Quando ele me entregou a caixa, eu quase a joguei na cara dele. "Art, você está de zoeira?" quis gritar. Mas como sempre baixei a cabeça, apenas peguei a caixa e devolvi a dele. Não estávamos terminando,eu pensava, estamos indo ao novo passo: o de seguir em frente. Com outras pessoas. Eu sabia que o que tínhamos nunca acabaria, mas considerei que ele não pensava isso. Ele sabia: término. Eu me iludia: tempo.
Nem o nosso término foi normal. Artur não conseguia me olhar enquanto pegava aquela caixa pesada, cheia de DVDs e CDs das épocas boas,quando deitávamos na cama e aproveitávamos a presença um do outro.
Art, certa vez, no nosso quinto mês oficial, disse que não iríamos terminar, apenas continuar a vida. Algum dia nos encontraríamos, riríamos daquela época em que terminamos e voltaríamos para o sofá ou cama e retomaríamos dali. Eu não queria isso. Mas não disse naquela época.
Não queria terminar: queria continuar. Para sempre. Com ele. É normal estar tão apaixonado aos dezessete anos e já planejar uma vida com essa pessoa? Estávamos há mais de dois anos juntos – idas e voltas -, mas nada nos partiu como aquela traição. Por que Artur tinha de ser tão infiel? "Não consegui me conter, você sabe",não, eu não sei! Não sabia que era natural trair o amor da sua vida.
Nunca traí Art. Talvez esse tenha sido meu erro. Deveria ter arrasado o coração daquele garoto de merda. Mas simplesmente foi legal: o tratei como a melhor pessoa do mundo, embora eu soubesse que ele não era. Fui o melhor namorado possível e ele mesmo assim encontrou consolo em outro quarto, em outra cama.
"E se pudéssemos recomeçar?" perguntei depois do episódio-traição,e ele disse, na maior naturalidade "não seria possível, Josh, já destruí seu coração para o recomeço". Ele sempre foi pretensioso, egocêntrico e eu o amava. Mas nada disso bastou. Nenhum recomeço comigo era digno dele. "Te machuquei muito. Você vai lembrar disso sempre que deitarmos na cama", ele não estava errado, mas eu daria um jeito, como um bom idiota corno faria nessa situação.
Eu sabia que ele havia feito de propósito. Conhecia meu ex-namorado bem o bastante para saber que não estava mais dando certo o nosso namoro quase mais longo que nossa vida de solteiro. Ele queria aproveitar,claro. Aproveite, mas não vamos nos reencontrar em alguma cama ou sofá e retomar de onde paramos. E quando olhei para a caixa eu sabia: eu conseguiria. Diria adeus, e não "até logo".
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Dor de Amor (desamor #1) | ✓
Conto"O fim" não precisa ser algo ruim. O desfecho de uma história pode ser bom, para um ou para o outro. Quem nunca se magoou? Ou se machucou por causa de outra pessoa? Por que não usar isso como algo que te faz evoluir? Nestes contos mostro diferentes...