Retornando ao Brasil

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Victor

Faz três anos desde a última vez que coloquei meus pés no Brasil. Três anos que eu tento esquecer a todo custo. Esse não é mais o meu lugar. Na verdade, nem sabia mais onde era meu lugar.

— Papai, quando vamos chegar em casa?

A voz de Davi me tira dos meus devaneios. Meu pequeno tesouro, a razão pelo qual ainda não desisti de tudo, está agarrado à mão de Beth, sua babá, enquanto espero nossas malas na esteira.

Ele tem os olhos verdes dela, da Regina. Os cabelos são castanhos como os meus, mas o jeito de olhar atravessado quando é contrariado, a maneira como se comporta à presença de estranho, seu sorriso... É todo dela.

Davi é a prova viva que Regina é real, que foi real na minha vida. É por esse pequeno anjo que me levanto todos os dias e encaro os desafios.

Minha amada Regina, se estivesse aqui estaria nesse momento irritada pela demora das bagagens. Sorrio. Ela nunca teve muita paciência para esperar.

Quando descobrimos que Davi estava a caminho, ela comprou todo o enxoval de uma só vez, nem ligou para o sexo. Nosso bebê tão desejado durante sete anos de casamento finalmente iria se tornar real.

— Papai... – Davi choraminga.

— Já estamos indo meu amor. Beth vá na frente, ele está quase caindo de sono. Irei logo atrás.

— Sim senhor. Só preciso que me dê seu endereço.

— Claro, esqueci que não conhece.

Pego minha caneta e anoto em um pedaço de papel que puxo do bolso e anoto o endereço. Entrego a Beth e fico olhando até ela sumir pelo corredor.

Encontrar Beth, uma brasileira perdida em outro pais, procurando um emprego de babá foi muita sorte. Ela é a única que conseguiu se aproximar de Davi depois do que aconteceu com Regina.

Ela é alguns anos mais velha que Regina e tem sido um anjo cuidando de Davi enquanto trabalho. Fiquei feliz por ela ter aceitado vir comigo e ficar aqui até que eu finalize mais uma tarefa, ajudar alguém que acabou de sair do coma e precisa se reabilitar a sua vida.

Quando finalmente vejo minhas malas, pego-as, coloco no carrinho e sigo para a saída. Pego um taxi, informo o endereço e partimos.

A cidade não mudou muito em quatro anos, talvez um pouco, mas nem me apego a pensar direito, ficarei por pouco tempo e depois voltarei para minha vida antiga, longe daqui.

Chego ao bairro da glória sem transtorno. O lugar parece ter parado no tempo, pelo menos onde meu apartamento está localizado. É um condomínio classe média.

Foi ideia de Regina comprar um apartamento aqui. Segundo ela, seria um bom lugar para criar nossos filhos. Na época, faltavam poucos meses para o nascimento do nosso segundo filho, Arthur.

Ela havia cuidado pessoalmente de toda decoração do apartamento e dos quartos dos nossos filhos. Davi já estava na fase das primeiras palavras e tudo para ele era novidade.

Ela mal estava aguentando de ansiedade para ver o rostinho de Arthur e saber e seria igual ao irmão. Tudo estava perfeito até aquela maldita noite de sábado.

Meu telefone toca no momento em que estou retirando as malas do carro.

— Oi mãe, sim, chegamos... Tentei avisar, mas seu celular só dava caixa postal... Eu sei... Sim, está em casa com a Beth... A babá... É claro que eu a trouxe comigo... Ok... Amanhã vou passar aí para uma visita...

Quando encontrei você - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora