Um mês depois
Eu demorei quase um mês para ler os diários, porque eram cinco e iam desde os dez até os treze anos, quando tudo de ruim havia acontecido em minha vida. Eu me arrependi de ter aberto aquelas páginas, aliás, arrependimento é um sentimento que me persegue há tempos...
Depois daquele dia em que eu descobri a traição dos meus amigos e sai pra encontrar Alex eu nunca mais escrevi no diário e dei graças por isso, já que o que viria a seguir eu não queria lembrar nunca mais.
Mesmo assim, tudo que eu passei enquanto estive com Alex me assombra toda noite. Aquele rosto, suas mentiras, suas mãos sobre o meu corpo, forçando uma relação que eu não pensava em ter com ninguém tão cedo... Eu lembrava de tudo. Do cheiro que ele tinha. Do que ele disse. De tudo mesmo e era isso que me deixava mal, ainda mais ao pensar no fato de que ele ainda está solto por aí, provavelmente machucando outras garotas ingênuas como eu...
- E então Julie, o que você tem pra me dizer? - mamãe me perguntou com um olhar inquisitivo.
- Sobre o quê? - perguntei tendo meus pensamentos interrompidos por suas mãos, que se mexiam freneticamente na frente do meu rosto.
- Como sobre o quê? Sobre os diários. Julieta, você não ouviu uma palavra do que eu disse, não é?
Mamãe suspirou e levantou-se pegando nossos pratos e indo em direção à pia.
- Claro que eu escutei. E os diários são meus. Eu nunca quis que você ficasse com eles. São íntimos, são meus.
- Julie, a questão é que se aquele monstro for preso, vamos precisar do seu diário, serve como prova sabia?
Eu já tinha perdido as esperanças. Já havia completado três anos tanto da morte do meu pai como do que Alex fizera comigo, todo esse tempo e esse homem não havia sido localizado. Não iriam mais encontrá-lo, mas eu não queria falar disso com minha mãe, ela ainda tinha a esperança de um dia ficar cara a cara com ele.
- Se um dia encontrarem ele, eu devolvo os diários pra você, até lá eles ficam comigo.
- Caso não lembre a mãe aqui sou eu. - ela disse tentando soar divertida, mas não funcionou.
Revirei os olhos e me levantei da mesa e subi para o meu quarto. Ainda eram oito da noite, então fiquei na janela observando o pouco movimento que tinha na rua. Até que o carro de Benjamim estacionou em frente a sua casa, e ele desceu acompanhado de mais quatro pessoas, duas garotas e dois garotos que conversavam animadamente. Eu fiquei observando e eles pareciam ser bem felizes. De repente o olhar de Benjamim encontrou o meu, e eu o encarei por alguns segundos, mas quando eu ia desviar o olhar e fechar a janela ele me chamou.
- Julie! Desce aqui!
Ponderei por alguns segundos, mas desci e fui encontrá-lo com seus amigos.
- Pra onde você vai? - mamãe perguntou quando passei pela sala, onde ela estava assistindo o jornal com Joaquim no colo.
- Vou falar com o Benjamim aqui na frente.
- Ah sim.
Parecia que pra mamãe "Benjamim" era uma palavrinha mágica, ela gostava dele, na maior parte do tempo porque os vizinhos sempre mandavam delícias como lasanhas, mousses e derivados, e ele ainda nos dava carona e fazia favorzinhos pra ela, eu só não entendia o porquê ele perdia o seu tempo com isso, mas, de fato Benjamim era um garoto muito agradável, de conversar, de estar perto, e aos poucos a gente ia se entendendo, eu diria... diria que ele tem luz própria, não que eu acreditasse nesse tipo de coisa, mas Benjamim era diferente.
Eu abri a porta e ele veio correndo ao meu encontro.
- Vem, Julie. Quero te apresentar para uns crentes legais.
Durante as caronas, a gente conversou, e como ele me convidava pra ir à igreja e eu nunca aceitava, contei pra ele sobre o incidente com Marcela e expus todo meu descontentamento com os crentes, achei que ele iria se afastar depois que eu disse com todas as letras que EU ODIAVA CRENTES, mas ele só deu um sorrisinho e nunca mais largou do meu pé. Isso era estranho, ele colou em mim mais do que antes, era que nem um irmão mais velho, só que mais bonito.
- Benjamim, não sei se essa é uma boa ideia.
Mas ele não me ouviu. E me apresentou para os quatro. Hannah, que era descendente de judeus, o seu namorado Bruno, Layla e seu irmão Pedro.
- Essa é a Julie, a menina mais delicada que já conheci. - ele disse rindo e levando todos os outros as gargalhadas, eles já pareciam estar cientes da amizade conturbada que nós dois tinhamos.
- Oi. - falei timidamente.
E eles me responderam muito animados.
- Prazer, Julie. - cada um falou a sua vez.
- Você é mais bonita do que o Benjamim falou. - Pedro disse me fazendo passar de vela a pimentão em segundos.
- Obrigada. - falei baixinho.
Conversamos sobre várias coisas e eu pude perceber a forma diferente que eles falavam sobre tudo desde o assunto mais banal até coisas mais importantes.
- E então Julie, está gostando da cidade? - Pedro perguntou.
- Um pouco.
- Julieta não gosta muito das coisas. - Benjamim falou. - Nem das pessoas. - ele completou.
- Ah, sério? A vida é tão bela. Pessoas são tão legais. - Pedro falou com animação.
Queria ter fuminado Benjamim com o olhar, mas eu precisava discordar de Pedro.
- Sinceramente, eu não acho. Pessoas são malvadas e usam as outras. Pessoas mentem e enganam. Pessoas ferem as outras sem dó. - falei, demonstrando mais do que eu queria sobrem mim mesma.
Os cinco me encararam quase que espantados e Benjamim foi quem quebrou o silêncio.
- Dá pra imaginar que mesmo assim tem um Deus que ama a gente? - disse passando o braço por cima do meu ombro, me abraçando.
Eu sorri. Ele sabia exatamente o que falar, e a hora certa de me abraçar. E de alguma forma ter ouvido que existe um Deus que me ama mesmo eu sendo eu foi reconfortante, mas ao mesmo tempo eu não consegui lidar com a ideia da existência de um Deus que amasse um garoto amável e prestativo como Benjamim e um homem sem escrúpulos como Alex. Pra mim parecia impossível.
***
Gente, quase não sai o capítulo, mas para a glória de Deus saiu \0/
Desculpem a demora, mas estive ocupada com o congresso da Igreja, que aliás, foi muito bom!
Agora me contem, o que estão achando, parece que agora Julieta arranjou uma boa influência né? Vamos ver se ninguém vai atrapalhar essa amizade. Tem muita coisa ainda pra acontecer então é #aguentacoração.
E pessoal, vocês viram??? Estamos de capa nova, feita pela linda (maravilhosa, talentosa, amiga, super, chique) da San Crys em comemoração a nossa marca de 1K \0/. Mais linda ainda do que a outra eu achei, e vocês o que acharam? Me contem aí e não esqueçam de votar se gostarem do capítulo! Beijos, Deus abençoe vocês! ❤❤❤
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Encontro (COMPLETO)
SpiritualLivro 1 "Você pode não entender o porquê, mas o pra quê vai te fazer sorrir!" Sonhos e pesadelos entraram na rotina das noites de Julieta. Desde que perdeu o pai, a garota é tomada pela vontade de ter morrido junto com ele e o arrependimento de ter...