Terror

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de palavras: 4436
de páginas: 20

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Oiço o Richard rir baixo quando sinto uma mão no meu queixo, forçando-me a olhar para cima. Lá está ele: a sorrir. Um sorriso de orelha a orelha que me dá uma volta ao estômago só de pensar que é um sorriso de vitória por causa de uma aposta que ele nem venceu.

O Richard volta a rir e larga-me, começando a ir em direção à porta do apartamento.

- E que tal vocês irem todos dormir lá em casa hoje? – Indago, virando-me para o bando, esperançosa.

Se eles forem não vou estar sozinha com ele. Se eles forem não vai acontecer nada.

- O que é que pensas que estás a fazer?! – Pergunta ao voltar atrás e me virar para ele, agarrando-me bruscamente no braço.

- Estou a convidar uns amigos para irem lá dormir a casa. – Explico com um sorriso fraco e trémulo.

- Vocês não vêm. – Ordena, tirando os olhos de mim só durante o segundo preciso para olhar para eles. – E tu não voltas a pedir! Agora anda!

Eu não posso ficar sozinha com ele. Não posso, não posso, não posso!

- Deixa-me pelo menos despedir-me deles. – Peço num murmúrio, empatando.

- Vais vê-los amanhã de manhã! – Argumenta, revirando os olhos. – Agora casa. – Diz, puxando-me atrás dele.

Paro no lugar, arrancando o meu braço da mão dele, para assimilar aquelas duas simples palavras.

Ele... Ele disse mesmo isto?

- Desculpa? – Franzo as sobrancelhas, boquiaberta, rezando para ter ouvido mal. Decerto, ele não quis dizer aquilo como se eu fosse um cão. Ele não faria isso. Pois não?

- Casa, já! – Repete, virando-se completamente para mim com um sorriso nos lábios.

Pelos vistos faria, penso com um aperto no peito.

- Richard, reform...

- Stingy, casa! – Interrompe, apontando um dedo para a porta.

Sinto toda a minha raiva juntar-se rapidamente e em segundos sei que vou explodir. Não é apenas a forma como ele me está a tratar que me magoa e me deixa tão irritada. É a esperança que eu tinha a ser esmagada que me faz explodir. A esperança de que ele fosse diferente.

- Mas quem é que tu pensas que és? Achas que por causa de uma merda de uma aposta me podes tratar como um cão?! Eu não sou um cão! – Grito, dando um passo rápido e empurrando-o. – Eu sou uma pessoa! – Volto a empurra-lo. – Eu tenho sentimentos! Eu sou uma PESSOA!

Pouco a pouco sinto o meu corpo a ser invadido por tremores cada vez mais fortes, cada vez mais intensos – a minha respiração pesada e ofegante, os meus olhos marejados de lágrimas e uma careta de dor a mascarar toda a minha face. Sinto como se, por momentos, tivesse voltado a ser aquela miúda perdida; sem ninguém, sem nada.

Fecho os olhos, tentando desesperadamente impedir o meu corpo de saltar do precipício emocional em que se encontra e desabar por completo à frente dele.

- Yasmin... – Murmura.

Abro os olhos ao ouvi-lo pronunciar o meu nome. O Richard encolhe-se perante o meu olhar.

Uma lágrima escorre.

Abano a cabeça e corro para fora do apartamento do Steven para o meu, fechando de imediato a porta assim que entro.

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