GIOVANNA & GUILHERME

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E ao sair da sala, eu soube que seria a última vez que o veria. Foi a primeira pessoa que vi quando entrou. Era o segundo dia apenas, não reconheci ninguém do dia anterior, talvez porque ali não havia alguém perfeito o bastante para reconhecer, exceto ele. Não que fosse perfeito, estava longe de ser, mas havia algo nele, nos olhos ou sorriso, que de alguma forma me fez procurar seu rosto ao ir embora, para ter com quem sonhar naquela noite fria. Não sonhei com ele naquela noite, mas no dia seguinte ainda recordava de seu rosto pálido e misterioso. "Não era tão bonito assim", eu pensava no meio daquela manhã. Não podia me enganar: ele era sim. Ele tinha cabelos castanhos encaracolados, os olhos pareciam mudar de cor como um caleidoscópio marrom, azul e verdade. Seu sorriso era bonito, e um tanto irônico, fazendo com que quem o visse tivesse vontade de sorrir junto. Não precisava de músculos, dentes brilhantes ou barba bem feita. Era um rapaz realmente bonito. Chama atenção em qualquer lugar que vai, mesmo quando não quer. Por meses eu sonhava acordada com ele. Não era certo, eu sabia, mas não conseguia resistir. Aquele mistério que havia nele parecia crescer a cada encontro. Era uma frustração imensa, pois eu sabia que não demoraria muito para deixar de vê-lo. Olhos ou sorriso? Não conseguia decidir onde estava esse mistério que me fazia feliz no final de cada dia.Na última vez que nos encontramos estava a ponto de descobrir o que era o tal mistério. Porém, a rapidez com que seus olhos mudavam de cor e seu sorriso trocava de emoções instantaneamente, fiquei sem saber nada. Aquela seria a última vez que o veria, precisava encontrá-lo ao sair. Desesperada, olhei para os lados a procura dele. Fingiria ter alguma pergunta sobre o que ele havia falado horas antes. Ao vê-lo, rodeado de tanta gente resolvi não falar nada. Era a última chance que teria de entender o mistério dele que há tanto tempo me perturbava. Mas fui covarde. Quando o vi rapidamente me encaminhei para a saída mais próxima.Eu não queria que ele me visse frustrada por loucuras que criei. Não tive tanta sorte. Ao encontrar seu rosto na multidão, por um segundo nossos olhos se encontraram. Eu não tinha certeza no início da noite se não o veria mais, mas ao encontrar seus olhos no final da noite tive certeza. Seria a última vez."Tudo bem", pensei. Alguma hora chegaria a hora de dizer adeus. Se não menos eu não tivesse tão obcecada por livrar-me de tudo que me frustrava talvez ainda estivesse disposta a tentar desvendar o mistério dele. Não era para acontecer. Quem sabe. Às vezes a vida toma certos rumos para que não nos decepcionemos com o que podemos descobrir. Sabe lá.Faz alguns meses que não o vejo. Lembro-me ainda vagamente dos seus olhos mudando de cor a cada segundo. Do sorriso perfeito. Dos cabelos. A lembrança a cada dia parece mais distante de mim. Mas uma coisa é certa: nunca esquecerem aqueles últimos olhares. Foi a única certeza que tive em relação a ele. E nada mais. O resto, ainda é um mistério.


Dor de Amor (desamor #1) | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora