Capítulo 6 - Possessiva

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O restante do dia eu passei aninhada nos braços de minha mãe, enquanto assistiamos alguns filmes de "mulherzinha" - como Joaquim denominou.- mas apesar de sua aversão a assistir "Idas e Vindas do Amor" ele se juntou a nós no abraço coletivo. Ao fim do quinto filme eu já estava caindo de sono, então minha mãe deixou Joaquim dormindo no sofá, para que ela pudesse me levar para o meu quarto, e como se eu fosse uma criança me colocasse pra dormir.

Eu me deitei na cama, mamãe pôs o cobertor sobre mim, e acariciou meus cabelos.

- Ah, Julie... - ela falou, suspirando. Depois de falar isso eu sabia que ela iria chorar, mas eu a contive.

- Por favor, mamãe. Não chore. - eu disse segurando suas mãos entre as minhas.

- Me perdoa, Julie. Se eu tivesse prestado mais atenção, nada daquilo teria acontecido...

- Para mãe! - falei tentando conter as lágrimas. - Se existe um culpado nisso tudo, sou eu mesma. Eu que deveria ter sido mais esperta.

- Não! Isso não diz respeito a você, Julie. - ela falou sem me encarar.

Eu não respondi. Não queria estender aquele assunto, pelo contrário, eu queria evitá-lo, pra quem sabe, conseguir seguir em frente, sem ter que mexer nas feridas do passado.

Se eu encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse fazer um pedido, com certeza pediria para ter sido poupada de todo esse sofrimento, e não sentisse tanta vontade de morrer, ou mesmo de tirar a própria vida. Eu só queria ter uma vidinha normal de adolescente. Eu queria ser feliz. Mas isso provavelmente nunca iria acontecer...

Imersa em meus pensamentos, nem percebi que mamãe ainda me olhava fixamente. Provavelmente querendo saber o que eu estava pensando, mas antes que ela pudesse perguntar a campainha tocou.

***

Ambas levamos um susto, claro. Quem poderia estar ali em nossa porta, às oito e meia da noite, (considerando que nós chegamos há duas semanas e não somos exatamente "sociais")?

- Vou ver quem é, Julie.

- Eu vou com você. - falei, me descobrindo, sem me atentar ao fato de estar de short jeans rasgado, com a blusa dos Beatles de meu pai, o cabelo desgrenhado preso em um coque, e os olhos inchados de tanto chorar.

Mas quando dei por mim, já iamos escada a baixo em direção a porta. Quando mamãe abriu a porta tive que me conter pra não voltar correndo para o quarto. Benjamim estava lá. Com Vivi. Segurando uma travessa com lasanha.

- Oi! - ele falou, sorridente.

- Oi... Você é o?

- Benjamim. Sou filho dos vizinhos da frente.

- Ah, é verdade. - mamãe bateu na cabeça como se aquela informação fosse mais que óbvia.

- Minha mãe preparou uma lasanha e pediu para que eu viesse entregar pra vocês.

- Que coisa boa! - mamãe falou. - Muito obrigada! Querem entrar e comer conosco?

- Se não for incomodar. - ele disse olhando fixamente para mim, que até o momento não havia dito uma palavra sequer, e estava com os braços cruzados e um olhar enfezado.

Mamãe voltou-se para mim com uma das sobrancelhas erguidas tentando entender porque Benjamim falara assim. Eu dei de ombros e ela voltou a olhar para os dois ruivinhos parados em nossa porta. Então antes que um de nós quebrasse o silêncio, Vivi perguntou:

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