Noite infeliz

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Com os pensamentos atordoados,procurei não enlouquecer,mas estava sendo muito difícil. Não é fácil perder alguém que ama,nunca é. O vazio dentro de mim,se fez maior do que o vazio em todos os quartos,com seus pacientes em situações críticas.
Andei de um lado para o outro do quatro,como se fosse uma forma de esquecer e fazer com que o tempo passe. Certamente, o futuro seria tão mais doloroso do que o presente. Em meio aos devaneios e tristeza profunda,decidi fazer alto. Não sabia exatamente o que seria,mas nessa altura do campeonato era melhor arriscar,do que esperar.

-Pensa Sophia, pensa!-,disse essa frase repetidas vezes,para que como um raio,alguma solução caísse do céu.

Fui ate a janela e olhei para baixo. Estava bastante longe do chão, o que me fez engolir a seco. Voltei para o centro do quarto,onde era mais seguro. Fechei os olhos e Cristal foi a primeira coisa que me veio,seu olhar quase se fechando ao sorrir pra mim,me fez estremecer. A ficha caiu.

-Perdi o amor da minha vida.-,sussurei entre umas lágrimas e outras.

Deve estar achando tudo dramático, mas se você nunca perdeu alguém que amou,realmente, não ira me entender. Sim,amores vem e vão. Mas e quanto àqueles que se vão sem que deixemos que partam? Qual a crítica sobre isso? Daria toda a minha herança,sem exitar,pra que ela voltasse pros meus braços.

-Ela não iria ficar feliz com a minha falta de atitude. Ela já teria me arrastado daqui,já teria...-,mais lágrimas.- Nunca mais vou ter... Ela.-,continuo.

Respiro fundo e volto pra janela. Analiso cada detalhe e percebo um espaço logo abaixo da janela,que me possibilitaria passar até o outro quarto. Exitei algumas vezes,mas por fim, subi na janela e cuidadosamente pisei no espaço,meu coração acelerou,foi uma mistura de adrenalina com medo. Consegui dar uns 5 passos sem desequilibrar, nos próximos me causaram leves ataques cardíacos, nada muito grave. A janela do quarto ao lado estava trancada,mas mais a frente percebi que o próximo quarto estava com a janela aberta. Respirei fundo e continuei, chegando lá me assustei e quase caio. Pois vi Gregório vindo em direção a janela, porém parou antes de completar. Não consegui ouvir o que falara,mas reconheci a voz de Megie. Com cautela espiei dentro do quarto e Gregório saíra.

-Psiu!-,tentei chamar a atenção de Megie.

Que estava sentada na cama,com o rosto voltado pro chão. Logo ao me ver,correu para a janela e me ajudou a entrar. Secou as lágrimas e sorriu. Tentou ser forte, mas seu belo sorriso se contradiz com seu corpo inteiro.

-Eu sinto muito.-,ela diz e me abraça.

-Tudo bem,esta tudo bem.-,solto meias palavras e engulo o choro.

Nunca gostei de chorar com plateia. Não só por orgulho,mas sim,por achar que ninguém se importa de verdade.

-Veio me salvar?-,ela pergunta meio entusiasmada.

-Não.-,digo e ela abaixa a cabeça e dá meia volta.

-Então pode ir.-,ela diz ainda de costas.

-Onde ficou o seu senso de humor? No cabelo estiloso do Gregório foi?-,solto uma risada.

-Como você pode fazer piada quando estamos em perigo e a Cristal... Se foi?!-,ela diz voltando-se pra mim.

-É o jeito que eu encontro pra não desabar e jogar tudo pro alto..-,dou meio sorriso.-Vamos,perdemos tempo demais.

Sem deixar ela dizer algo,a puxo pelo braço e a conduzo ate a janela. Ela desce e logo em seguida eu faço o mesmo. Juntas encontramos um outro quarto e entramos. Conseguimos voltar para os corredores. Entre um e outro.

-Filha??-,ouvi o chamado de minha mãe e sem pensar duas vezes me encolhi nos braços dela.

-Mãe..-,ela não me deixou completar.

-Eu sei filha. Já sei de tudo. Seu pai já prendeu os homens que estavam tentando lhe fazer mal. Não precisa mais temer.-,a interrompo.

-Mãe quero ver Cristal pela última vez.-,sou interrompida.

-Filha a Cristal...-,a interrompo.

Por favor,se me deixa me despedir dela. Por favor?!-,digo aos prantos.

Não da pra ser forte sempre,uma hora você desaba,literalmente. Eu só queria a minha vida de volta,com todos os conflitos que eu achava que eram os maires e piores do mundo,e não de fato os maiores e priores do mundo. Tudo mudou repentinamente. E saiu do controle,aliás, ficou ainda mais descontrolado.

-Está tudo muito belo,muito bom.. Mas e o meu problema? Sabe.. Com o cara que me sequestrou.. Lembram.-,Megie quebra o meu raciocínio.

-Não se preocupe. O andar está cercado e já temos as informações para aprendermos Gregório. E já chamamos os seus pais,eles estão a caminho.-,Minha mãe responde e sai para atender o celular.

Ficamos sentadas no sofá que ficava no canto da parede e observamos minha mãe andar de um lado para o outro.

-As nossas vidas se cruzaram de uma forma trágica. Queria ter conhecido vocês antes. Teria sido melhor..-,ela pausa.

-Senhorita Sophia?-,um homem alto chegando perto diz.

-Sim?!-,lhe respondo.

-Posso saber quem quer falar com minha filha?-,minha mãe deixando o celular de lado,se aproxima.

-O meu nome não é importante. Tenho uma mensagem pra você.-,ele termina e retira um papel do bolso do paletó e se retirou.

Só o cheiro do bilhete já me arrepiou a alma. Tinha o perfume de Cristal em todo o pequeno papel. Meu coração acelerou de uma forma,que parecia que a qualquer momento iria explodir ou parar de vez.
Me levantei e sai de perto delas,seja lá o que estivesse escrito,era só pra mim. A dor ou a felicidade só desrespeitava a mim. Abri. Comecei a ler.
                Começo do Bilhete
"Meu amor,serei breve,saiba que eu sempre vou amar você. E mesmo só tendo o seu amo por um curto período, já valeu todos os anos que fiquei te amando de longe,te desejando de longe. Está doendo ter que escrever,sem poder te dizer Adeus. Sem um último abraço,um último beijo e um último eu te amo. Por favor,nunca desista dos seus sonhos. Eu vou estar com você sempre. SEMPRE. Me perdoa, eu estou quebrando a promessa de nunca te abandonar,mas não tenho escolha. E perdoa esses pingos no papel,algumas palavras estão borradas,mas não como meu rosto,com tantas lágrimas correndo rosto abaixo. Dá um beijo na Elasa,cuida da nossa pequena. Não tenho mais tempo. Adeus.
PS:Eu amo você, amo você pra sempre.
                    Fim do bilhete

Os borrões dela se misturaram com os meus. Se a esperança é a ultima que morre,então, como fica quando ela também morre? Essa resposta é fácil :nada. Procurei forças pra levantar e  lutar,mas lutar pra quê e contra o quê. Tudo o que quero é ficar sozinha. Quero sumir,quero gritar,a quero de volta .

Porque eu sei.. Que é Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora