Pandemônio

17 - Victor

Samandriel, Inácio e Daniel estavam sentados em torno de uma mesa de madeira no centro de uma cozinha apertada e com as paredes todas sujas de lodo.

- Acho que não tenho um café para oferecer a vocês – Disse Victor adentrando na cozinha e sentando em uma das cadeiras.

- Não queremos café – O tom de voz de Daniel demonstrava fúria.

Samandriel olhou de relance para Inácio. – Como ele sabe quem somos?

O velho Victor fez um leve movimento com as mãos demonstrando que iria explicar. – Sou um sensitivo anjo, posso sentir qualquer áurea... e identifico muito bem o que é humano, anjo ou demônio.

- Como ganhou essas habilidades? – Daniel agora estava curioso.

- Ele é um humano especial. – explicou Samandriel – No Éden, nós chamamos humanos assim de Extra-sensoriais. Essas habilidades aparecem por algumas mutações em suas almas. Muitos conseguem ler mentes, outros entortarem objetos, mas poucos conseguem distinguir áureas, é sua única habilidade?

- Consigo ver ceifeiros também. Facilita na hora de fugir da morte – Victor deu uma piscadela para Daniel.

- Você tem esses poderes desde sempre? – Indagou o nefilin.

- Sim. Eu nasci na Itália, minha família toda era católica e com meus quinze anos fui mandado para um colégio interno que tinha convenio com vaticano, quando eles souberam de minhas habilidades me treinaram e me deram todo os recursos para dominar completamente as minhas habilidades.

Samandriel se levantou e olhou mais profundamente nos olhos de Victor. – Por que está vivendo nesse local?

Victor deixou escapar um sorriso do canto de sua boca. – Vivo nesse local nada apropriado por causa das coisas que vi. Não e fácil trabalhar para o vaticano, eu vi coisas que só pensei que existiam no inferno, as vezes penso se não vi o próprio inferno muitas vezes. Mas eu resolvi sair mesmo depois do que houve em Emaús, éramos cinco não é Inácio?

O velho abade balançou a cabeça em afirmativa a pergunta do velho amigo.

No fim – Prosseguiu Victor – Só eu e o velho abade saímos de lá com vida. E eu quase esqueci do precioso livro das folhas. – O velho soltou uma risada trise enquanto olhava para Inácio.

- Precisamos de ajuda Victor – Comentou Inácio.

- Apocalipse não é?

Samandriel arregalou os olhos. – Como sabe?

- Sinto a vibração desse planeta mudar já tem mais de uma semana. Mas preciso que expliquem tudo melhor

- Explicarei – Disse Inácio – Só precisamos saber se o lugar e seguro.

Victor afirmou com a cabeça.

- Ótimo – Afirmou Samandriel – Mas precisamos de mais proteção, preciso lançar um feitiço no local. Existe algum lugar alto aqui?

Victor colocou a mão direita no bolso e tirou uma chave pequena e dourada. – Tome - Ele jogou – Suba as escadas até o fim.

- Eu vou com ele. – Disse Daniel saindo da sala atrás de Samandriel.

- Agora – Sorriu Victor – Me conte tudo velho amigo.

                                                                                    ...

Quando Samandriel e Daniel chegaram no topo daquele pequeno prédio de quatro andares conseguiram observar qual era a grandiosidade do centro do Rio de Janeiro.

Samandriel olhou em volta e soltou um pequeno suspiro. – Os humanos são realmente tão parecidos com o Criador.

Daniel que estava um pouco atrás do anjo abriu um sorriso – Você fala do dom da criação não é?

- Não e só isso, Vocês conseguem deixar a marca dele, eu posso senti-lo em cada pedaço de pedra que vocês empilham.

- Por isso abriu mão das suas asas brancas?

Samandriel fechou os olhos. – Exatamente. Eu acredito em você Daniel, Você é a verdadeira esperança da humanidade.

Daniel não queria pensar naquilo, ele estava cansado demais para aquilo. – O que você acha desse Victor?

- Inácio parece confiar nele, e Você confia em Inácio não é?

Daniel balançou a cabeça em afirmativa.

Samandriel abriu as duas asas cinzas e fez aparecer nas mãos duas esferas de luzes. – Para trás – Disse o anjo abrindo as duas mãos e murmurando algumas palavras em enoquiano.

Daniel pode sentir a áurea do local mudar, ele pode sentir que aquele não era mais um local comum.

Quando Samandriel terminou ele se sentiu meio tonto. – Merda de poderes – Sussurrou o anjo. – Não vai servir para sempre, mas para essa noite está perfeito.

Daniel deu uma volta em torno de si mesmo. – E em que isso vai ajudar?

- Demônios e anjos também tem poderes sensitivos, sem esse feitiço eles poderiam nos rastrear facilmente, e eu não quero receber a presença de Lúcifer e nem de Miguel hoje.

Daniel abriu um sorriso sínico. – Vamos descer então.

                                                                                 ...

Victor soltou uma gargalhada histérica. – Vocês estão sendo perseguidos por anjos e demônios?

Inácio balançou a cabeça em afirmativa. – Por isso vim até aqui, suas habilidades podem ser uteis.

- Seu velho oportunista – Riu Victor. – E onde está o livro das folhas? Espero que você tenha guardado aquela maldição por todos esses anos.

O velho abade abriu a batina e tirou o livro de capas vermelhas e colocando sobre a mesa. – Acho que ele será útil nessa guerra.

Daniel e Samandriel entraram na sala nesse momento.

Victor olhou para os dois com um olhar de suspeita. – Por quanto tempo pretendem ficar aqui?

- Três dias apenas. – Disse Samandriel – É o tempo que preciso para treinar o Daniel.

O nefilin arregalou os olhos. – Eu preciso de treinamento?

- É claro que sim – Disse Inácio com um sorriso no rosto.

- Ótimo – Respondeu Victor – Vocês podem conta comigo.