O encontro

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Victor

Sabe o que é pior do seu luto?

O momento em que você pensa que já superou.

Todos me avisaram que iria passar, que o tempo curaria tudo, a dor da perda, a ausência na sua vida...

Mas tudo continua igual. Ainda sinto dor. Sinto a falta. O cheiro, o sorriso, o perfume... Eu sinto tudo. E dói mais ainda quando acordo e percebo que tudo é real.

Arrasto-me como um zumbi para fora da cama, me obrigo a ser forte. Eu preciso ser, não tenho escolha.

Passo no quarto de Davi e fico olhando para ele sem me importar com o tempo. Meu pequeno porto seguro, meu maior motivo para continuar lutando.

Chego à cozinha e encontro Beth preparando seu café. Ela vira assim que sente minha presença.

— Bom dia senhor Victor.

— Bom dia Beth.

— Quer que eu prepare algo para o senhor?

— Muita gentileza sua, mas não vou comer nada. Vou fazer uma corrida pela praia e depois seguirei para a casa da minha mãe. Você pode cuidar do Davi por algumas horas?

— Senhor Victor, o senhor me paga para isso – ela riu.

— Eu sei – eu ri também – É que fiquei de lhe dar o dia de folga, mas não quero ter que acordar Davi... Ele parece estar bastante cansado.

— Eu também estaria no lugar dele – ela riu – Pode ir tranquilo.

— Eu preferiria ficar em casa, mas conheço a mãe que tenho. Se eu não aparecer, é capaz dela vir como um furacão... E nós não queremos a senhora Angelina invadindo esse apartamento.

— Não senhor.

Nós dois sabemos como minha mãe pode ser um pouco exagerada quando é contrariada. Adoro minha mãe, sou grato por tudo o que ela fez após a morte de Regina, mas ainda insiste que eu preciso abandonar o luto e encontrar alguém, uma pessoa que possa substituir a vaga de mãe do Davi.

O que ela não consegue entender é que não estou preparado. Acredito que nunca vou estar.

— Eu não vou demorar muito.

Volto para o quarto, coloco minha roupa de corrida, calço meu tênis, pego a minha carteira, as chaves do carro e vou para o elevador.

Na portaria encontro alguns conhecidos, trocamos cumprimentos e sigo para pegar meu carro, uma BMW preta quatro portas. Ligo em uma estação de rádio qualquer e sigo para a praia. Estaciono o carro perto de um quiosque e sigo para o calçadão. Faço um aquecimento rápido e inicio minha corrida.

Olho a hora, passa um pouco das oito da manhã. Posso correr por uma hora e meia e depois seguir para a casa da minha mãe, com tempo para o café, já que ela não costuma acordar cedo.

Outras pessoas passam por mim no sentido contrário, mas não me preocupo em cumprimentar. Faço meu percurso e tento limpar minha mente de tudo que tem vem tentando me destruir.

Quase duas horas depois, encerro minha corrida, vou ao quiosque e compro uma água de coco. Sento no banco enquanto admiro as ondas quebrando na areia. O céu está tão azul que chega a doer os meus olhos.

Demoro vinte minutos até chegar ao condomínio onde minha mãe mora. Ela ainda está no banho quando entro. Vejo que ela trocou de governanta. Minha mãe é uma mulher difícil de levar, acredito que sou o único que consegue bater de frente com ela.

Quando encontrei você - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora