Capítulo 22 - Delegacia

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Não importava o que eu falasse, eu teria que provar que aquela droga não era minha. Minha fala já estava se tornando repetitiva, porque eu não tinha o que contar.

- Se você não entregar seus amigos vai levar a culpa disso tudo sozinha.

- Mas quantas vezes eu vou precisar dizer que eu não tenho absolutamente nada a ver com isso?

- Calma, Julie. Me deixe resolver isso. - Benjamim pediu.

- Tudo bem.

- Eu gostaria que os senhores se dispusessem a trabalhar com a hipótese de que alguém escondeu essas drogas na bolsa de Julieta sem que ela mesma soubesse.

- Mas quem? - o diretor perguntou,  pensativo.

- Essa é a real investigação que a polícia tem que fazer. - Benjamim falou.

- Você pode ter razão. - o policial gordo falou.

- Mas, de qualquer forma, por precaução, temos que levar a garota para a DCA. Eram muitas drogas naquele pacote.

Eu senti as lágrimas e o desespero tomando conta de mim novamente.

- Mas eu não fiz nada...

- Por favor, vocês não podem fazer isso com a Julie! - Benjamim pediu.
- Não podemos fazer nada. Vamos senhorita Julieta.

- Não! Benjamim, por favor, não deixa eles me levarem.

- Julie. Eu vou fazer tudo pra te tirar de lá, eu dou a minha palavra.
Eu chorei, mas tive que acompanhar os policiais até a DCA.

***

Na DCA eu me senti ainda pior. Como se eu fosse uma criminosa de verdade, mas aí eu parei de gritar, parei de tentar explicar para os policiais uma coisa que eles não queriam saber e fiquei sentada com a cabeça no ombro de Benjamim sem dizer uma palavra. A única coisa que eu realmente tentei, foi repassar em minha mente todos os momentos do meu dia, tentando encontrar alguém suspeito, mas nada fazia sentido na minha mente confusa.

- Julie, sua mãe está vindo pra cá. - Benjamim falou.

- Minha mãe vai acreditar em mim.

- Escuta, eu não vou poder ficar, tá? Não sou oficialmente da sua família, mas você sabe que pode contar comigo, eu vou conversar com meu pai porque ele é advogado, então talvez dê alguma ideia sobre como te tirar daqui. O diretor também pode ajudar. - ele disse acariciando meus cabelos. - Vai dar tudo certo, Julie.

***

Minha mãe chegou fazendo barulho, o que não me ajudou em nada, tudo pela falta de provas. Porque tudo apontava contra mim.

- Isso é uma bela de um injustiça! Tanto delinquente de verdade solto por aí e vocês querem prender a minha Julie?! Isso é um absurdo!

- Senhora, acalme-se. - o delegado pediu. - Não podemos fazer nada. As drogas foram encontradas na mochila de sua filha. As evidências são claras.

- As evidências apontam para uma armação! O senhor claramente não sabe que sábado minha folha salvou sua amiga de um estupro. E que as pessoas envolvidas nisso seriam muito capazes de fazer algo assim com a minha Julie.

Mamãe levantou uma questão importantíssima. Uma armação feita pela turma de Higor. Era bem possível.

- A senhora tem como provar o que diz? Essa é uma acusação muito séria.

- Acusação séria é dizer que a minha filha que nunca nem colocou um cigarro na boca estava com drogas na escola. Ela não vai ficar aqui!

- Eu não tenho interesse nenhum em ter mais um adolescente desocupado aqui. O que eu queria mesmo é que ela estivesse na escola buscando um futuro diferente.

- Mas... - eu tentei dizer que era exatamente isso que eu estava fazendo.

- Julie. Deixa o delegado terminar.

- Eu tenho uma proposta a fazer. Eu posso deixar a senhorita Julieta sair, com a condição de cumprimento de uma espécie de medida sócio educativa provisória, enquanto nós realizamos essa investigação. Estou te dando, por minha conta o benefício da dúvida senhorita Julieta. Vamos procurar uma instituição de caridade que esteja precisando de voluntários, por um período de um mês.  Se sua inocência for provada, você fica livre, mas se não, você ficará reclusa, pelo tempo que for necessário.

Eu bufei, mas era melhor que nada.

- Eu conheço uma instituição que precisa de ajuda. - Benjamim falou. - É uma casa de apoio à crianças e adolescentes com câncer. Trabalho lá três dias na semana. Posso supervisionar a Julie.

- Ok, mas preciso de comprovação de que ela vai estar na instituição todos os dias e vai cumprir toda toda a carga horária necessária... - o delegado parou e depois de cinco segundos de silêncio voltou a falar. - Vocês estão cientes do quanto isso foi grave não é? Isso envolve outras pessoas, uma grande rede de tráfico. Eu estou arriscando meu pescoço por liberar você, mas... Eu não sei o porquê, mas estou inclinado a acreditar em sua inocência.

- O senhor não vai se arrepender. - minha mãe falou, com a expressão mais suave.

- Eu preciso que vocês tragam até amanhã esse formulário referente à instituição, para que eu possa adicionar na pasta do caso da senhorita Julieta.

- Tudo bem. - falei.

- Agora, a senhora assina aqui, e pode levar sua filha embora.

Minha mãe assinou os papéis e nós saímos da delegacia com um misto de alívio e preocupação.

- Espero que consigam provar minha inocência. - falei.

- Vão conseguir. - Benjamim falou. - Se vocês quiserem podemos ir na instituição agora.

- Eu gostaria de ir, o que você acha mãe?

- Escuta aqui Julieta, se você estiver acobertando alguém e eu descobrir, nem sei o que faço com você, nem com essa pessoa. Está avisada! - ela disse em tom severo. - Acho melhor eu não ir. Preciso voltar ao trabalho. Você cuida dela por mim, Ben?

- Com certeza, pode deixar.

Dei um abraço em minha mãe e entrei no carro com Benjamin.

- Obrigada por tudo. - falei, quando entramos.

- Eu estava te devendo, lembra? Mesmo assim, somos amigos, e eu acredito em você, Julie. Em todos os sentidos. Acredito na sua inocência... Sei que você já passou por situações difíceis, mas eu acredito que você vai superar e ter uma vida feliz. - ele falou, sorrindo pra mim de um jeito contagiante.

Eu sorri para o sorriso de Benjamim e tentei ao máximo assimilar a verdade naquelas palavras.

- Eu quero muito acreditar em você. - disse, e me vi saltando para dar um abraço apertado em Benjamim.

Encontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora