O sol começa a desaparecer de mansinho por entre as montanhas lá no fundo. O céu está em um tom de amarelo velho e com contrastes cinzentos. Mesmo assim continua deslumbrante. E aqui dentro há uma fraca garoa de pensamentos que intercalam entre eu e ela. E novamente ela mexe no cabelo. Particularmente,ela sabe fazer isso bem e na hora certa. Com o sol indo,o quarto começou a ficar escuro,mas logo entra a luz da lua e ilumina o rosto dela.Como nenhuma se levantou para acender a luz da lâmpada a visão ficou por conta da imaginação. Eu até fiquei feliz pois não consegui fixar o olhar no dela. Apenas percebi um brilho naquele contraste escuro. O que me deixava muito desconfortável,não de um jeito ruim.
-No que está pensando?-ela pergunta curiosa e cruza a coxa esquerda por cima da direita.
Naquele exato momento as luzes do Jardim se acendem juntamente com as luzes do lado de fora do quartos. O que me permitiu ver aquela cena que ela acabara de fazer. Olhei rapidamente pra janela, queria disfarçar o máximo o meu desconforto. Respiro fundo.
-No que está pensando?-ela dá mais ênfase a pergunta.
-Em Nada...-,olhando para o entrelaçar de suas pernas,não pensei em mais nada.
Cristal respirou fundo,como se pensasse e repensasse em alguma atitude que ela viria cometer. Nesse momento senti algumas borboletas remexerem no meu estômago. Cristal se inclina para mais perto. E novamente, o infeliz que está com o controle remoto em mãos resolve passar a cena lentamente,para a minha loucura. Ver ela se aproximando gradativamente e intercalando o olhar entre minha boca e olhos não sairá bem. O ar frio que entrava pela janela não me incomodou, pois minha temperatura estava se elevando. Cristal já estava a poucos centímetros da minha boca e ousou morder o lábio inferior.
*MEU DEUS ME DÁ FORÇAS!",penso.
Senti o ar quente que saia da boca entre aberta dela invadir o meu. Nossos lábios se tocam, chocam, abraçam, pense como quiser. E nossas línguas dançam em um só ritmo. Não consegui pensar em mais nada além dela,seu charme,sensualidade,beijo,calor,Cristal. Pausa. Ofegante eu tento dizer algo, mas não consigo. Ela com um sorriso de orelha a orelha para outro longo beijo. Em meio a todo aquele clima, Elasa late para a porta e somos obrigadas a a rapidamente conter a cachorra para que não chamasse atenção,-mais do que chamou.-. Assim que ela se acalmou Cristal diz:
-Foi por pouco. Mas olha,até que você beija bem. Pra uma garota mimada.-,ela sorri.
-Ótimo. Bom que não irá se repetir.-,solto um sorriso irônico.
- Vamos apostar que sim?-ela dá de ombros.
Effy entra no quarto sem bater e Elasa se solta dos meus braços e corre pra ela,tento impedir,mas não consigo. Confesso que me senti traída duas vezes naquele momento,tanto pela Effy como por Elasa que correu como se eu a prendesse de ser livre e feliz. Levanto-,me. Cristal vem e fica do meu lado,envolve seu braço no meu ombo e olha fixamente pra Effy que estava brincando com Elasa. Ela levanta e vem em nossa direção.
-Você é rápida Sophia. A sua cama mal esfriou e você já trouxe outra.-,Effy cruza os braços
-E você Effy não se contentou com a cama dela e foi esquentar outra?-,Cristal responde.
-Não se mete garota! A conversa é entre eu...-,Cristal a interrompe
-Errado. Agora é entre eu e você. Você machucou muito a Sophia e eu não vou permitir que faça denovo.-,ela diz
-E quem você pensa que é pra se meter assim onde não foi chamada?-,Effy se exalta.
*Confesso que ver Cristal me protegendo me deu um certo orgulho.Mas seu eu não interromper,as duas vão passar a noite discutindo*,penso
-Não vai falar nada Sophia?-,Effy continua.
-Não. Cristal já falou por mim.-,respondo pacientemente.
-Então quer dizer que você não tem mais uma resposta própria? Gostava mais de quando era a voz da razão. Era mais sexy..-,Cristal interrompe.
-Garota pega o que você veio pegar e sai daqui antes que eu não responda mais por mim.-,Ela responde as ofensas de Effy.
-Okay. Não quero mesmo ficar aqui!-,ela diz. Vai em direção a cama,pega algumas coisas e sai.
-Obrigada.-,digo um pouco tímida.
-Vou cuidar de você a partir de agora. Sei que é orgulhosa demais pra permitir,mas sou bem mais que você.Então nem adianta me olhar com essa cara.-.ela diz.
- Okay.-digo
-Você está bem?-,Cristal pergunta segurando minha mão.
-Pra falar a verdade eu não sei. Vai ser difícil encontrar ela por ai e até mesmo dormir. Eu não fui treinada pra decepções desse jeito. Eu nunca tinha amado alguém antes, ainda mais uma menina. Tudo bem que meus pais não me ensinaram que isso é errado pra sociedade e por aqui é quase normal,-risos-. Ninguém me disse que amar tem seus altos e baixos. Ninguém me disse que doía tanto. O ruim de quebrar o coração na primeira tentativa de amar é que o medo de se frustrar novamente duplica. Não te peço mais nada,apenas que me escute. Eu preciso colocar tudo pra fora se não morro engasgada com frases inteiras que não disse. Quer uma verdade triste sobre minha triste vida?-,Cristal faz que sim com a cabeça.-. Eu sempre chego com histórias maravilhosas sobre minhas férias e nenhuma é real. Meus pais não me amam como vivo dizendo. Na verdade faz anos que não os vejo e só tenho noticias deles no dia do meu aniversário,que é quando me escrevem algo. Eu nunca sai dessa prisão. E o pior de tudo é que eu nunca tive a oportunidade de fazer com que essa distância toda dos meus pais tivesse um motivo. Simplesmente nasci e me colocaram aqui. As vezes me bate um cansaço tão grande disso tudo, de mentir pra alimentar a minha farsa de "A garota mais popular do colégio",eu nunca quis isso. Você tinha tudo pra me odiar e olha aqui você me ajudando a juntar os meus cacos. Eu sinto muito por ter mexido com você quando estávamos na 6° série. Estudamos juntas desde que eu me entendo por gente e você nenhuma vez mostrou raiva ou algo assim por mim.Você simplesmente aceitava as coisas que eu dizia e o dia em que eu te vi com outros olhos foi quando eu joguei sua comida no chão e você olhou nos meus olhos e sorriu. Desde aquele dia eu não enchi mais seu saco.-,suspiro e olho pra lua,distante e amarela.
-Sabe Sophia,eu nunca me permiti te humilhar na frente das pessoas por que eu tinha pena de você. Estava sempre por cima de todos, com todo esse seu poder sobre as pessoas. Mas no dia em que sorri pra você foi por que eu vi em seus olhos um grito por liberdade tão forte que toda a minha raiva se foi. Eu tinha tanta coisa pra te dizer que com certeza você iria chorar. Mas eu nunca conseguia. Eu entendia a sua forma de sair da realidade. Confesso que até tinha inveja,por que você sempre cativou as pessoas de uma forma inacreditável,fez até as senhoras do refeitório te darem tudo o que você quer.Você não sabe,mas era eu quem te ajudava quando chorava no banheiro,te dava lenços e até chocolate. Me desculpa. Eu pedi ao Diretor pra ela vir dormir aqui com você. Vi quando se encontraram na quadra e o jeito que você ficou perto dela,então achei que seria bom pra você. Engolir o orgulho é difícil,mas foi uma das primeiras coisas que fui forçada a aprender.E sempre tivemos essa ligação de histórias,você sem seus pais e eu sem os meus. Pelo menos você os viu e tem contato,mesmo que mínimo. Já eu nunca os vi,não sei como foi minha mãe ou meu pai. Você imaginar seus pais pra poder ter eles por perto é tão duro. Perdi as contas das vezes que chorei até dormir pedindo pra que eles viessem no meu aniversário. Eu quero acreditar que eles me amam, mas na maior parte do tempo eu penso o contrário.-.suspiro.-. Acho que é por isso que nenhuma estrela cadente atendeu aos meus pedidos, pois pra cada "Trás eles pra mim",dois eram "Deixem eles onde estiverem".Sei que não sou a única que vive assim, mas assim como você, ninguém me ensinou a seguir em frente. Nem ao menos deixar de olhar pra tras. É tanta desgraça no mundo, que a sua se torna insignificante.Eu gosto de você...-,A interrompo.
Toco meu dedo nos lábios dela para fazê-la se calar. Seguro seu rosto com delicadeza e trago pra mais perto do meu. Sem pensar duas vezes,selo nossos lábios e a beijo como se o mundo fosse acabar lago depois que terminássemos de nos beijar. Confesso que não queria soltá-la.
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Porque eu sei.. Que é Amor.
RandomHistória lésbica. Sophia uma garota de 15 anos que não vê a sua sexualidade como um bicho de 7 cabeças.Ela em meio a bagunça interna,descobre de forma repentina o que é amar. E que a sua bela,porém conturbada vida amorava não está nos padrões da soc...