Prólogo

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- Não querem me deixar ficar lá! Simplesmente não querem! – Frank exclamou, os olhos vermelhos pelo choro constante e recente, ao que corria até Mikey, assim que o amigo surgiu repentinamente acompanhado de Bert, os dois com enormes copos de café em mãos. Traziam um terceiro consigo, possivelmente para Frank, que se sentiu quase feliz.

Quase.

Era manhã seguinte ao Natal, os três ainda usavam roupas do dia anterior e esboçava expressões derrotadas e cansadas ao extremo. Que o diga Frank, que parecia tão doente quanto a velha senhora que passava ao seu lado, de cadeira de rodas, pelo corredor principal do setor de emergência. Os amigos conseguiam ver claramente que havia um nuance de desistência em seu olhar, prestes a jogar-se em algum canto e ceder ao sono, que não vinha desde a noite anterior... Desde ter Gerard em seus braços o aquecendo e beijando-lhe a têmpora.

Frank se sentia fraco, além de péssimo e o café era mais do que bem vindo, assim que o pegou das mãos tatuadas do amigo mais baixo, que bocejou enormemente, denotando que o café não estava fazendo o efeito desejado. Os três estavam prestes a cair, mas, por Gerard, se mantinham firmes.

- Gerard ainda está desacordado e sequer pode ser aquele riquinho teimoso de sempre pra me mandar ficar com ele... – Frank comentou, sorvendo vagarosamente o café, resmungando para si ao sentir o sabor do cappuccino em sua boca, algo que nunca aconteceria se Gerard tivesse lhe comprado seu caramelado habitual. De qualquer forma, era algo para mantê-lo acordado por alguns minutos e não queria reclamar com os amigos... Eles já estavam fazendo demais por ele. – Eu tenho tanto medo... E se... – Era inevitável, ele iria se preocupar, iria começar a problematizar tudo e Mikey o interrompeu prontamente, antes de qualquer surto.

- "E se" porra nenhuma... Gerard vai ficar bem. – Mikey acertou um leve tapa no ombro de Frank, do tipo que dizia "Eu acredito nisso, vai ficar tudo gay e saltitante entre vocês novamente", ao que o amigo fazia sinal para que ele e Bert se sentassem em uma das poltronas da sala de recepção daquele andar. O local estava vazio, só havia aquelas três figuras estranhas e cansadas se arrastando para um ponto diante da TV, onde passava o noticiário local, e Mikey se sentiu um pouco confortável em prosseguir. – Quando ele acordar, vamos procurar outro médico pra ele. Não vou com a cara desse infeliz e não quero pagar com a vida do meu irmão pra ver se o cara é um bom profissional... – se sentou, Frank se largando na cadeira entre ele e Bert, ajeitando os óculos sobre o nariz, quando este quase caiu. Voltou-se ligeiramente para o lado, para observar Frank com a ponta do nariz avermelhada, prendendo o choro nitidamente. – Não quero que você chore... Me diga o que o médico disse pra você. – o viu respirar pesadamente, enquanto Bert afagava seus cabelos com a mão livre, ainda em silêncio, sonolento demais para intervir.

- Que ele está dopado por causa da endoscopia que fizeram nele... Mas que está respondendo bem aos remédios, ao menos por enquanto. Ele acordou durante a madrugada também, mas não conseguiu assimilar muita coisa. – Frank havia passado todo o tempo ali, enquanto Bert havia levado Quinn para casa e Mikey havia voltado para Alicia e Daisy, a fim de acalmá-las um pouco. Iero havia pedido para os amigos irem, acreditando que iriam descansar, mas nenhum dos dois sequer pensou nisso e ele tinha a prova no celular, no grupo de conversa dos três, que passaram aquela noite conversando amenidades, tentando encontrar uma distração. – E eu também não fui com a cara daquele médico, você sabe... Aliás, ele não fez uma cara muito simpatia quando chamei o meu noivo de... Bem, "meu noivo"...

- Você só falta colocar isso num cartaz e pregar em todos os corredores do hospital, mas tudo bem... – o tom de voz de Bert era lento, os olhos azuis ainda focados na TV ligada diante de si, pregada à parede em um ponto mais alto da sala, como se a previsão do tempo fosse muito importante. – E você... Como está? – em súbito, desceu o olhar para o amigo, que encolheu-se e se limitou a olhar o copo que tinha em mãos. – É o tipo de situação que faz você... Bem, você sabe, pirar... E chorar como um bebê.

- Eu já chorei como um bebê, mas acho que estou controlado... Gerard precisa de mim assim. – Frank suspirou, encarando os dedos tatuados envolvendo o copo branco de café, um nuance de mentira e tremor percorrendo sua voz, mas sendo irreconhecível para os amigos. Mas, para o coração apertado de Frank, era mais do que claro. – Ele não precisa de um louco gritando por todo o hospital. Só é difícil... É como se todo o episódio em New Jersey se repetisse... E eu ainda me sentisse mais culpado por não ter estado com ele ao longo das outras crises. Se eu não aguento mais hospitais e clínicas, imagina vocês.

- Isso vai passar... Assim que acordar, tenho certeza de que Gerard vai ter um plano. Você está de volta, vocês vão casar... Ele não vai morrer tão cedo. – a menção do verbo, mesmo que dita pelo tom sarcástico de Bert, fez Frank se contorcer na cadeira, ciente de que Gerard e morte não combinavam de forma alguma na mesma frase. – O espírito daquele gordo é teimoso o suficiente pra fazê-lo ressuscitar em menos de um dia e nunca mais sair do seu lado.

- Você sabe mesmo acalmar as pessoas. – a ironia de Mikey fez Bert estirar a língua em sua direção, enquanto ele e Frank, simultaneamente, levavam o copo de café para rente os lábios, enquanto o magrelo continuava. – Nós três precisamos ter calma, é o tipo de coisa que ajuda à ele... Gerard não parece, mas é muito mais sensível ao mundo do que pensa. – e não iriam muito longe em justificar aquela afirmativa, ao lembrarem de como Gerard parecia completamente instável com qualquer mudança em sua vida, a começar por ter Frank ausente dela por algum tempo e, automaticamente, passar semanas e mais semanas no hospital.

- Odeio essa espera. Sempre achei que Gerard deveria ser proibido de ficar longe de mim. – Frank sabia que a frase era egoísta demais, mas não conseguia se segurar, sentia seu coração cada vez menor e, se não fosse pelo café, ou a distração dos amigos, ele ficaria resumido a um nada e Iero provavelmente se tornaria um rapaz pequeno, encolhido em algum canto daquele hospital. Esperando para o dono de seu coração retornar e revive-lo do jeito que só Gerard sabia. – Gostaria muito de fumar, mas...

- Não mesmo, te encho de doces ou qualquer comida que você quiser, mas você não vai fumar, nem tocar em droga alguma... Nem mesmo cerveja. – o sermão de Mikey veio em cheio, acertando Frank naquele baque que o fez assentir veementemente com a cabeça, antes de fechar os olhos e deixar o corpo, lentamente, aconchegar-se na cadeira nada cômoda, o copo de café apoiado em uma das coxas, enquanto escutava o amigo prosseguir. – Eu sei que vida tem essa mania horrível de foder vocês dois, mas eu falo sério, Frank... Vai ficar tudo bem. Eu acredito na felicidade e eu sei que você, mais do que qualquer pessoa que eu conheço, acredita também.

Frank acreditava, claro que acreditava... Mas Gerard era sua felicidade. E enquanto sua felicidade estivesse abalada, enquanto ele estivesse deitado em uma cama de hospital, longe da vida que estavam a um passo de viver, o pequeno garoto (que não era mais garoto, por sinal, que havia se tornado homem) iria entrar em um colapso. Não do tipo anterior, quando se definhava com a droga... Mas em seu nervosismo, em seu ar tão sensível, o mesmo ar que havia feito com que o homem, deitado na cama do hospital em alguns corredores de distância dali, se apaixonasse diariamente por ele.

Sua felicidade, seu Gerard... Seu futuro.

O futuro recheado de risadas, beijos, abraços apertados... Imagens que vieram como relâmpagos em sua mente, enquanto Frank apreciava o silêncio que os amigos haviam feito, enquanto simplesmente... Era um sonho? Um deja-vu? Ou Frank estava tendo visões? Do tipo em que Gerard sussurrava coisas doces em seu ouvido e ambos eram interrompidos pela risada alta de uma criança... E Frank estava prestes a abrir os olhos, quando viu o pequeno garoto, claramente, diante de si e de Gerard, jogando-se entre os dois, afastando-os bruscamente, enquanto o casal gargalhava, recebendo o pequeno.

Seu futuro. Era ele... Não era loucura. E da mesma forma arrebatadora que veio, desconexa e em borrões de imagem, se foi. Mas deixou com Frank um sorriso simples, singelo, do tipo que escondia um suspiro aliviado. Ele viria... Tinha certeza de que viria. Ou melhor, ela... A sua felicidade.

Frank nunca iria desistir do seu sorriso, dos olhos esverdeados... Frank nunca iria desistir de Gerard.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now