O chão sumiu dos meus pés e um bolo se formou no estômago. Eu não conseguia nem pensar no que falar.
- Julie, eu não vou contar pra ninguém. Deus me livre! Eu jamais faria uma coisa dessa.
Eu continuei calada. De cabeça baixa, evitando olhar para ele.
- Eu preciso respirar um pouco. - falei, por fim.
- Julie, eu não queria ser indelicado, me desculpe.
- Tu-tudo bem, eu é que não consigo conversar sobre esse assunto ainda.
Me sentei na cadeira ao seu lado, atordoada e ainda sem conseguir encará-lo. Senti sua mãe afagando minhas costas.
- Eu sinto muito por tudo que aconteceu. Sinto muito mesmo.
- Obrigada. - falei. - Por favor eu não quero falar disso...
O professor entrou na sala me interrompendo, o que, mentalmente, eu agradeci muito. Sam sentou-se e eu me concentrei o máximo que consegui na aula.
Mas eu não conseguia me desligar da ideia de que ele sabia sobre o que havia acontecido, e de como isso podia me afetar de verdade. Era como se o passado pudesse voltar... Os comentários, os olhares maldosos, o julgamento das pessoas me acusando de ter seduzido Alex. Eu não poderia suportar tudo aquilo de novo. Não mais.
Um cutucão de Sam me tirou dos meus devaneios. Ele me passou um pequeno bilhete.
"Cara Julieta,
Podemos simplesmente fingir que eu não sei de nada, se melhor lhe parecer. ;)
Sam."Acho que não ia funcionar, mas me limitei a dar um sorriso fraco em sua direção.
***
A primeira aula terminou, mas eu não quis sair da sala, não estava com fome. Sam saiu sem falar comigo e depois de alguns minutos Monique veio e insistiu para que eu fosse com ela ao refeitório.
- Vamos Julie. Hoje é segunda feira, as comidas estão fresquinhas. - ela argumentou.
Havia um boato na escola de que os restos da segunda-feira eram usados no cardápio durante toda a semana.
- Eu não estou com fome, Monique.
- Pois vem só pra me acompanhar. Eu não tenho mais ninguém pra sentar comigo no refeitório, sabe? Meus amigos, ou melhor, ex-amigos estão pegando pesado comigo depois que o Higor ficou na cadeia. Por favor! Não quero ficar sozinha.
- Ah, tudo bem! Vamos.
Saí da sala e quase esbarrei na filha do diretor Aurélio, que estava carregando um pacote marrom nas mãos e se assustou quando me viu.
- Desculpa. - falei.
- Tudo bem. - ela disse.
Seguimos para o refeitório e eu esperei que Monique comesse seu sanduíche.
- Está... Bem gostoso. Quer um pedaço?
- Não, obrigada. - falei, observando como ela parecia tensa.
- Julie.
- Oi.
- Tenho que te dizer, muito obrigada tá? Nem sei o que teria acontecido se você e o Sam não tivessem me ajudado.
- Não foi nada, o Sam foi quem fez tudo. Ele é louco por você, sabia? Por isso fez tudo aquilo. Se arriscou pra te salvar.
- O quê? O Sam? Tá falando sério? Aquele gatinho da sua sala? Mas ele é tão novinho.
- Monique! Ele é só um ano mais novo que você. Sua louca!
- Ele não dá certo comigo, daria certo pra você, não acha? Não... Quer dizer, pra você eu sei bem quem daria certo. Sei mesmo.
Eu dei risada.
- Ah é? E quem é então?
- O meu irmão, claro! - ela disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Dessa vez eu gargalhei.
- Haha, claro que não! Seu irmão é quase meu irmão.
- Desculpa Julie, mas uma coisa que ele não é, é seu irmão. Sério, vocês dois dariam super certo. Eu nunca tinha visto o Ben tão feliz quanto esteve depois que te conheceu. Todo entusiasmado com você.
- Não tem nada a ver, você tá viajando! Eu sou uma criança pro Benjamin. E eu não estou interessada. Nesse momento eu tenho outras prioridades.
Monique me encarou, incrédula. Mas eu estava falando sério, um garoto em minha vida estava fora de cogitação, mesmo que ele fosse íntegro e digno de confiança como Benjamin era.
- Estou falando sério. - eu disse, com convicção.
- Tudo bem, senhorita. - ela disse erguendo as mãos.
- Agora vamos, falta pouco pro sinal tocar. - chamei, e por um segundo eu vi o semblante de Monique mudar completamente, mas não durou muito.
- Claro, vamos. - ela disse, levantando.
Me despedi de Monique no corredor e entrei na minha sala.
Sentei, e vi um a um dos alunos ocupando novamente as cadeiras, mas antes que a professora pudesse começar a dar aula, o diretor Aurélio entrou na sala juntamente com dois policiais, um grande e gordo, e o outro forte e com cara de malvado.
- Desculpe pela interrupção professora, eu nem sei como falar isso...
O diretor suava, e a forma como ele se comportava instaurou o nervosismo em todos nós. Eu pensei que tivesse a ver com o que havia acontecido no sábado.
- Nós recebemos um denúncia anônima de que alguém dessa turma está com drogas na mochila.
O burburinho tomou conta da sala. Eu fiquei apenas pensando em quem na nossa turma seria capaz disso e sinceramente, não consegui achar ninguém que pudesse sequer chegar perto de ser um suspeito.
- Calma, por favor! Não queremos fazer alarde. Se todos colaborarem vai ficar tudo bem, e eu espero realmente que seja uma denúncia falsa. Agora, por favor, todos com as mochilas em cima da carteira.
Eu coloquei minha mochila em cima da cadeira e nem me preocupei em verificar ou não, porque, afinal, eu não estava com drogas na escola. Quero dizer, em lugar nenhum. Lugar nenhum mesmo. Mas por algum motivo eu estava nervosa, provavelmente por conta da presença dos policiais.
Um a um dos alunos foram revistados, até aquele momento ninguém tinha sido encontrado como culpado. E então, chegou a minha vez.
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Encontro (COMPLETO)
SpiritüelLivro 1 "Você pode não entender o porquê, mas o pra quê vai te fazer sorrir!" Sonhos e pesadelos entraram na rotina das noites de Julieta. Desde que perdeu o pai, a garota é tomada pela vontade de ter morrido junto com ele e o arrependimento de ter...