Algumas horas se passaram e eu continuei sentada no chão frio daquele corredor, quieta,calada e quase imóvel. Observei a movimentação por causa de Megie, que aconteceu assim que os pais dela a viram depois de anos. Fiquei feliz pela felicidade deles,mas não dá pra deixar a falta da minha de lado.
Me senti indiferente em certo momento daquela situação. Não quis mais estar ali, então peguei o fone velho que estava na bolsa de minha mãe, peguei meu celular e na lista de músicas passei o dedo,fechei os olhos e cliquei em uma música aleatória. Para a minha surpresa era a música "Photograph-Ed Sheeran" que me levou direto para os braços de Cristal. A música tem essa magia de nos tirar da realidade mórbida e nos levar para o país das maravilhas.- É o coelho falante do século XXI.-,digo a mim mesma.
Após dar a devida atenção para os familiares de Megie,minha mãe veio até mim e se sentou ao meu lado. Sorrimos uma para a outra,mas nada de palavras. Ela me abraçou e ao pé do meu ouvido disse:- Ah filha! Essa sua tristeza vai passar tão rápido que você não vai nem lembrar da existência dela.-,e volta a sorrir.
Sem entender,mas entendo ao mesmo tempo,fiz que sim com a cabeça e voltei o rosto para o celular. Ela se levanta e volta ao "trabalho". Megie fez o mesmo trajeto que minha mãe, tão simetricamente, que me deixou espantada. Parecia que haviam feito algum ensaio. Ela se senta e puxa meu celular.
-Eiiii!!-,digo e franzo a sobrancelha.
-Só assim pra te trazer de volta pra vida real.-,ela diz ao esquivar quando tentei tomar o celular de volta.
-E quem disse que eu quero voltar? Agora me devolve? Por favor?-,digo ainda irritada.
-Não. Mas se quiser venha pegar.-,ela diz e se levanta.
-Para de brincadeira Megie. Vou trazer o Gregório de volta e pedir desculpa por todo o transtorno que causei a ele.-,ao dizer caio na risada.
-Ha ha ha ha.. Tão engraçada. Agora vem.-,ela diz cruzando os bracos.
-Mas que droga.-,levantei quase voltando a sentar e dou uns três passos até ela.
Megie faz que vai me devolver o celular e corre. Abro os braços pra mostrar a minha frustração e vou atrás dela. Virei o corredor e ela estava no meio do mesmo. Revirei os olhos e mesmo assim fui ao encontro dela.
Me aproximando dela respirei fundo,algo me dizia que ela os correr novamente. Mas me enganei,ela apenas entrou no quarto que ficava ao seu lado. Entrei.
Sabe aquela sensação que você sente quando te fazem um aniversário surpresa,ou algo similar?
Paralisei ao entrar e ver Elasa vir ao meu encontro. Desde o meu acidente não havia visto a pequena. Uma felicidade indescritível tomou conta de mim. A peguei no colo e a apertei de uma forma carinhosa.
Sabe quando você esta com muita raiva de uma pessoa, e essa mesma pessoa te faz rir? Você fica confusa,pois a raiva se foi de uma forma que você não queria que fosse. Foi exatamente o que Elasa fez. Arrancou a tristeza que estava aqui dentro,mesmo que por alguns minutos,horas,dias, o que me importava era a felicidade que ela trouxera.
-Valeu apena ter corrido atrás de mim,não foi?!-,Megie se vangloria.
-Você não faz ideia. Muito obrigada, eu precisava disso..-,digo e volto a fazer carinho em Elasa .
-Não precisa agradecer.-. diz.-Aqui,seu celular.-,ela continua e me entrega.
Pego-o e guardo-o no bolso. Coloco a filhote no chão,vou em direção a Megie e a abraço. O mais apertado que posso. Permanecemos assim por uns 3/4 minutos,pois fomos interrompidas.
-Meninas !-, Julie entra na sala eufórica mas logo desfaz o sorriso ao ver a pequena Elasa indo em sua direção.
Antes que ela pudesse abrir a boca pra nos dar um sermão sobre tudo o que aconteceria se alguém a visse,eu a tomei no colo e lhe dei um sorriso sem jeito.
-Antes que fale algo,quero lhe dizer que isso faz parte da minha melhora. Elasa me ajudou a diminuir toda essa angustia que estou sentindo. E você como diretora deste hospital,deve incentivar os meios que irão renovar no tratamento dos pacientes,e eu como uma, quero que entenda.-,disse tão rápido que precisei repôr o fôlego. Consegui fazer minha mente pensar em uma desculpa tão boa, que por fim fez muito sentido.
-Entendo perfeitamente,desde que não comprometa a recuperação dos outros pacientes dona Sophia. Mas mudando de assunto..-,ela da uma pausa.- Queria saber se sua mãe já lhe disse o que tanto queria dizer. Ela falou algo com você?
-Não. Pelo menos nada de muita importância, apenas alguns concelhos que seguirei a risca.-,digo soltando um sorriso sarcástico.
Julie parece se arrepender de ter perguntado e coça a cabeça, um pouco sem jeito. Como não entendi ao certo o que ela queria com a pergunta, voltei a minha atenção para a pequena filhote e joguei uma bola de plástico que servia de decoração para a mesa ao lado da cama. Elasa por sua vez não pensou duas vezes ao correr em direção a bola e sair com ela pelo quarto. A felicidade é tão simples,que com a nossa pressão sobre como ela deve ser,que sem querer, ou querendo,deixamos ela passar despercebido. Damos tanto crédito a tristeza que na guerra do bem e do mal,ela sempre vence. É tão complicado enchergar a simplicidade das coisas,que acabamos transformando-as em nada.
O mundo pareceu que deu uma pausa em todos os seus a fazeres para prestar atenção nos meus pensamentos malucos. Pois como em um sonho que podemos controlar,comecei a notar detalhes importantes nesse momento.
-Posso fazer algo.. Devo fazer algo.. Será?-,penso alto e elas ouvem nitidamente.
-O que você pretende fazer? Sobre o que? Podemos saber?-,Julie diz entressada.
Porém,antes que eu falasse qualquer coisa,a porta se abre.
-Julie estava a sua procura. Precisamos resolver a questão de Cristal.. -, minha mãe dá uma pausa ao me ver no canto do quarto.
-Cristal?? O que precisam e resolver? Mãe o que esta me escondendo?-,levantando vou em sua direção.
-Ah... Minha filha... Precisamos conversar.-,ela se afasta,como quem quer privacidade.
-Não! Como parece que todos aqui sabem o que esta havendo, menos eu,não vejo problema em dizer na frente delas mãe.-,meu tom já estava mais do que alterado.
Ela respira fundo e diz :
-Sophia a Cristal precisa de você.-,e se cala.-Não estou entendo. Como ela pode estar precisando de mim... Um momento... Ela está viva?!-,nesse momento meu coração bateu tão forte que chegou a doer.
-Sim filha.-,minha mãe deu um pulo seguro de alegria.- não contamos antes por que não tínhamos a certeza..-, a interrompo.
-E agora tem??-,senti meu corpo esfriar drasticamente.
Julie percebeu que meus lábios estavam perdendo o rosado e pediu pra que dessemos uma pausa na conversa,o que me deixou irritada.
-Nada disso Julie. Eu já passei por tanta coisa, que posso até me considerar uma "Super Girl",ainda que sem poderes visíveis.-, digo.
-Filha vem cá,senta aqui.-, ela indica a cama e eu o fiz.- Aconteceram algumas coisas nesse breve meio tempo..-,ela suspira.- Cristal não foi levada por aqueles homens que estavam atrás de você, mas sim por seu próprio pai..-,a interrompo
-O pai dela? Mas como?-,pergunto confusa.
-Por favor não interrompa filha,a historia é longa e complicada.-,faço que sim com a cabeça.- Voltando.. O pai de Cristal veio buscá-lá para protegê-la. Nenhum mal foi feito a ela,muito pelo o contrário. Estão cuidando de Cristal. Porém esse ocorrido certamente foi difícil pra ela,como vai ser pra você também. O pai de Cristal é o diretor do colégio que vocês estudam. E ele é um velho amigo nosso,assim como sua falecida esposa. Ele não é somente mais um diretor,mas sim um mafioso que largou seu posto para se dedicar a filha, mesmo ela não sabendo. Para a proteção de Cristal ele não a registrou por temer que ela sofresse algo,assim como tentaram fazer com você.-,a interrompo.
-Julie acho que vou precisar de uns remédios depois disso.-,dou algumas risadas,não sei se apenas de alívio, ou por já saber,de forma subtendida, que o diretor era o pai de Cristal.
-E é bom aproveitar e marcar um exame psiquiátrico também.-, Megie ironiza.
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Porque eu sei.. Que é Amor.
De TodoHistória lésbica. Sophia uma garota de 15 anos que não vê a sua sexualidade como um bicho de 7 cabeças.Ela em meio a bagunça interna,descobre de forma repentina o que é amar. E que a sua bela,porém conturbada vida amorava não está nos padrões da soc...