Capítulo 4 - Carona

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Nós andamos por cinco minutos pela mesma rua que eu vim. Ainda estávamos longe de casa, mas Joaquim já estava reclamando do quanto ele estava com fome, e do quanto ainda iriamos demorar pra chegar.

- Julie, estou com fome. Estamos perto?

- Ainda não. - respondi, sem tanta paciência.

Não tínhamos chegado nem na minha escola ainda, e aquela rua estava começando a me dar medo. Ela tinha muros de um lado e outro cercando grandes sitios, que deixavam escapar galhos de suas árvores, que para o nosso alívio faziam sombra para nós em pleno sol de uma hora da tarde. Andamos mais um pouco até que um carro parou ao nosso lado. Era Benjamim.

- O que está fazendo aqui? - perguntei, já achando que ele estava nos perseguindo.

- Bom, essa rua é caminho para a minha casa, sabe? - disse educadamente.

Suspirei e continuei andando, arrastando Joaquim.

- Eu passei em uma lanchonete, e comprei lanche, imaginei que o Joaquim estivesse com fome também. Ele passou tanto tempo esperando você.- ele suspirou, e por fim, continuou. - E além do mais, essa rua não é muito segura, e com "todo esse talento" que você tem para defesa pessoal, achei que precisariam de alguém pra levar vocês pra casa em segurança.

- Mas já estamos chegando em casa, não precisamos de carona.

- Mentira! Ainda estamos muito longe de casa. - Joaquim falou, recebendo imediatamente um olhar de reprovação.

- Eu sei pequeno. Não existem casas em um raio de dois quilômetros por aqui, com exceção de alguns condomínios em construção, e das lojas, e... Ah, qualé Ju, é só uma carona.

"Ju"? Um alerta de garoto folgado soou loucamente em meu cérebro.

- Por favor! - meu irmão implorou, usando sua melhor cara de criança fofinha... e aproveitadora.

Eu não queria ir, mas não havia escolha. Era melhor entrar no carro do estranho maluco chamado Benjamim do que ir sozinha naquela rua com meu irmão.

- Tudo bem, vamos Joaquim.

Meu irmão vibrou de alegria e nós entramos no carro. Benjamim abriu a porta de trás para que meu irmão fosse ao lado de Vivi e a porta do carona para mim.

- Senhorita. - disse cordialmente, indicando o banco para que eu pudesse sentar.

- Obrigada. - falei entredentes.

Ele entrou no carro, mas antes de colocá-lo em movimento pegou uma sacola no banco de trás, onde estava o lanche: hambúrgueres e refrigerante. Benjamim distribuiu para meu irmão e para Vivi, e me ofereceu, mas só aquele cheiro já me deixava tonta.

- Eu não quero, obrigada.

- Por quê? Você é vegetariana?- perguntou parecendo realmente interessado.

- Não. - respondi sem olhar pra ele. - Eu só não quero comer. É só isso.

- Tudo bem. Ninguém vai te obrigar a comer. Mas esse hambúrguer está um delícia. - disse, tentando fazer um aviãozinho com o hambúrguer, para me convencer a comer. Eu quase ri. Quase.

- Julieta não come. - Joaquim disparou me fazendo ficar vermelha de vergonha.

Por alguns segundos Benjamim ficou me encarando, com seus olhos verdes desconcertantes.

- Podemos ir logo com isso, por favor? - implorei tentando conter as lágrimas.

Então ele arrancou com o carro, sem dizer nada.

***

Benjamim colocou uma música para tocar. E eu gostei dela.

Teu amor não falha.

Nunca tinha ouvido falar daquela música, mas ela era bonita.

Nada vai me separar
Mesmo se eu me abalar
Teu amor não falha

Por mais que eu quisesse me concentrar na estrada, aquela letra me chamava. Eu não entendia o porquê. Mas, não resisti e passei a ouvi-la atenciosamente, mesmo que algumas partes da letra me parecessem bem estranhas.

Mesmo sem merecer
Tua graça se derrama sobre mim
Teu amor não falha

Tu és o mesmo pra sempre
Teu amor não muda
Se o choro dura uma noite
A alegria vem pela manhã

Se o mar se enfurecer
Eu não tenho o que temer
Porque eu sei que me amas
Teu amor não falha

Se o vento é forte e profundo o mar
Tua presença vem me amparar
Teu amor não falha

Difícil é o caminhar
Nunca pensei que eu fosse alcançar
Mas teu amor não falha

Teu amor não falha. Fiquei com essa frase na cabeça, ainda que aquela música já tivesse acabado e outra com o ritmo mais rock'roll estivesse tocando.

- De que tipo de música você gosta Julieta? - Benjamim perguntou quebrando o silêncio confortável que se formara.

- De rock. Era o que eu mais ouvia com o meu...

Interrompi minhas próprias palavras, apesar dos anos eu não lidava de forma saudável com a morte de meu pai, mais pelo que acontecera depois do que pelo acidente propriamente dito.

- Com seu ex-namorado? Por isso você é tão triste? Vocês terminaram quando teve que vir embora pra cá?- ele perguntou invandindo meu espaço com tantos questionamentos, mas sem usar um tom curioso, não, ele falava calmamente, como se fosse psicólogo tentando entender o problema de um paciente.

Me apressei em responder.

- Não eu não tenho namorado, nem ex. Eu iria dizer com meu pai, nós ouviamos muita música juntos. - um pequeno sorriso brotou em meus lábios ao lembrar das manhãs em que eu ia para o atêlier e o ajudava com seus trabalhos manuais, ao mesmo tempo que nos divertíamos ao som de nossas bandas preferidas.

Iria falar sobre o que havia acontecido com meu pai, contudo, eu ainda não estava totalmente à vontade pra contar sobre isso, ainda mais para um completo estranho/maluco/gentil. Então, tratei de mudar de assunto com rapidez.

- Só uma dúvida, como você sabe que nós nos mudamos pra cá, e pra onde pretendia levar meu irmão?

- Duas dúvidas. - ele me corrigiu com um sorriso amigável nos lábios.

- Que seja. - eu disse revirando os olhos. - Responde logo.

O que falei soou mais irritado do que eu gostaria, mas Benjamim parecia se divertir com isso.

- Nossa, você é um poço de delicadeza. - falou em um tom sarcástico.

- Pois pode apostar que esse poço é fundo e tem subsolo. - falei, impaciente, mas por dentro... Estava me divertindo.

Ele gargalhou, e respondeu minha pergunta. A resposta não poderia ter sido pior.

- É simples.

- É?

- Nós somos vizinhos.

Ótimo, sir Benjamim, moraria bem pertinho de mim.

***
E aí pessoas? O que acharam do capítulo??? Preciso saber a opinião de vocês sobre o desenrolar da história, os personagens que mais gostam, os que vocês destestam, como a Monique haha, em fim, e quen quiser, pode deixar sugestões de canções pra compor a trilha sonora do livro! Legal né?
E por último, eu quero dedicar esse capítulo a minha (super) amiga Melissa, que leu esse capítulo antes de eu publicá-lo e me deu sua sincera opinião sobre o que eu havia escrito, obrigada Mel ❤
Beijos, até o próximo capítulo!

Encontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora