Ela era intimidante. Eu não conseguia parar de encará-la naquela multidão. Todos estavam dançando, claro, é o que se faz em uma festa, mas Mika foi quem se destacou. Seus cabelos voavam enquanto ela dançava, seu suor escorrendo e todo mundo querendo chegar perto dela. Mas ela não deixava. Ela era dela, só dela. Sem toques, por favor. Talvez por isso eu tinha vontade de realmente me aproximar. Tocar. Com licença, mas você é real?
O som daquele lugar me dava dor de cabeça. Por que eu apareci naquela festa, afinal? Já não ligava, Mika estava vindo na minha direção.
Não, engano. Apenas passou reto para cumprimentar uma amiga.
"Vai encarar muito ou quer se apresentar?" ela perguntou em certo ponto naquela noite. Eu fiquei paralisada encarando-a. Estava um pouco bêbada e com os olhos muito vermelhos, mas eu apenas murmurei "meu nome é Sara, jornalismo" e ela riu e disse "Mikaella, relações públicas" e eu quase disse: é, eu sei. Mas não disse, apenas fiquei olhando para ela. Seu cabelo estava bagunçado em um rabo de cavalo improvisado e ela soltou, parecia em câmera lenta e podia jurar que estava babando. Mika estreitou os olhos e então bebi um pouco da cerveja intocada no meu copo para disfarçar o que quer que estava acontecendo.
"Sabe, Sara, normalmente não gosto de perseguidores, mas você até que não é nada mal" e riu, e então me beijou. A princípio eu não sabia o que fazer, mas então quando correspondi tudo pareceu natural,quase ensaiado antecipadamente. Mika tinha cheiro de maconha, hortelã e café. Café? Tequila também, talvez. Àquele ponto, enquanto nos beijávamos, tudo se misturou ao meu redor. Mas quando ela me tirou de lá só reparei quando o barulho ficou mais baixo, quando os cheiros enfim entraram em um conflito pacífico: maconha, hortelã e cerveja.
Alguém puxou meu cabelo. Eu senti, mas só depois notei que não era Mika. Era uma garota. Furiosa.
"Ops",Mika disse, mas riu. Riu muito. A outra garota era o oposto. Não sabia bem se ela estava brava comigo, com Mika ou com a situação.
Eu sabia que Mika tinha namorada, todos sabiam. Mas e daí? Ela que me beijou. Mika segurou a garota e as duas saíram dali. E eu fiquei parada com metade da cerveja derramada na mão e apenas olhando as duas se afastarem, gritando e depois simplesmente se abraçando.
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Dor de Amor (desamor #1) | ✓
Short Story"O fim" não precisa ser algo ruim. O desfecho de uma história pode ser bom, para um ou para o outro. Quem nunca se magoou? Ou se machucou por causa de outra pessoa? Por que não usar isso como algo que te faz evoluir? Nestes contos mostro diferentes...