Samandriel olhou bem fundo nos olhos do ser que acabara disparando contra o seu peito. O anjo viu um verdadeiro ódio escondido naquele olhar.
- Sabe – Disse o anjo – Essas suas armas nem mesmo causam dor.
Daniel abaixou a arma – Talvez isso resolva!
Os olhos de Samandriel arregalaram quando ele viu o que estava nas mãos do nefilin – Como você conseguiu a adaga das almas?
- E assim que vocês a chamam? – Daniel soltou um riso – Até onde eu sei ela pode matar anjos também, será que é verdade?
-Minha missão não envolve matar um nefilin, meu objetivo e acabar com o demônio que você está escondendo – Alertou o anjo.
- Missão? – Daniel estava confuso – você age como um verdadeiro soldado.
- E é isso que nós somos, soldados do senhor, guerreiros que lutam em nome do Criador!
- Parece que temos algo em comum – Daniel abaixou a adaga – Eu me considero um guerreiro também.
O anjo soltou um sorriso sínico – você luta contra o que?
- Contra qualquer coisa sobrenatural que ameaçar esse planeta.
- É um excelente discurso meu jovem, mas é para isso que nós anjos existimos, você não e nem de longe necessário.
Aquela frase entrou nos ouvidos de Daniel e o deixou atordoado por alguns momentos – Sabe, onde vocês estão quando um demônio invade a casa de uma família – Disparou de repente – Onde o exército celestial está quando uma mãe e possuída e afoga o seu filho em uma banheira? Acredite seu pomposo de merda eu sou mais necessário que você.
Samandriel ficou ali parado durante um tempo observando aquele ser a sua frente. Era tão diferente dos outros humanos, algo em seu olhar dizia isso, enquanto de uma outra forma era tão parecido com os "macacos pelados" – Sabe – Samandriel disse por fim – Não cabe aos anjos lidarem com questões tão pequenas. Deus tem planos maiores para nós.
- Deus? Planos? Eu acabei de escutar uma teoria bem interessante sobre isso – Daniel pegou a adaga mais uma vez – Um passarinho me contou que Deus não está nesse universo.
Daniel pode reparar no susto que o anjo tomou ao escutar aquela frase. Suas asas que antes estavam abertas e aplumadas caíram de maneira repentina e sua face ficou branca, reação que o nefilin nunca sonharia em associar com um anjo.
- E verdade então? – Daniel prosseguiu – O papai sai de casa e deixa os filhos no poder? Que bela administração seus irmãos estão fazendo na casa não é mesmo?
Samandriel mudou sua expressão mais uma vez. Agora o anjo estava vermelho de raiva e suas asas vibravam de uma maneira muito estranha – O que acha que você é para falar dessa forma comigo? Um mero erro do universo, um pequeno e frágil pecado angelical!
Os dois seres se olharam com expressões de fúria. Daniel sabia o que tinha que fazer em seguida. Pecando a adaga na mão direita o nefilin foi para cima do anjo com tudo, Samandriel por sua vez desviou o corpo para a esquerda segurando a mão direita do seu oponente e o girou jogando em direção a porta onde estava caído Inácio.
Daniel levantou rapidamente, porém ainda estava meio tonto e só pode ver, em uma fração de segundos, Samandriel bater suas asas brancas e aparecer na sua frente acertando um soco na boca do estomago. O nefilin gemeu e tentou revidar em um movimento com o braço de cima para baixo, o anjo desviou mais uma vez e de novo segurou o braço de Daniel e acertou três socos em sua cara.
- Minha missão não e você! – Alertou Samandriel com uma voz suave.
O nefilin por sua vez, aproveitou a brecha e segurou o anjo pela gola da túnica e o girou jogando na outra parede da casa.
" Essa força não é humana " – Pensou Samandriel.
O nefilin pulou para acertar um soco na face do anjo a sua frente e o mesmo só teve tempo de jogar o pescoço para a direita. O soco pegou em cheio na parede e abriu um buraco onde a mão de Daniel ficou enterrada. Samandriel aproveitou a oportunidade e agarrou no pescoço do nefilin com as duas mãos e com um simples bater de asas levantou voo para cima arrebentando o telhada da antiga casa.
Daniel não conseguia respirar e a ideia de estar tão alto também não era nada boa. Samandriel rodou o nefilin umas três vezes e começou a descer com ele em uma velocidade impressionante.
- Droga! – Você vai nos matar – Bravejou Daniel.
Samandriel soltou um sorriso e pouco antes dos dois colidirem contra o chão o anjo parou de maneira brusca soltando Daniel e fazendo ele rolar por todo o quintal.
Daniel tentou levantar, mas sentia dor em todo corpo, aquela não era uma batalha que ele poderia vencer. Ele tossiu contra o chão e reparou que Samandriel estava se aproximando – Seu filho da mãe – Disparou junto com uma tosse carregada.
Samandriel reparou que o nefilin estava com lesões em todo o corpo além de suas roupas todas esfarrapadas e o sangue que descia de sua cabeça – Acha que eu morreria com aquela queda? – Indagou o anjo enquanto se aproximava.
Daniel tentou dizer algo, porém a dor em seu corpo era muito forte.
- Agora irei matar o demônio que está em seu porão e minha missão terá terminado – Completou virando as costas.
- Apocalipse – sussurrou Daniel.
Samandriel virou em um só pulo – O que você disse? – O anjo arregalou os seus olhos castanhos de uma maneira assombrosa.
- Foi isso que o demônio disse – Daniel tentou se levantar e ficou de joelhos – você não sabia?
Samandriel olhou espantado – " nenhum humano levantaria depois de uma surra dessas " – Ele pensou e chegou mais perto do nefilin – Ele disse que o apocalipse começaria?
- Acho que já começou, como você não sabia disso?
" Como eu não sei disso? " – Se perguntou Samandriel. Ele era um dos principais soldados das forças do próprio Miguel Arcanjo e não sabia de quase nada. Aquelas palavras do nefilin fizeram o anjo caçador refletir por alguns minutos – Não me diz nada, eu só obedeço às ordens – O anjo se virou de novo.
- Você gosta disso? Ser apenas um cachorro de caça? – Daniel ficou de pé com muita dificuldade – Foi para isso que o Criador o fez?
Aquelas palavras entraram como um raio no peito do anjo. Ele fechou os olhos e levantou voo em direção a casa.
Daniel tentou ir atrás do anjo, porém caiu de joelhos mais uma vez. De repente tudo começou a girar e ele desabou em um sono profundo, aquele era o limite do seu corpo.
Samandriel entrou na casa pelo mesmo buraco que fez no teto. Ele olhou em volta e foi até o local onde o velho abade estava desmaiado e se ajoelhou encostando o dedo indicador na testa de Inácio – Você vai ficar bem – O anjo soltou uma risada.
Morte, isso era tudo o que Baldur queria. Todo o seu corpo estava estraçalhado e seu cérebro doía de uma maneira infernal por conta dos pregos que nele estavam enfiados.
" Maldito nefilin" – pensava Baldur – " poderia ter me matado de uma vez".
Os pensamentos do demônio foram interrompidos por passos que ele ouviu na escada.
- Voltou para terminar o serviço? – Gritou o demônio.
Quando Baldur olhou para o pé da escada viu a figura calma de Samandriel. O demônio tremeu de cima a baixo. E começou a se sacudir com o intuito de se soltar.
Samandriel achou aquela cena um tanto engraçada, e foi andando em direção de Baldur.
- Saia de perto de min! – Gritava o demônio.
Samandriel colocou as mãos sobre a cabeça do demônio – Minha missão termina aqui – sussurrou.
Baldur começou a sentir o cérebro ferver e logo depois todo seu corpo começou a entrar em combustão. O demônio gritou e em instantes só havia cinzas sobre a cadeira velha.
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Pandemônio
Ficção GeralDaniel é um nefilin no meio de uma guerra entre o céu e o inferno. Em meio ao apocalipse Daniel terá de enfrentar grandes desafios para encontrar resposta do seu passado e parar a guerra que pode levar a humanidade a extinção. Mesclando diversas cul...