Estava chovendo. Eu lembro porque molhei meus pés nas poças da rua e ele se ofereceu para me carregar no colo. Não queria molhar os pés, mas queria menos ainda ser um peso para ele, então apenas sorri e disse que não precisava, mas ele me carregou mesmo assim. Sorriu o tempo todo, mesmo sabendo que no dia seguinte seus braços iam doer para caramba. Não molhei meus pés, mas continuei sendo o peso que não queria. Ele me encarava e dizia que estava tudo bem "melhor meus braços doendo que seus pés encharcados", mas ele estava mentindo.
Ele se importava demais com seus braços fortes de academia, só queria me mostrar que conseguia me carregar pela cidade. E pela vida.
Nada parecia me afetar mais que isso: ser o peso, a âncora que te puxa para baixo, mas nada disso importava, pois quando eu molhava meus pés ele vinha e me carregava para longe das poças d'água. Eu murmurava: você não pode me carregar para longe das poças para sempre. Ele sorria e dizia para me preocupar apenas com a chuva no meu cabelo ou no meu rosto. Não sabia o que dizer: eu não queria molhar meu sapato novo.
Quando eu vi aquela poça na rua naquela tarde depois do trabalho eu tentei desviar, mas lembrei dos braços dele me segurando e mesmo enquanto a chuva me atingia no rosto eu me sentia segura. Desviei da poça, mas não pude bloquear a lembrança e a saudade. Não pude evitar a vontade de ser levada para longe da poça.
A satisfação de ser carregada por ele me acertou em cheio. Eu sabia que ele não aguentaria o peso, a responsabilidade de me carregar para longe, mas ele era tão bom enquanto fingia que conseguia. Era tão leal me empurrando para o lado seco da rua.
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Dor de Amor (desamor #1) | ✓
Proză scurtă"O fim" não precisa ser algo ruim. O desfecho de uma história pode ser bom, para um ou para o outro. Quem nunca se magoou? Ou se machucou por causa de outra pessoa? Por que não usar isso como algo que te faz evoluir? Nestes contos mostro diferentes...