GABRIEL & DANIEL

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"Eu estou apaixonado por você", ele disse em um instante de coragem embriagada enquanto me olhava nos olhos, sorrindo feito bobo. Seus olhos vermelhos e brilhando. Eu quis rir, quis dizer "Não, você não está apaixonado, só está chapado", mas eu sabia que ele estava. Mas eu não conseguia me apaixonar por ele. Não era algo que eu estava acostumado. Por que alguém perderia tempo me amando?

Por que alguém consideraria passar mais de cinco minutos ao meu lado?

Mas ele estava sempre ali: me observando, me analisando. Segurava meus cabelos para eu prestar atenção no que ele dizia, apertava minha mão quando eu estava passando dos limites.

Estava lá ao meu lado quando meu pai faleceu. Estava por perto quando fui expulso de casa.

Mas eu não conseguia amá-lo. Olhava em seus olhos negros e me lembrava da sorte por tê-lo, mas nunca pensava na sorte por amá-lo.

Ele era meu e eu era dele. Mas não poderíamos pertencer. Ele era muito. Eu era pouco.

Segurava meu braço e pedia "por favor, fica". Eu ficava, mas só por não ter para onde ir.

Me cutucava e dizia "não faz assim"quando eu estava prestes a ir para outro caminho. E eu não ia. Não ia porque meu lugar era ao seu lado. Mas ele era melhor sozinho. Era melhor no banco do motorista quando eu não estava no banco do carona.

Ele era melhor sem o peso de me carregar nos ombros quando eu bebia demais.

Ele era melhor quando não tinha hábitos destrutivos.

Ele era melhor quando eu não estava por perto. Eu não estava ao seu lado nos seus piores momentos, mas ele não ligava "você estava nos importantes", ele dizia.

Daniel sorria para mim e murmurava a sorte que tinha em me amar.

Quem teve a sorte fui eu. Tive um amor que não precisava corresponder: ele amava o bastante por nós dois.

Mas como eu poderia deixá-lo amando sozinho?  


Dor de Amor (desamor #1) | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora