Capítulo 36 - O Jardim

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Floresceu, mesmo no inverno
Ele cuidou
Com o seu próprio sangue
Ele regou
E fez nascer
As mais lindas flores pra você

Eu estava no meio de uma sala sem janelas, o único fio de luz que entrava era por uma porta aberta em minha frente, e o único som que eu ouvia era o meu choro. Me sentia angustiada, por não saber onde eu estava, o que estava acontecendo... A última coisa que eu lembrava era de ter ouvido a voz de Benjamim, desesperado. Depois tudo escureceu e quando eu achava que tinha acordado, me vi nesse lugar.

Estou sentada no chão desde que cheguei aqui, quero ir ver o que tem do outro lado da porta, mas tenho medo de sair e não conseguir mais voltar pra casa, e por algum motivo eu estava querendo voltar, mas não fazia ideia de como.

Eu estou assustada.

Fixo meus olhos na porta e sinto uma leve brisa vindo de lá, e junto com ela uma pequena borboleta aparece, e vem na minha direção. E por mais estranho que isso possa parecer, era o bater de suas asas que fazia a brisa.

Eu estava ficando louca, poderia jurar que a borboleta estava me rodeando tentando me levar pra algum lugar.

~~*~~

Quando eu atravessei a porta me deparei com um jardim. Tinha um homem cuidando dele, não consegui ver seu rosto porque ele estava de costas. Antes de fazer contato, olhei ao redor, o jardim estava muito feio, sem rosas, ou folhas, tudo estava seco, parecia que não chovia há muito tempo, haviam apenas duas rosas solitárias, e era ao redor delas que a borboleta voava.

Fiquei sentada no chão e passei a observar o jardineiro. Ele mexia na terra, podava algumas folhas que restaram, e parecia não ver que aquele jardim não tinha jeito, não ficaria bonito nunca. Ele trabalhava incessantemente, sem parar pra nada, e eu não entendi porque ele se empenhava tanto pra cuidar de um lugar tão feio quanto esse.

Resolvi romper o silêncio quando a borboleta voltou a me rodear. Chamei sua atenção com um barulho na garganta.

- Hum-hum.

Ele se voltou para mim vagarosamente. Seu semblante era sofrido, marcado pelo sol, porém, sem qualquer traço de irritação.

- Pois não. - falou, gentilmente.

- Pode me explicar o que está acontecendo? - perguntei, tentando não transparecer qualquer emoção ruim.

- O que exatamente você quer saber? - devolveu.

- Que lugar é esse? Como faço pra voltar pra casa? E quem é você?

- São perguntas demais, porque você não confia apenas? - sugeriu, como se fosse a coisa mais inteligente a se fazer.

Bufei.

- Me diga pelo menos quem é você...

- Eu sou o que você está vendo. Um jardineiro.

- Mas de quem é esse jardim? Você não está vendo que nem tem flores aqui? Por que você não procura outra coisa mais útil pra fazer? Esse jardim não tem mais jeito.

Por um segundo ele pareceu magoado, mas sacudiu a cabeça e sorriu, com os dentes amarelados.

- Você só está vendo as flores secas, eu enxergo além disso. Um dia esse lugar vai dar tantas flores que nem vai caber num jardim só.

Encontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora