O silêncio era insuportável. A falta de uma palavra ou gesto fazia meu coração congelar. Então era assim que ele se sentiu daquela vez, quando estava ocupada demais para ele ou sua carência.
Então foi por isso que acabou tudo: o silêncio. Nunca fomos bons com a comunicação, nós éramos olhares, toques, sorrisos, nunca palavras. Para que palavras? Tínhamos os olhos um no outro e um sorriso sugestivo que eu considerava como: estamos bem. Mas acho que há muito tempo virou um: é o que temos.
Considerava ótimo. Considerava prático. Sem palavras, sem rótulos. Nem sabíamos o que estávamos fazendo. Passando o tempo um com o outro? Nunca se sabe. E agora muito menos. Mas o silêncio daquela noite foi o que me machucou: sem olhares, sorrisos e muito menos toque. Estávamos distantes, tanto fisicamente quanto emocionalmente.
E eu me perguntava: onde erramos? E então uma resposta se seguia: quando tentamos acertar.
Ah, quando tentamos falar sobre isso. "O que temos, afinal?" e o pior: eu respondi "nada".
Tínhamos tudo. E eu fiquei sem nada.O sorriso que ele me mostrou era triste, talvez também sentia muito por acabar daquele jeito. Ou estava aliviado. Não sei, nunca fui boa em detectá-lo. Entendê-lo. Lê-lo. Ele me lia. Relia. Sabia o que eu queria quando erguia a sobrancelha, sabia que eu queria brigar quando cruzava os braços na altura do peito, sabia que eu tinha feito algo errado quando chegava na sua casa mordendo nervosamente a boca. Eu não sabia o quanto era previsível até ele aparecer na minha vida e me decifrar em dez minutos.
Odiava o fato de isso não me incomodar. Não conversávamos sobre o que tínhamos, mas estava ali. Eu não me importava que ele me conhecesse: até era bom, poupava ter de fazer joguinho. E eu odeio joguinhos.
Mas um dia ele disse, sonolento, "você não é previsível, Debby, eu que sou ótimo em analisá-la".
Ele era mesmo.Será que ele conseguia decifrar minha cara de frustração ali, na frente daquele bar barulhento fedendo a cigarro? Será que ele conseguia perceber o quanto eu queria pedi-lo para ficar e podermos finalmente melhorar isso?
Mas lá no fundo, eu sabia: não havia saída.
Não há mais páginas para ler neste livro da Debby. Ele acabou a leitura.Um som abafado saiu da minha boca, "Elliot", mas ele não ouviu: barulho demais para o nosso silêncio.
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Dor de Amor (desamor #1) | ✓
Conto"O fim" não precisa ser algo ruim. O desfecho de uma história pode ser bom, para um ou para o outro. Quem nunca se magoou? Ou se machucou por causa de outra pessoa? Por que não usar isso como algo que te faz evoluir? Nestes contos mostro diferentes...