43 - Gerard

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- Frank, você não precisa me fiscalizar a cada passo que eu dou. Eu estou bem... Só preciso ir um pouco devagar. – comecei, assim que adentramos o elevador do meu prédio, após Bert e Mikey já terem subido com nossas mochilas e coisas emaranhadas nos braços, sem sequer nos esperar.

Não discuti nem nada, apenas tentava ser paciente com um Frank controlador demais e que me irritava. Meu marido agia como se eu fosse quebrar a cada movimento brusco e eu até tinha achado adorável aquela atitude, até entrarmos no carro de Mikey e todo o drama se estender até chegarmos ao nosso prédio. Era muito provável que eu tomasse a mesma atitude, se estivesse na posição dele, mas eu queria ter um pouco mais de autonomia... Queria poder me sentir menos frágil e não receber olhares dos outros, como se esperassem que eu desmaiasse a cada passo que dava. E era exatamente o que Frank estava fazendo.

Vi sua expressão acuada por meu comentário, um tanto quanto sentido por gostar de ser cuidadoso comigo. E eu sorri, o olhando pelo reflexo do espelho do elevador, enquanto ele acionava o botão do décimo terceiro andar, naquela familiaridade que me trazia um aconchego sem fim. Por mais que eu estivesse nitidamente mudado... Mais pálido, ainda um tanto magro e assustadoramente desprovido de meus cabelos. A touca escondia a ausência deles, parecia apenas que eu tinha os cabelos curtos demais, mas eu sabia que não havia nada ali e ainda era um pequeno peso em mim.

Poderia ter feito um pouco mais de drama sobre aquilo, mas precisava ser feito e já havia sido, não havia como colar meu cabelo de volta e eu aceitei a situação como uma "purificação" ou algo do gênero. Deixar tudo para trás, me livrar de todo o mal naquele hospital, preocupar-me somente com as páginas novas da minha vida que eu deveria preencher. Todas elas com Frank, claro... O meu chorão e tão sensível marido, que, naquele minuto, parecia fazer um pouquinho de drama, ao evitar me olhar. Frank odiava ser negligenciado quando queria me mimar e eu precisava fazer algo a respeito, caso não quisesse sentir a fúria daquele pequeno tão dramático.

- Me dê a mão, anda... Eu deixo você me guiar até a porta do nosso apartamento. – Nosso, pois eu não sabia exatamente se iríamos para o dele ou o meu... E, que seja, os dois nos pertenciam em conjunto e, com Frank ao meu lado, qualquer lugar era a minha casa. – E eu vou deixar você me mimar bastante também... Agora tire essa cara de uva passa do rosto. –Pronto. Frank gargalhou, como sempre morria de rir das minhas piadas mais idiotas do mundo, voltando-se em minha direção e enroscando nossas mãos em uma rapidez tão típica dele. Apertei nossos dedos e não o repreendi quando, como aquele gatinho carente e inquieto que era, Frank se aproximou de mim e me beijou a curva do pescoço, mandando uma carga alta de energia por todo o meu corpo... Alta o bastante para que eu precisasse descer meu olhar para a minha calça e checasse se tudo estava calmo ou não. Eu precisava mesmo de certa atenção.

- Minha cara de uva passa é adorável, ovo de codorna. – e mesmo que a falta do cabelo fosse um drama interno de minha parte, eu não deixei de sorrir, sendo puxado por Frank, que se afastou de mim como um relâmpago e passou a caminhar delicadamente para fora do elevador. Se aquela coisa não tivesse sensor de movimento, eu tinha certeza de que nós dois seríamos esmagados pela porta, tamanha a sua lentidão.

- Vou precisar comprar shampoo pra essa merda crescer o mais rápido possível, jamais vou superar esse apelido maldito. – "Você é um viadinho adorável.", Frank afirmou e eu não tive outra escolha, a não ser sorrir. Ele ainda me puxava, ainda que andássemos quase lado a lado, por aquele corredor mais do que conhecido. Tantas memórias, tantos dramas, mas, naquela tarde de sábado em questão, eu havia chegado à conclusão de que nunca fiquei tão feliz em ver aquelas paredes frias brancas e a porta amadeirada do meu apartamento entreaberta, à minha espera. –Eu espero que aqueles dois não estejam destruindo o meu loft... Você me disse que eles limparam tudo ontem? Eu achei que você fosse me amar, quando saíssemos do hospital, não que fosse me punir com meu apartamento destruído de novo... – Aquela memória era um pouco dolorosa, mas Frank levou tudo em um ótimo humor... Tão radiante, que eu já deveria ter desconfiado de que havia aprontado alguma coisa de verdade.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now