23 - Frank

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- Não é nada! – exclamei a primeira frase, logo voltando-me para as duas enfermeiras, com um sorriso mais ameno e sincero, contrapondo meu nervosismo por ser pego por Mikey. – Com licença, eu preciso... Ahn... Preciso conversar com o meu cunhado. – ponderei, rapidamente, deixando as duas em paz, um pouco orgulhoso de ter realizado um papel importante na vida de uma criança, até então, desconhecida, por mais que eu soubesse que era muito provável que encontraria sua família, seu nome seria Dean por apenas alguns dias e viveria uma vida boa e feliz. Bom, eu estava cinquenta por cento errado. – Não me olhe desse jeito, Mikes.

- Olha, eu queria muito fingir que não reparei em nada... Mas me pareceu que você estava todo encantado por bebês antes de me ver. – Mikey cruzou os braços, acusativo, parado no meio do caminho, ignorando minhas tentativas de empurrá-lo por um dos ombros para que voltássemos a andar e sair dali. Meu amigo apenas revirou os olhos, segurou meu antebraço e com sua melhor expressão falsamente entediada, me segurou para que andássemos de volta até o vidro enorme que protegia aquelas pequenas crianças do mundo exterior. – Anda pensando em roubar um desses para o meu irmão?

- Mikey! – grunhi, a voz saindo completamente fina, em comparação com meu tom mais firme de sempre, empurrando-o pelo ombro, quando assim ficamos lado a lado, o olhar dele tão concentrado nos bebês naquela sala, enquanto eu tentava sorrir tranquilamente para as duas enfermeiras, ainda paradas em frente a porta da sala ao lado do berçário, nos observando em um misto de curiosidade e divertimento (esse último vindo de Emma). – Eu não vou roubar criança alguma, eu só parei aqui pra me distrair um pouco... Seu irmão está fazendo outro exame e você estava demorando demais, então...

- Então decidiu fazer um teste pra ver se você consegue aguentar um desses capetinhas. – "Quer parar?!", grunhi com sua implicância, ainda que Mikey falasse aquilo tudo com um sorriso no rosto. Do tipo que abria quando via Daisy diante de si, denotando que meu cunhado poderia ser indelicado, mas ainda sim era pai... E se sentia emocionado/sensibilizado em uma situação como aquelas. Me perguntei, vagamente, se estava pensando em fabricar outro com Alicia, quando Mikey soou como o Mikey estranho de sempre. – Nem parece que daqui a alguns anos, essas coisinhas vão virar monstros que cagam na sua mão.

- Nem parece que é o "pai do século", de acordo com as palavras da sua esposa. Se bem que... Ela é suspeita em falar. Ela não sabe trocar uma fralda da Daisy sem ficar cheia de merda nas unhas e dar um ataque. – prendi uma risada, ao escutar o xingamento de Mikey às minhas palavras, enquanto deixava meu olhar percorrer o berçário, tentando disfarçar o fato de que, volta e meia, acaba recaindo sobre o pequeno Dean, sob os cuidados de uma dupla atenciosa de enfermeiras, que ainda verificavam seu estado.

- Há, não ofenda a minha esposa linda... Mas... Talvez você tenha um pouco de razão. – ele sussurrou a última frase, realmente me fazendo rir, enquanto me punha a tamborilar meus dedos sobre o vidro, delicadamente, nada muito escandaloso, mas, internamente, desejando que o bebê fosse alguma espécie de criança mutante e conseguisse me ver ali, assim como eu dava total atenção e ele. – Então... É aquele ali, huh? Foi ele que fez você ficar assim, todo descompensado? – e Mikey obviamente havia notado, ajeitando o casaco de moletom que usava, com sua típica expressão de "Ganhei na loteria, velhinho", me fazendo acreditar que, na vida real, eu era o Patolino, que sofria nas mãos do chato Pernalonga, e Mikey era o coelho maldito.

- Não... Não é. – fiz uma pausa, desviando bruscamente meu olhar para uma das meninas mais próximas de onde estávamos, como se o bebê imóvel fosse realmente muito importante. E eu ainda sentia Mikey me perfurar com seu olhar insolente e divertido, me tirando do sério pouco a pouco. – Mikey! Quer fazer o favor de parar de me olhar?! – não precisei sequer conferir se estava certo, quando meu melhor amigo resmungou um "Eu te conheço, Frank... Fale logo!", que não havia sido o bastante para me convencer. Digo, o Frank do passado precisava de mais do que aquilo, mas eu estava cansado... E estava encantado, aquele sentimento estranho fervilhando dentro de mim. – Dean... Aquele ali. – apontei para o bebê, conforme as enfermeiras do lado de fora já haviam nos deixado sozinhos, as que estavam do lado de dentro também e o pequeno Dean parecia imerso em sonhos aparentemente agradáveis, por sua expressão pacífica. – Ele acabou de chegar aqui... A mãe faleceu no parto.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now