Capítulo 18 - Pânico

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O lugar onde eu estava não tinha luz. Cheirava mau, e aquilo me dava nauseas, não conseguia me mover.

- Julieta, Julieta. Hoje é nossa noite.
Senti mãos acariciando meus cabelos, e me esquivei. Parecia que tudo estava acontecendo de novo. Tudo que eu havia vivido com Alex estava se repetindo.

- Quem está aí? - gritei, já em desespero.

- Não se preocupa agora, você descobre isso mais tarde...

- Me deixa sair daqui! Alex, é você?! Porque está fazendo isso comigo de novo? Já não me fez sofrer o bastante?

- Alex?- perguntou, soltando uma risada sem graça.- Eu sou muito pior que ele...

Eu comecei a chorar e me debater tentando me livrar do que quer que estava me prendendo, mas não haviam cordas ou correntes! Mesmo assim eu não conseguia me livrar daquele homem, daquela sensação de incapacidade. Eu fechei os olhos, e mesmo com medo, me entreguei aquele momento, eu não tinha o que fazer. Fechei os meus olhos e esperei que aquilo acabasse...

- Ela está acordando. - ouvi uma voz distante dizer.

- Graças a Deus! - Benjamim falou. - Julie, fala comigo.

Aos poucos a luz invadiu minha escuridão e o primeiro rosto que vi foi o de Benjamim, sorridente, porém cansado. Fora tudo um sonho, de novo. Comecei a realmente considerar a hipótese de recomeçar a psicoterapia...

Nos primeiros segundos que tive de consciência senti uma forte pontada de dor na nuca.

- Ai, ai, ai! - gritei de dor.

- É melhor que ela volte a dormir.- uma enfermeira falou. - Vou pegar um calmante para ela.

- Não! Eu não quero voltar para aquele lugar! Não quero ficar com ele lá! - gritei, com as lágrimas quase alcançando os meus olhos. - Eu não quero voltar a dormir. Benjamim, não deixa eles me colocarem pra dormir, por favor!

O garoto veio até mim e me abraçou de forma fraternal.

- Ninguém vai te colocar pra dormir, Julie. - falou mexendo em meus cabelos. - Fica calma. Mas o que te assusta tanto?- ele perguntou, agora olhando em meus olhos.

Eu desconversei. Não iria contar sobre o que aconteceu comigo.

- Ham, é... Foram esses garotos, eles me deixaram apavorada, fiquei com medo do que eles poderiam ter feito com Monique. É, foi isso. - eu disse, era uma meia verdade, não é?

- Tem certeza que não quer contar mais nada? Foi isso mesmo, Julie?

- Foi, foi isso

- Porque os médicos disseram que você realmente estava muito alterada, não só pela pancada que recebeu do amigo de Higor, e que isso seria proveniente de um trauma que você já tinha. Eles estão certos?

Eu pensei muito no que responder, mas acabei falando a verdade.

- Estão. - eu disse, relutante. - Mas eu não quero falar sobre isso, por favor não me pergunte nada sobre isso.

- Ei calma, não vou te obrigar a falar, mas se um dia você quiser desabafar, sabe que pode contar comigo. - ele falou, segurando minha mão entre as suas. - Quero que você fique bem. Nós temos grupos de apoio na igreja e se você quiser ir... Se não quiser ir sozinha a Layla pode te acompanhar, ou eu mesmo, se você se sentir a vontade...

- Eu não quero ir, Benjamim. Não quero falar com ninguém sobre isso! - falei me afastando dele.

- Desculpa, Julie. Eu não vou insistir, tá?

***

Já era madrugada quando os médicos me liberaram para ir pra casa. Fizemos o caminho todo em silêncio, eu não perguntei nada sobre o que havia acontecido com Monique e os outros, e Benjamim não me fez perguntas sobre o meu passado ou sobre a festa. Ele parou o carro e eu desci rapidamente.

- Obrigada, Benjamim.

- Por nada, eu que tenho que agradecer. De verdade, muito obrigada, Julie. Estou te devendo mais uma.

Dei um sorriso fraco e fui em direção à minha casa. Mamãe estava me esperando na sala com Joaquim no seu colo.

- Julie! Como você está?

- Eu estou bem. Foi só um susto, não precisa se preocupar.

- O que você foi fazer em uma festa? Você saiu daqui pra ir na igreja!

- Mãe, eu fui ajudar uma amiga. Por favor, eu não quero discutir agora. Estou com fome.

- Tem comida pra esquentar. Vamos pra cozinha.

- Vamos.

Mamãe deixou Joaquim cuidadosamente no sofá e trancou a porta da sala, então fomos para a cozinha. Eu sentei e ela colocou a comida pra esquentar.

- O Romeu ligou.

- Ligou? Que horas?- perguntei, curiosa.

- Depois que você saiu. Eu disse que você tinha ido à igreja com um amigo, primeiro ele surtou porque eu deixei que você saísse com um garoto que mau conhecemos e depois ficou feliz porque vocês foram pra igreja.

Eu ri de um jeito amargo, gostaria que meu irmão tivesse sido protetor desse jeito antes de tudo aquilo ter acontecido, agora toda essa preocupação me parecia muito inútil, afinal, o que mais poderia acontecer comigo?

- Você quer mais arroz? - mamãe perguntou.

- Não, assim tá bom. - falei, pegando o prato e uma colher.

Comecei a comer, tentando evitar ao máximo o olhar de minha mãe.

- Você está bem mesmo? Benjamim falou que os médicos disseram que você teve um ataque de pânico. Nós duas sabemos que foi por causa do que Alex fez com você. Não acha que está mais que na hora de voltar a ir no psicólogo?

Não. Não. E não. É óbvio que não.

- Eu não acho que seja necessário, eu estava exposta a uma situação de perigo, é normal sentir medo. Por que a senhora não pára de tentar agir como se o que aconteceu fosse algo simples? NÃO É SIMPLES, É COMPLICADO! E DOLOROSO. DÓI ATÉ HOJE MÃE, DÓI COMO SE EU ESTIVESSE SENDO ESMAGADA. - falei, num tom mais elevado do que gostaria. - Mas você não entende isso. Você não entende porque não foi com você.

- Não seja injusta, Julie. Só Deus sabe o quanto eu sofro com isso e o quanto me culpo. Só que eu quero que você melhore, sei que não é fácil, mas temos que fazer algo! O Benjamim falou que em sua igreja existem grupos de apoio. Quem sabe você não poderia ir?

- Que droga! Eu não quero envolver mais pessoas nisso aqui! Por favor, eu vou resolver isso sozinha!

Saí da cozinha sem terminar a comida, subi para o quarto e deitei, mas para meu alívio, eu não dormi. Me mantive acordada por um bom tempo, mas acabei sendo vencida pelo cansaço.

***
E aí pessoal? Como vocês estão? Acharam que eu tinha tomado chá de sumiço, né? Bem, foi quase isso. Existem vários motivos para que esse capítulo tenha saído só agora
1. Acho que tive um começo de bloqueio criativo ( e a inspiração só voltou ontem)
2. Fiquei sem internet e ela só voltou hoje.
3. Estive ocupada trabalhando (porque não tá fácil pra ninguém)
Mas aqui está o capítulo, espero que vocês tenham gostado! Não esqueçam de votar e dizer o que estão achando da história, tá?

P.S: Vou tentar com todas as minhas forças não atrasar o próximo! Ah, e pessoal muito obrigada pelo carinho de vocês com a história, isso tá me fazendo muito feliz ❤❤❤


Encontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora