37 - Frank

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Donald estava entregando os pontos... Lentamente, eu diria. Um passo mínimo em direção a algo que ele parecia ter entendido ser necessário. Não só para si, mas, principalmente para Gerard... E como eu enxerguei aquilo tudo? Bem, digamos que aquele olhar era muito parecido com o qual o meu marido parecia prestes a se entregar, após alguma grande besteira feita. Aquele era um olhar de culpa, mas também cheio de dor... E, ali, eu senti imediata e arrebatada pena de Donald.

Por toda sua trajetória até ali, os problemas em que se meteu, os que procurou por livre e espontânea vontade de sofrer e se martirizar por dramas que já deveriam estar enterrados. Pena por saber que ainda doía tanta coisa naquele homem, que pouco poderia ser feito, a não ser esperar, escutá-lo e tentar acreditar que aquilo poderia ser realidade dali a algum tempo. Eu sempre fui de acreditar em pessoas, nas mais difíceis e problemáticas possíveis, e minha atenção voltada para Donald era a prova de que todos os traumas do mundo poderiam estar agarrados em mim, mas eu ainda pregaria esperança de alguma forma.

- As pessoas não mudam da noite para o dia, eu sei bem disso... Mas eu quero tentar acreditar no que diz. – fui sincero, por mais que meu tom de voz fosse cauteloso, acuado por um homem que já havia me batido antes e por tão pouco. E Gerard respondeu com um xingar baixo, contrariando minhas palavras, então as direcionei a ele, com toda a calma que minha lentidão me permitia. – Eu disse pra você que deveria dar uma chance pra ele, é seu pai... Eu sei o quanto é difícil... Mesmo que pareça que possa ser alguma enganação.

- Não é. Eu sei que posso gerar eterna desconfiança, não aceito muita coisa, mas não quero ter que aturar mais drama, quero entender também. – Donald pareceu honesto, realmente honesto, de uma forma que nunca havia registrado na vida, até então. O homem que sempre julgava o filho, o culpava por seus próprios erros e me arrastava para tudo aquilo, parecia pequeno, em uma base de descontrole e medo anormais. – Não tenho mais idade pra isso e quero saber se meu filho está realmente bem, sem precisar invadir hospitais e quartos sem aviso, sem precisar atingir pessoas pra isso. – e sabia que estava falando de mim, do episódio anterior, quando Gerard praticamente enlouqueceu por me ver ferido por sua causa.

- Você pode ligar pra clínica, como sempre faz. Ou pedir pra alguém me espionar, você sempre dá seu jeito. – Gerard argumentou, não furiosamente, mas com uma mágoa característica em sua voz baixa, mais contida. Vi seus dedos ajeitando-se sobre a cama, enroscando-os ao lençol que o cobria, ainda imóvel. Incomodava-me vê-lo assim, imóvel e cuidadoso, mas ao menos era certeza de que estava cuidando mais de si mesmo do que simplesmente agir pelo impulso de suas emoções. Como eu havia feito ao ir até ali.

- Eu sei muito bem que você e Mikey são as únicas coisas que eu tenho, isso está pesando cada vez mais na minha vida. Saber que você está aí, nessa cama, tão jovem, me faz pensar nesse tipo de coisa. – Donald encarava o filho, as mãos inquietas logo sendo guardadas nos bolsos frontais de sua calça, antes de continuar. E eu podia ver emoção, certeza em querer colocar aquilo para fora... Era uma cena que talvez eu nunca mais fosse esquecer, tamanha a intensidade com que a desejei desde que eu e Gerard tivemos que enfrentar a ira daquele homem. – Sua mãe estaria uma fera com tudo isso... – "Não ouse falar dela.", Gerard grunhiu e eu me ajeitei instintivamente no sofá, pronto para intervir, caso algo meu marido resolvesse ignorar seu estado de saúde. – Falo, pois é por ela que estou aqui... Donna me fez pensar, me colocou no lugar mesmo quando não está mais aqui. – Pela primeira vez, a voz de Donald tremulou e o vi engolir o seco, respirar fundo e retesar sua expressão ainda mais, sabendo que o filho obviamente não iria responder aquilo da melhor forma. Então eu vi que não era Gerard quem mais se via abalado pela falta da mãe, mas era Donald... Aquele homem havia perdido a única pessoa que acreditava nele, que o amava de verdade... E ainda pensava, guardava aquele carinho consigo de alguma forma. Eu vi os olhos de Donald brilharem por reles segundos, mas o suficiente para que eu não esquecesse daquilo.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now