DERICK & NICHOLAS

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Ele estava tão bravo naquela noite. Pegou uma mochila e colocou todas as roupas dele dentro. Eu fiquei observando. O que mais eu poderia fazer? Ele queria ir embora, que fosse! Vai tarde, merda.

Chorei.Mas ele não precisava saber. Passei o resto da noite chorando enquanto eu encarava aquele apartamento vazio e fedido à colônia dele. Que perfume fedorento.

Eu estava agarrado no travesseiro dele quando escutei o barulho da porta. Pensei em ladrões. Queria mandar eles levarem tudo, menos o travesseiro com aquele perfume horrível.

Mas era ele. Claro que era ele. Ele sempre voltava. Arrependido e com o rabo no meio das pernas, como o cachorro que ele é.

"Esquecia escova de dentes", ele murmurou enquanto eu o encarava. Foi até o banheiro e pegou a escova de dentes, sem nem olhar na minha cara.

Nós fizemos as pazes naquela noite, bem do jeito que ele gostava. Mas quando acordei e ele não estava ao meu lado, eu soube.

O perfume não parecia mais invadir o ambiente. O travesseiro não estava mais lá. Nem a escova de dentes.

Tudo tinha sumido. E mesmo sem nenhum registro dele ali dentro eu ainda sentia sua presença.

Na cama que compartilhamos por anos.

No sofá, onde assistíamos filmes e às vezes ele pegava no sono no meu colo. Eu odiava quando ele dormia enquanto assistíamos filme, mas até disso eu tinha saudade.

Na sacada, onde ficávamos encarando o pôr do sol ou o amanhecer enquanto dividíamos um cigarro.

Ele estava em cada canto, mas estava principalmente dentro de mim. Eu sentia que ele me habitava mais até do que eu habitava a mim mesmo.

Respirávamos em sincronia. Ríamos das mesmas piadas. Eu sentia que ele era minha alma gêmea, que o fio vermelho estava amarrado nos nossos dedos.

Ele cortou aquele fio. Foi embora e levou com ele todos aqueles momentos nossos. Eu me sentia vazio sem ele.

Sua ausência estava naquele silêncio, sem aquela música horrível que ele escutava de manhã cedo.

Eu sentia a sua falta quando ia deitar, sem ele ao meu lado para esquentar meus pés.

Ou simplesmente quando ficava o observando dormir e queria elogiá-lo por ter traços lindos e marcantes, e mãos que pareciam querer agarrar o mundo, mas estava satisfeito apenas em segurar a minha.




Dor de Amor (desamor #1) | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora