A Aposta

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Nº de palavras: 3769
Nº de páginas:  18

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Já passou uma semana desde que me tornei Lucky Charm. Fui recebida de braços abertos por todos os membros, exceto a Andrea que decidiu manter a distância sempre que possível com ocasional olhar assassino ou indireta. O Will, um dos rapazes da claque, respondia-lhe sempre antes de eu ter a oportunidade de o fazer, dando-me um sorriso encorajador logo a seguir. As raparigas, claro, apoiavam-no sempre caso a Andrea estivesse num humor especialmente mau e os outros dois rapazes, o Andrew e o John, chegaram a pôr-se ao meu lado de forma protetora quando ela deu um passo ameaçador na minha direção num dos treinos. Nunca chegou a acontecer mais nada do que umas discussões acesas, mas, se acontecer, não tenho dúvidas de que todos eles ficam do meu lado. A Andrea parece saber o mesmo, caso contrário, acho que as coisas não estavam tão pacíficas.

No entanto, a claque não é bem aquilo que eu esperava. As rotinas são repetitivas entre si, as músicas com uma batida semelhante, as acrobacias são sempre as mesmas básicas e começamos sempre, sempre, em formação de triângulo. Isto claro, sem descorar o facto de que eu fico sempre no final desse mesmo triângulo, escondida num canto e aparecendo no meio da rotina quando o rei faz anos. Neste momento, não só nada mais do que outro membro da claque e um que não dá muito nas vistas.

A única parte positiva é que os banhos de gelo acabaram. Tirando um ou outro treino em que a Andrea decide trabalhar-nos mais do que o normal, não sinto a necessidade de passar pelo sofrimento. Porém, tenho sempre o cuidado de alongar e relaxar os músculos e ir uma vez por semana à massagista que a universidade disponibilizou para a claque e para a equipa, conforme o conselho da Rach.

As boleias de manhã mantêm-se e, mais vezes do que não, repetem-se à tarde depois dos treinos. Aprendi a conversar e a brincar com o bando, surpreendendo-me a mim mesma quando comecei a pensar neles como amigos.

O Steven mostra-se sempre disponível para tudo, fazendo jus à qualidade de bom ouvinte que um psicólogo deve ter. O Bryan continua com as suas falinhas mansas e a chamar-me princesa, mas com o passar dos dias e das conversas constantes aprendi que é a tudo apenas parte da personalidade e que não há outro motivo por detrás dos elogios ou falas sugestivas sem ser pura amizade e brincadeira. O Ryan é o completo oposto do irmão. Enquanto o Bryan me elogia e me trata como uma princesa, tal e qual à alcunha que me deu, o Ryan goza comigo, nunca desperdiçando uma única oportunidade para me picar e ver a minha reação. A Maggie bem tenta que ele se acalme, mas ver a namorada meio irritada só o parece incentivar mais. E o Breaker! Juro, para alguém que é uma completa besta a jogar (sou testemunha. O Breaker nos treinos é assustador), tem um coração tão meigo e gentil que custa a crer que ganhou a alcunha por partir ossos da equipa adversária em todos os jogos.

O Richard... Bem, o idiota é um idiota e é por aí que eu vou deixar as coisas. O joguinho dele parece estar em pausa e eu não estou ansiosa para o recomeçar. Há algo nele que me faz perder a cabeça e querer atacá-lo e, se os últimos acontecimentos forem prova de alguma coisa, não só violentamente.

Mais um dia de faculdade chega ao fim e, como sempre, chego a casa cansada, mas bem disposta. Desde que me comecei a dar com o bando e com as raparigas da claque que os sorrisos se tornaram mais comuns e verdadeiros. Sinto-me bem e feliz na maior parte dos dias quando chego a casa.

Hoje, apetece-me dançar!, penso com um sorriso. Deus sabe que o que fazemos naqueles treinos não é dançar a sério.

Ligo o rádio que já lá tem o meu CD preferido e começo a dançar ao som da música, perdendo-me nas batidas sistemáticas que já conheço de cor e deixo o meu corpo tomar conta de todos os meus movimentos, confiando nele para guiar os meus passos.

Lucky CharmOnde histórias criam vida. Descubra agora