Acordando

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Eduarda

Tempo atual

Sinto uma dor desconfortável ao tentar abrir os olhos. Eles estão tão pesados, que sinto como se eles estivessem colados com concreto. Quando consigo abrir, vejo Kadu olhando para minha mão enquanto a acaricia.

— Kadu — consigo falar com dificuldade.

Minha boca está seca, como se eu estivesse há vários dias no deserto. Tenho dificuldade para produzir saliva e por um segundo me sinto sufocada.

— Eduarda, você acordou.

Sua voz está carregada de surpresa e susto. Pergunto-me o que aconteceu e, porque ele está me olhando como se eu fosse um fantasma.

— O que aconteceu? — meu último esforço para falar.

— Fique calma, vou chamar o médico.

Antes que eu pegue sua mão, Kadu já está correndo para fora do quarto.

Olho ao redor e vejo que o quarto é simples, mas está descorado tem objetos meus pessoais.

Tento me mexer, não consigo sentir nada. Entro em pânico e tento a todo custo me levantar.

Kadu volta para o quarto acompanhado de um médico jovem e mais dois enfermeiros carregando uma bandeja em uma de suas mãos. Meus olhos vão direto para meu irmão. Estou assustada demais e só quero saber o que está acontecendo.

— Fique calma Eduarda, você acaba de despertar. — diz o médico pegando algum aparelho do seu bolso.

Tento inutilmente me movimentar, mas meu corpo se recusa a me obedecer. Por Deus, o que está acontecendo?

Meus olhos procuram Kadu desesperadamente.

— Eduarda, está tudo bem. Vamos lhe explicar o que está acontecendo. — Kadu fala e isso me deixa um pouco melhor.

Kadu segura minha mão, enquanto o médico espeta meu braço. A princípio penso que serei medicada, mas ao invés disso, ele está retirando meu sangue. O médico realiza todo o procedimento em silêncio e assim que termina, entrega um pequeno vidro com meu sangue a um dos enfermeiros e pede para ser efetuado um exame.

— Bem, agora vamos nos sentar e conversar. Antes de tudo quero que saiba que estamos muito felizes com o seu retorno.

Enquanto o médico fala, meu olhar passeia entre ele e o meu irmão que de alguma forma está diferente. Não sei explicar, parece outra pessoa, mais maduro, ou talvez eu esteja imaginando.

O médico puxa uma cadeira e se senta próximo a minha cama, enquanto Kadu continua em pé segurando minha mão. O outro enfermeiro fica um pouco afastado, mas atento a minha expressão o tempo todo.

— Preciso me apresentar, sou Matias. Como está se sentindo?

— Preciso de um copo com água, minha garganta está seca. — falo enquanto movimento meus lábios ressecados.

— Jonas, por favor, consiga uma garrafa de água. — Matias fala enquanto olha sorrindo para o enfermeiro. — Vamos esperar você beber água para retornarmos nossa conversa.

Cinco minutos depois, quando após beber uma garrafa de água e aliviar o ressecamento da minha garganta, Matias volta a falar.

— Eduarda, preciso que ouça com atenção ao que vou falar e tente não se exaltar.

Estou com medo de falar, então apenas aceno a cabeça confirmando.

— Você sofreu um acidente muito grave, onde por algum milagre não morreu.

Kadu solta um pequeno suspiro e tento me concentrar na voz do médico.

— Acontece que esse acidente trouxe consequências, você entrou em coma e dormiu por um longo período. Você se lembra de alguma coisa?

Forço minha mente, mas tenho apenas pequenos flashes de memória.

— Tenho apenas pedaços.

— Não se esforce tanto. — diz Kadu quando me vê fechar os olhos e apertá-los com força.

— Lembro-me de estar no carro com Kadu. Brigamos e eu tentei tomar a direção da sua mão. Depois nada, apenas um grande branco.

Meu irmão e o médico trocam olhares cúmplices.

— Você foi arremessado para fora do carro, sofrendo traumatismo craniano. Seu cérebro sofreu um grande inchaço, causando o seu coma. Eduarda, você ficou em coma por quatro anos.

— O quê? — recebo a notícia como uma bomba.

— Eduarda, escute com atenção, por favor. — Kadu pede apertando minha mão.

— A princípio imaginamos que seu cérebro precisava disso para que você se recuperasse, mas com o passar das semanas, começamos a ficar apreensivos.

Eu dormi por quatro anos.

Custo acreditar que ele esteja falando a verdade. Estou sonhando, é isso.

Abusei das drogas e estou tendo alucinações. Só isso para justificar toda essa loucura. Olho para Kadu procurando uma resposta.

— Tentamos todos os métodos. As semanas viraram meses, logo depois anos.

— Quatro anos — consigo falar.

Desvio o meu olhar e olho para o meu corpo coberto com o lençol. Tento mexer minhas pernas. Nada.

— O que aconteceu com minhas pernas? Por que não consigo senti-las?

Olho apavorada para os dois.

— Realizaremos novos exames.

— Eu não sinto as minhas pernas. Estou paralítica, é isso? Eu nunca mais andarei?

Desespero-me com a possibilidade de não voltar a andar. Tento a todo custo sentir alguma coisa, mas meu corpo parece não querer obedecer aos meus comandos.

Puxo minha mão que Kadu segura e retiro o lençol que me cobre. Procuro alguma coisa que responda minhas perguntas. Uma grande cicatriz cobre toda a extensão da minha perna direita, desde o joelho até se esconder embaixo da roupa branca que estou usando.

Fora isso nada.

— O que há de errado com elas?

Kadu pega minha mão, mas eu o afasto. Tento me sentar e quando não consigo, começo a chorar, por que sei que estou sendo castigada por tudo o que fiz ao meu corpo.

Tento arrancar algo preso ao meu corpo. Reconheço o objeto, é um cateter. É preciso Kadu e o médico para impedir que eu me machuque ao tentar me livrar do objeto. Ouço o médico gritar alguma coisa para o enfermeiro e vejo-o vindo ao auxílio dos dois.

— Segurem os braços dela para eu poder medicá-la antes que se machuque! — o médico grita.

— Fique longe de mim! — grito tentando afastá-los de mim.

— Eduarda, por favor... — Kadu começa falar enquanto segura meus braços.

Distraio-me tentando me livrar das mãos de Kadu quando sinto uma picada no meu pescoço.

— Não, por favor... — começo a falar.

— Isso é para o seu bem — o médico fala enquanto vejo tudo ficando escuro.

Minha mente fica vaga e mergulho na escuridão.

Quando encontrei você - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora