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POV Richard

Ouço as raparigas da claque gritarem desesperadamente por mim a meio do treino.

Preocupado, saio do campo e vou ter com elas.

- O que é que... - Interrompo-me a mim próprio quando percebo a situação.

A Stingy está estendida no chão com lágrimas nos olhos, as mãos no peito a agarrarem a camisola fervorosamente e tentando desesperadamente respirar.

Começo a entrar em pânico quando a vejo em tamanho sofrimento, mas controlo-me por ela.

- Stingy! STINGY!! - Grito, mas ela nem me ouve.

Agarro nela e ponho-a no meu colo com dificuldade, devido ao seu espernear frenético.

Grito e grito por ela. Tento acalmá-la; tento tudo, mas nada parece fazer efeito.

Por fim, tomo medidas extremas: dou-lhe uma chapada.

O ataque acaba deixando-a simplesmente devastada.

Não lhe pergunto nada quando ela se atira a mim e me abraça enquanto chora desalmadamente. Limito-me a abraçá-la de volta e a sussurrar leves palavras de conforto.

Não demora muito até a exaustão psicológica levar a melhor e ela adormecer nos meus braços.

Dou por finalizado o treino e levo-nos para casa, onde a ponho na cama comigo ao seu lado, sempre com ela, sempre a agarrá-la, sempre lá. Como sempre estarei.

Acordo com leves soluços e um corpo a tremer nos meus braços e apresso-me a virar a Stingy para mim.

- Queres falar? - Pergunto-lhe.

Ela nega com a cabeça e chora até adormecer de novo, mas eu não consigo.

O facto de haver algo neste mundo que possa deixar a minha Stingy num estado destes assombra-me! Eu só quero ver o sorriso dela; ouvir a sua gargalhada; sentir o seu corpo tremer quando se ri. Se todos os dias puder ver os seus olhos verdes e brilhantes cheios de vida e alegria... Só isso, seria suficiente para mim.

Umas horas depois ela volta a acordar, desta vez mais calma.

- Bom dia. - Saudo.

Ela não me responde, simplesmente se aproxima mais de mim e agarra o meu tronco.

Deixo-a abraçar, enquanto faço leves carícias no seu cabelo encaracolado.

- Eles foram... - Murmura com um soluço.

- Quem?

- Os meus pais.

- Para onde?

- Embora. - O meu peito aperta devido àquilo que ela me pode estar a dizer.

- Stingy eles...?

- Morreram! - Interrompe, desabando a chorar logo a seguir.

Agarro-a ainda mais próximo de mim, entendendo agora a dor pela qual ela está a passar.

Quero dizer algo. Quero confortá-la. Quero poder dizer-lhe que vai tudo ficar bem, mas não vai. Os pais dela não vão voltar, a dor que ela está a sentir agora não vai desaparecer, nunca. Ela nunca vai sarar completamente e a cicatriz deixada para trás, poderá depressa voltar a tornar-se numa ferida profunda, que dói tanto como se tivesse sido infligida no momento.

- A Becas? - Lembro-me subitamente.

Por favor, a Becas não!

- Eu... Eu não sei... - Responde, parando o choro, perante a hipótese de ainda ter a irmã mais nova. - Só me disseram sobre os meus pais, nada da Becas.

- Isso quer dizer que...

- Ela está em Portugal sem ninguém! - Apercebe-se. - Ricardo eu tenho de ir! Ela precisa de mim!

- Ok. Faz as malas que eu compro os bilhetes online. - Declaro.

Ela ri, não um sorriso completo, realmente alegre, mas um sorriso de agradecimento.

Sorrio de volta.

Duas horas depois, estamos no avião.

- Stingy, dorme. Eu acordo-te quando chegarmos.

Ela assente e põe a cabeça no meu ombro, adormecendo rapidamente.

Horas depois, acordo-a, como prometido.

Saímos do avião, vamos buscar as malas tudo quase a correr e quando dou por mim estamos num orfanato e a Stingy está a gritar com uma mulher qualquer.

Tudo o que eu percebo é "eu mato-te sua...se não me deres a minha irmã!!!". Depois disso foram um bando de palavras que eu juro que não eram parte do dicionário português...

Por fim, ela consegue a guarda da Becas, que aparece com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.

As duas raparigas abraçam-se e choram no ombro uma da outra, como verdadeiras irmãs.

A seguir, vamos para uma casa. Percebo imediatamente que era a casa dos pais dela quando a Becas sobe as escadas para o seu suposto quarto.

- E agora? - Pergunto.

- Eu não sei... Não vou deixar a Becas, isso é garantido. Mas... Depois do funeral... - Diz, já com lágrimas nos olhos e um soluço abafado.

Estendo os meus braços, convidado-a para um abraço, que ela de agrado aceita.

Assim passamos o resto do dia e de noite. Só nós os dois num abraço caloroso.

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