Começando do zero

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Eduarda

Quando acordo, as luzes do meu quarto estão apagadas, apenas uma lâmpada perto da mesa onde minhas rosas ainda estão lá ilumina o lugar. Perderam um pouco do encanto, mas ainda resistirão por mais um dia.

Respiro pesarosamente e olho para a porta. Ela não está fechada, vejo uma pequena flecha de luz que vem do corredor. Uma garrafa está em cima da mesa, junto com um copo vazio. Está próximo o bastante para que eu consiga alcançar, mas não tento pegar com medo de me atrapalhar e acabar derrubando tudo no chão.

Desvio o olhar e fixo nas minhas pernas cobertas. Tento senti-las, mas acho que elas não ouvem o meu pedido. Nesse momento a porta se abre e uma enfermeira entra no quarto.

Ela acende a luz e me oferece um sorriso quando me vê observando-a.

— Olá Eduarda, desculpe se atrapalho seu descanso, vim apenas verificar como você estava.

Ela é morena, cabelos negros presos em um coque alto e olhos castanhos. Está usando uma maquiagem tão leve, quase não percebo até ela se aproximar da minha cama.

— Onde está todo mundo?

— Todos estiveram aqui à tarde inteira. Saíram há poucos minutos. Seus irmãos são lindos – ela riu.

Sorrio também por que sei que meus irmãos são de parar o trânsito e conseguem encantar até mesma as amigas da rede de amizade da nossa mãe.

— Ainda os verei hoje?

— Hoje não, mas não fique triste, amanhã todos virão lhe ver, ao não ser que você esteja indisposta...

— Não! – quase grito – Eu vou querer vê-los.

— Ótimo. Vou avisar ao doutor Matias que você acordou.

— Ele ainda está aqui?

— Está de plantão. Pela manhã alguém virá substituí-lo. Aguarde um minuto.

Não contei o tempo, mas Matias não demorou a entrar no quarto. Sua aparência estava diferente de quando nos encontramos antes. Parecia cansado.

— Eduarda, como se sente?

— Confusa, perdida... Qual delas você prefere?

— É normal. Joana, estão precisando de você no quarto 115.

A enfermeira nem questiona seu pedido. Os dois trocam olhares cúmplices e depois ela segue para a porta.

— Volto pela manhã para lhe dar banho Eduarda.

Oi? Me dar banho, como assim?

Abro a boca para perguntar, mas ela já sumiu no corredor.

— Muitas perguntas devem estar passando por sua cabeça, mas não se preocupe, vou responder todas.

Ele puxa uma cadeira e senta próximo a minha cama.

— Me desculpe por mais cedo, foi muita informação de uma só vez. Meu acidente, o coma, as minhas pernas...

— É normal sentir isso. Não estou com você desde o início, mas acredite quando digo que tudo vai se resolver. Durante esse tempo em que ficou em coma, uma equipe foi mobilizada para cuidar de você. Todos os dias, alguém vinha fazer fisioterapia para que seus membros não atrofiassem.

— Como consegui ficar tanto tempo assim?

— É tudo muito complexo, não temos a resposta... A mente é um órgão muito complicado.

Quando encontrei você - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora