Meu cachorro sempre gostou mais dela que de mim, então não foi grande surpresa quando ele correu na direção dela naquele dia. Eu não esperava vê-la. Não lá. Onde costumávamos ir juntos.
Ela ficou tão surpresa quando o viu que logo olhou para cima, me procurando. Eu quis ir embora, não queria vê-la. Ou melhor, eu queria. Mas não estava preparado.
Depois de dois anos lá estava ela. Lá estávamos nós. Perto da cafeteria onde nos conhecemos. E mesmo não acreditando em destino, só conseguia pensar que foram os deuses que a mandaram, que alguém queria me enviar algum sinal.
O sinal estava na sua mão. Logo o percebi enquanto ela acariciava meu cachorro e perguntava, toda casual, como eu estava. Eu não lembro o que respondi, só conseguia lembrar do quanto ela insistia que "não era garota de ninguém"e, de repente, ela era, sim, a garota de alguém. E o pior de tudo,aquele alguém não era eu.
Não conversamos muito, mas foi o bastante para me fazer lembrar de tudo que passamos juntos. Dos meses que passamos juntos.
Passou mais tempo falando com meu cachorro. Que por algum tempo foi "nosso". Eu não perguntei sobre sua vida: não queria saber. Não perguntei quem era a pessoa.Não era mais da minha conta.
Quando me afastei não resisti e olhei para trás. Ela estava me olhando.
E parecia a primeira vez que a encontrei, na frente daquela cafeteria, com um casaco preto e uma touca cinza. Mas ela estava diferente, aquele anel a deixava mais séria e ela estava usando salto alto, não o antigo all star que ela não tirava nunca. A Abby mais velha apenas abanou e entrou novamente na cafeteria, cheia de lembranças de nós dois que naquela tarde ela estava ignorando, pois já havia seguido em frente há muito tempo.
Peguei as cartas que ela me mandava e as reli naquela noite. Depois de quase dois anos sem tocar nelas. As cartas, assim como os dias que compartilhamos naquele apartamento pequeno, transbordavam de amor. Um amor que não parecia ter fim. Um amor que eu achava impossível encontrar. E de repente não existia mais nada. As cartas foram ficando menores, mais breves, apenas me atualizando de como estavam as coisas quando não estávamos perto.Podia sentir tudo mudando apenas pelo jeito como ela descrevia algo para mim, antes cheia de paixão e dedicação e nos últimos dias um pouco indiferente.
Nada disso nos impediu de continuar.Tentamos por bastante tempo desde a última carta, mas nada foi o suficiente. O futuro a chamou. Ela foi em frente, tinha coisas afazer. Amadureceu. Virou mulher. Eu continuei o garoto que gostava de jogar videogame e não tinha paciência para passear com o cachorro.
A pior parte de ter a visto não foi o anel. Não foi a sua indiferença comigo.
A pior parte foi saber que ela estava feliz e que estava bem. Sem mim.
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Dor de Amor (desamor #1) | ✓
Short Story"O fim" não precisa ser algo ruim. O desfecho de uma história pode ser bom, para um ou para o outro. Quem nunca se magoou? Ou se machucou por causa de outra pessoa? Por que não usar isso como algo que te faz evoluir? Nestes contos mostro diferentes...