Eu não entendi nada do que aconteceu. Não sabia nem o que pensar, quando os policiais tiraram um pacote carregado de crack de dentro da minha mochila.
- Julieta... - o diretor falou com a voz cheia de decepção.
- Eu não sei como isso veio parar aqui. Eu realmente não sei... - falei, já com os olhos marejados e a cabeça rodando, tentando entender o que era aquilo.
Olhei em volta buscando alguém que pudesse falar em meu favor, mas todos estavam apenas me encarando com espanto. Olhei para Sam, e ele parecia tão assustado quanto eu.
- Isso só pode ser um grande engano. - ele se levantou e disse. - A Julie jamais faria uma coisa dessas. Isso é impossível.
- Não se envolva nesse caso, Samuel. - o policial gordo falou. - Investigar isso é trabalho pra polícia.
- Vamos conversar melhor na sala do professor Aurélio, senhorita. Precisamos da presença de um responsável.
A ficha ainda não tinha caído. Eu nem tive tempo pra processar tudo, eram tantas perguntas! Por que aquilo estava acontecendo comigo? Quem tinha colocado as drogas em minha bolsa? Por quê? E quando?
Fui conduzida até a diretoria pelo diretor e os policiais. No corredor, eu podia sentir os olhares dos alunos, curiosos com a movimentação anormal na escola.
Meus passos estavam pesados e aquele pareceu o caminho mais longo da minha vida.
- Eu tenho certeza de que isso não é meu, e não foi colocado por mim na mochila. Estão me tratando como uma criminosa, mas eu não sou! - falei.
- Fique calma. - o diretor disse. - Precisamos investigar isso, não quer dizer que você vai ser presa.
Chegamos a sala do diretor e eu entrei, escoltada pelos três.
- Sente-se aqui, Julieta. - o diretor falou indicando a cadeira da esquerda na sua mesa.
Eu sentei e deitei minha cabeça entre meus braços apoiados na escrivaninha e comecei a chorar.
- Eu não sou dona disso. - falei entre as lágrimas.
- Senhores, por favor. - o diretor pediu. - Eu gostaria de conversar antes com a senhorita Julieta. Uma conversa informal. Poderiam me fazer a gentileza de se retirarem por um instante?
Eu me virei na direção deles, que estavam se entre olhando para decidir se permitiam ou não. Passados alguns segundos eles responderam.
- Ok. Nós só vamos fazer isso porque confiamos em você pastor Aurélio. - o policial com cara de malvado falou.
Os dois saíram. E o diretor sentou-se em sua poltrona giratória, me encarando.
- Julie. - ele falou relaxando na cadeira. - Como pastor e diretor, eu já vi muitas pessoas brilhantes como você falharem em coisas tão absurdas que eu me espantava, mas o ser humano é mesmo pecador, estamos mesmo inclinados a fazer o mal. Porém, eu acredito que essa droga não é sua. Não posso acreditar que me enganei esse tempo todo em relação à você. Então, se você estiver disposta a entregar o verdadeiro culpado, eu cuidarei para que você não seja punida tão severamente quanto seria.
Eu suspirei.
- Acontece que eu não sei. Eu juro que até o momento que vocês entraram na sala e revistaram a minha mochila eu jamais tinha visto esse pacote de drogas. Ele não é meu e eu não sei de quem é.
- O problema é que ele foi encontrado na sua mochila. Vai ser muito difícil explicar esse fenômeno para os policiais... Eu sinto muito por isso, mas precisamos da presença de um responsável aqui, imediatamente. Posso ligar para a sua mãe?
- Não! Ela está no trabalho agora. Eu... Eu... Posso ligar pro... Benjamim?
O diretor suspirou fundo e pensou por alguns segundos.
- Não poderia, mas eu vou abrir um exceção porque mesmo sem ter como provar, eu tenho certeza que você está apenas sendo usada por alguém. Com o tempo você vai revelar quem é.
- Mas eu não sei! - disse, mais alto do que gostaria, tanto que os policiais entraram na sala.
- Está tudo bem por aqui? - o gordo perguntou.
O diretor assentiu, mas o policial olhou no relógio e decidiu que o nosso tempo tinha acabado.
- Os cinco minutos acabaram. - ele disse. - Alguma confissão?
- Eu não tenho nada para confessar. - falei, o mais suave que consegui.
- Ham... Vamos Julieta. Ligue para o seu responsável. - o diretor falou. - Pode usar o meu telefone.
Eu me levantei e disquei o número de Benjamim. Ele atendeu no segundo toque.
- Alô?
- Benjamim, aqui é a Julie. Estou precisando da sua ajuda. Eu... - não consegui terminar de falar porque comecei a chorar descontroladamente.
- Julie, o que está acontecendo? Fica calma, por favor. Me explica direito isso.
- Eu estou sendo acusada de portar drogas na escola... Mas eu juro que sou inocente... Só que eu não tenho como provar. Preciso que alguém maior de idade venha aqui. Será que você pode vir me ajudar? Estou na escola.
- Já estou saindo da faculdade. Chego aí em quinze minutos. Fica calma, não chora mais tá? Eu acredito na sua inocência.
- Tá, vou tentar.
- Tchau, até daqui a pouco.
- Tchau.
Desliguei o telefone me sentindo um pouco mais tranquila por saber que Benjamim viria me ajudar.
- Ele vai chegar em quinze minutos. - falei, sentando novamente.
- Eu tomei a liberdade de permitir que Benjamim, um rapaz de minha confiança viesse. Acredito que vocês também o conheçam.
A menção do nome de Benjamim suavizou o rosto dos policiais e eu relaxei mais ainda.
***
Um pouco antes de quinze minutos Benjamim chegou e eu corri para abraçá-lo.
- Eles não acreditam que eu falei a verdade, mas eu nunca nem peguei em drogas. - disse, abraçada com ele, molhando sua camisa por causa das lágrimas.
- Ei, calma. - ele disse passando a mão em meu rosto. - Eu sei quem você é, nós vamos dar um jeito nisso. Confia em mim?
- Confio. - disse, enterrando minha cabeça em seu peito.
- Podemos conversar agora? - o policial gordo perguntou.
- Claro. - Benjamim disse.
Ele sentou ao meu lado e eu segurei em sua mão durante todo o interrogatório.
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Encontro (COMPLETO)
SpiritualLivro 1 "Você pode não entender o porquê, mas o pra quê vai te fazer sorrir!" Sonhos e pesadelos entraram na rotina das noites de Julieta. Desde que perdeu o pai, a garota é tomada pela vontade de ter morrido junto com ele e o arrependimento de ter...