Os dias seguintes, após o aniversário, foram mais pesados do que imaginei. O treinamento ficou mais intenso. Foram-me aplicadas provas de conhecimento e resistência, cheguei a passar a noite na chuva fazendo exercícios de raciocino lógico enquanto respondia questões que me eram gritadas pelos meus treinadores. As coisas pioraram com a chegada de Shang e Ken. Shang foi apelidado como "China" e Ken como "Sheamus". China era mestre em artes marciais, e utilizou técnicas orientais para me ensinar sua língua, cultura e lutas. O mesmo serviu para o Sheamus, ele era irlandês e seu nome significava nascido do fogo, mas Fábio decidiu chamá-lo de Sheamus (nascido do mar) só pra contrariar. Sheamus era ruivo, pele muito clara, barba pouco crescida e estatura mediana, já o China era alto, magro-atlético, cabelos na altura do ombro pretos muito lisos e olhos puxados.
No início, quando terminava o treino, eu ia direto para a minha cama chorar. Trancava a porta e não deixava nem Miguel entrar, ainda odiava dormir sozinha mas com o tempo a insônia se tornou uma companhia agradável. A cada dia que passava, os meus sorrisos diminuíam, minhas expressões se tornavam mais rígidas, meus horários monótonos e, com o tempo, fui perdendo quem eu era.
Consegui fazer tudo que me era mandado com facilidade, as meditações com Dimitri já eram muito fáceis. Ele não tentava mais uma aproximação, parecia que eu estava afastando tudo e todos.
5 meses se passaram desde o meu aniversário, já era setembro e eu tinha me tornado um soldado perfeito. Mas ainda não conseguia usar os meus poderes, nem via Lívia e Maria usando.
-Miguel.
-Sim?
-Porque não consigo usar meus poderes?
-Vocês três só irão poder utilizar os seus dons a partir do dia da prova final. Antes disso, contem-se em ter aulas e aprender o máximo possível.
Fiquei em silêncio e ele continuou a aula. Já havia decorado mais da metade da bíblia, alcorão e outros livros. Os aniversários eram comemorados de forma singela, sem muitas manifestações de carinho. O tempo foi passando rápido demais.
Em uma manhã de sábado, fui ao pátio esperar pelos moradores da casa para a aula de luta. As coisas haviam ficado muito intensas, o treinamento começava de manhã e só tinha fim quando eu desistisse ou vencesse todos os oponentes. Até hoje só havia conseguido chegar até Fábio, depois dele eu terminava o treino pois não me sentia disposta para continuar.
A sequencia era simples: Dimitri, Sheamus, China, Reyna, Miguel, Fábio, Maria, Martin e Lívia. O ideal era vencer todos. Apenas assim eu estaria pronta para o desafio final. Me posicionei do lado esquerdo do campo, esperando pelo primeiro oponente: Dimitri. Eram bons lutadores, por algum motivo (que ainda não descobri) todos sabiam lutar, talvez fosse um requisito básico, ou talvez fosse coincidência.
Dimitri se posicionou do lado oposto, ele estava com uma calça de moletom e uma regata preta. Costumávamos todos a usar preto no dia de treinamento de lutas.
-Comecem. -Martin falou sem emoção.
O filho de Dionísio era rápido, por não ter que competir pela supremacia mundial e controle do universo, ele podia usar seus poderes. Era engraçado ver ele tentando me prender com plantas que surgiam do chão, eram videiras. Fazia sentido já que o pai era o deus do vinho. Apesar da sua altura e poderes, acabei vencendo rápido. Estava sendo treinada para vencer rápido, mais agressiva possível e sem pensar muito. Naquele momento ninguém me conhecia, eram apenas oponentes que iriam me matar se tivessem chance, e eles pegavam pesado.
Sheamus, o filho de Badb (deus da guerra na mitologia celta) era agressivo, usava uma clava de madeira com pontas de ferro, já tinha me machucado diversas vezes quando ele a usava, mas aprendi a vencê-lo. Tinha que aproveitar o momento que ele levantava a arma para atacá-lo e assim vencer.
O China era complicado, demorei 1 mês para conseguir passar por ele. Seus movimentos eram ágeis, mal conseguia vê-lo se mover. Ele era filho de Long Mu (mitologia chinesa, a mãe dos dragões), adorava quando ele cuspia fogo durante a luta.
-VAI LÁ DHANEARYS! -Fábio gritou para Shang. A referência à família Targaryen da série Game of Thrones foi perfeita. China sorriu e começamos a lutar. Eu já estava cansada, mas decidi que naquele dia eu iria conseguir passar de Fábio. Nada me faria parar.
Lutamos, foi cansativo e fiquei exausta. Achei que não conseguiria, mas não sei como e nem da onde tirei forças pra continuar. Eu sabia que depois dele seria Reyna, e no fundo estava com medo de não conseguir vencer Fábio pois ainda faltava Miguel depois dela.
Reyna era agressiva, acabei sabendo que ela visitou muitos lugares depois que saiu do laboratório. Ela era latina, e amava sua cultura. Aprendi muitas coisas com ela, inclusive capoeira. Reyna acabou conhecendo muitos lugares (adoraria saber como ela conseguiu dinheiro, mas até hoje não sabia nem como as pessoas que moravam comigo possuíam tanto luxo). Ela me ensinou sobre os deuses indígenas, egípcios e até africanos. Vence-la foi difícil, tinha que me aproveitar das pequenas brechas mas era complicado quando ela percebia.
Depois dela veio Miguel, ele podia me amar mas acreditava demais no meu potencial e isso o fazia dar tudo de si quando lutávamos. Ganhar foi duro, estava suada e cada parte do meu corpo doía.
Finalmente, Fábio! Ele podia parecer amigável, radiante e até inofensivo... Quando não estava lutando. Fábio era o tipo de pessoa que ninguém gostaria de irritar, ele sabia como usar armas e era muito rápido. Ah, não contei um detalhe muito importante: TODOS podiam usar armas (sejam quais forem) e EU não. Acabei ganhando muitas cicatrizes nessa "brincadeira", inclusive uma no braço esquerdo de uma RT 627, revólver de calibre 357 magnum. Aprendi muito sobre armas com Lívia. Ela adorava. Fábio decidiu inovar, pegou uma LT 38 SA e uma SMT 40 C.
-AH ÓTIMO, FÁBIO! Um lançador de granadas e uma submetralhadora? Eu sei que a luta é pra ser real, mas precisa REALMENTE DISSO ?
-É eu que vou cuidar dos seus ferimentos depois, relaxa e VAMOS LUTAR, BABY!
Logo no dia que eu PENSEI que queria ganhar do filho de Apolo, ele decidi pegar duas armas. Eu já havia treinado desse modo, mas não depois de 5 lutas!! Escapei da granada por pouco, minha sorte é que só lançava uma, o problema estava na mão direita dele: a submetralhadora. Era humanamente impossível ganhar daquilo. Eu acabaria morrendo, até hoje não sei como não morri. Imaginava ser pelos dons curativos do Fábio, mas sempre há dúvidas. Fábio era violento, achei que não conseguiria. Me abaixei atrás de uma mureta enquanto ele gargalhava e metralhava tudo. Fechei os os olhos e tomei coragem, sai correndo. Desvio das balas, acabei sendo atingida de raspão na coxa mas segui, cheguei perto o suficiente para desarmá-lo com um golpe que Martin tinha me ensinado (na aula de "Como desarmar alguém". É.. foi útil). Acabei indo para a luta corpo a corpo, apesar dele ser maior e mais pesado, eu era mais rápida. Acebei conseguindo encaixar um mata leão nele e ouvi o tão desejado:
-PARA! PRÓXIMO!
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A mais poderosa
General Fiction© Todos os direitos reservados. Plagiar é crime! 3 irmãs abençoadas por divindades. A mais velha foi criada em um laboratório, onde cientistas faziam experiências bizarras com ela. A segunda conviveu parte de sua infância coma mais velha,porém os mé...