazer!
Puxo a cadeira, que estava no canto do quarto, para o lado da cama e sento-me nela. Pego na mão dele e deixo as lágrimas cair livremente.
- Vá lá, Ricardo... Acorda. Eu preciso que acordes. - Sussurro. - Acordas, tens alta, vens para a minha casa, vemos um filme agarrados, como tanto gostas... Fazemos o que quiseres, mas, por favor, acorda! Eu preciso de ti!! Eu amo-te...
Agarro na sua mão e deixo a cabeça cair na cama onde ele está. Fico aí a chorar, até que a exaustão me leva.

Acordo com leves e delicadas carícias na minha bochecha. Esfrego a cara na cama, como que a dizer: deixem-me dormir...
- Stingy? Estás acordada?
- Hum... - Resmungo.
Ele começa a rir e, pouco depois, sinto um beijo na mesma bochecha que estava a ser acarinhada.
Levanto a cabeça a custo e deparo-me com ele exatamente no mesmo estado em que estava antes, mas agora tinha os olhos abertos.
- Hey, como é que te sentes? - Pergunto.
- A morfina é incrível! - Goza e eu bato-lhe levemente no braço.
- A sério...
- Estou super cansado, mas de resto estou bem.
- Tiveste um acidente e estás bem... - Digo, séptica.
- Tu percebestes!
Suspiro e deposito a cabeça na cama, quase aliviada.
- Stingy? - Chama, e só aí é que percebo que estou a chorar.
Ele levanta a minha cara e beija-me como que a assegurar-me de que está ali e está bem.

O Gabe aparece, assim como a Nicole com o noivo (pelos vistos, ela tinha namorado e ele pediu-a em casamento), Allen, a Annie com o Jordan, o namorado e a Sandra com a Martha, que a foi buscar ao aeroporto. Claro que não foram todos ao mesmo tempo.
Chegamos ao fim do dia, e estamos ambos exaustos. Apesar de eu nunca ter saído do meu lugar, nem mesmo para comer (não me sentia com fome), foram demasiadas emoções para um só dia.
- A que horas é que vens amanhã, Stingy?
- Como assim a que horas?
- Então, vais para casa e depois ainda tens aulas e o treino, por isso, a que horas?
- Ricardo, tu não estás mesmo a pensar que eu me vou embora, pois não?
- Estou, porque vais! Não vais dormir cá. Outra vez!!
- Ricardo, por favor! Não vamos mesmo ter esta discussão, pois não?!
- Vamos!
- Eu não me vou embora!
- Vais sim!
- Não, não vou, e tu não me podes obrigar!
- Ai isso é que posso! Vais para casa, vais descansar e de manhã vais para a universidade!
- Tu próprio disseste que era a última semana e que não fazia diferença!!
- E tu disseste que, mesmo assim, precisavas de descansar!
- E achas mesmo que se eu for para casa vou conseguir descansar?!
- Óbvio! Porque é que não havias de conseguir?
- Ah, não sei! Se calhar porque tu estás no hospital e a culpa é minha!!! - Grito. Ele fica a olhar para mim espantado, a tentar escolher as palavras.
- Yasmin, a culpa não é tua. Eu é que não prestei atenção, eu é que sou o culpado. - Explica, mas eu não quero ouvir e levanto-me da cadeira, saindo do quarto dele.
Vou literalmente passear pelos corredores do hospital, pensando em tudo.
Eu sei que não me deveria culpar, que não faz sentido fazê-lo, mas não o consigo evitar.
Talvez, a minha mente depravada me queira culpar por algo mau, já fazem meses desde que não me culpam por todas as coisas que correm mal na vida de alguém. Talvez o hábito esteja a querer levar-me para a rotina diária que tinha antes.
Mas sabes que mais?! Eu não sou a mesma pessoa que era quando sai de Portugal! Já não sou aquela rapariga que de deixa espezinhar por tudo e todos e nunca mais voltarei a sê-lo!!
Volto ao quarto do Ricardo, pronta para lhe dizer que ok, não me posso culpar pelo acidente, mas que ele também não me vai impedir de lá passar a noite!
Quando chego, vejo a Lena sentada na minha cadeira, a agarrar a não do meu Ricardo. Não, risquem isso. A BEIJÁ-LO!!!
- Mas que merda é esta?!

Lucky CharmOnde histórias criam vida. Descubra agora