15 - Gerard

302 36 14
                                    



Boa parte de mim queria chorar. Eu não sei de onde havia saído tanta sentimentalidade, mas era quase ineficaz em manter meus olhos não lacrimejantes durante os últimos dias, mesmo que eu me forçasse a sorrir e ser aquele homem alegre diante de Frank. A outra parte, talvez a metade de um Gerard que já estava se estressando por viver em uma cama de hospital, queria gritar, arrancar aqueles tubos de mim e expulsar aquele homem do quarto o mais depressa possível.

Antes que causasse mais danos, antes que Frank tivesse que lidar com mais coisa do que já estava lidando. Aliás, os dois Franks, por assim dizer. Ninguém merecia aquilo e eu... Eu muito menos. Não tinha uma gota no meu mar de paciência que era capaz de aguentar meu pai depois de tudo o que eu estava passando. Eu era forte de muitas formas e havia aprendido a lidar com todo o tipo de merda que brotava em minha vida sem aviso. Mas meu pai... Aliás, Donald era demais.

Aquele homem vinha carregado de tantas memórias, que eu sentia cada pedaço do meu corpo fervilhar com a sua presença. Eu não sabia se era efeito dos remédios sob mim, mas não havia questionamento a respeito do impacto daquele homem, que deveria ser um dos pilares da minha vida, sobre mim. Era nítido, me deixava fraco e mais apático do que a doença já o fazia e, claro, me lembrava de minha mãe. De cada episódio que eu e meu irmão vivenciamos de um mal que ela carregava consigo e que havia sido escondido de nós dois, do quanto aquele infeliz havia feito questão de esconder que nossa mãe estava morrendo.

Claro que havia uma parcela de culpa de Donna, eu não era tão ingênuo assim, ela sempre havia sido uma mãe super-protetora. Mas Donald... Ele sequer havia chegado aos pés de um pai exemplar. E sua presença ali era a quase certeza de que ele seria capaz de colocar a culpa daquele câncer em mim. Ou em Frank, pois aquela mente insana era nitidamente descompensada ao ponto de culpar o meu marido por todas as doenças malignas que existiam no mundo atual. Ou até as que passaram por ali.

- Gerard, você quer que... Quer que eu faça algo? – a voz doce e sussurrada de Frank me despertou, fazendo com que eu piscasse os olhos preguiçosamente, sentindo-os embaçados pelas lágrimas que teimosamente quase me escaparam naquele meio termo entre "lidar com Frank todo sorridente e lindo ao meu lado" e "meu pai novamente resolveu azucrinar minha vida sem aviso".

Olhar para Frank era o que me mantinha firme naquela cama, inapto de me levantar e fazer alguma coisa com que eu iria me arrepender ou me prejudicar. Eu estava fraco, mas minha mente trabalhava em mil maneiras de tirar aquele homem do meu quarto. Mas era o olhar de Frank que me fortalecia e me capacitava a ficar ali, em repouso, sentindo seus dedos delicados, ainda que extremamente trêmulos, sobre os meus, ainda bem presos à sua coxa.

Não queria me livrar daquele contato por nada, pois aquele simples apertar em sua perna, as mãos dele massageando e soltando a minha delicadamente, para agarrá-la mais uma vez. De tal forma, Frank parecia acariciar minha alma, de forma a impedir que eu me desfalecesse apenas com a presença da última pessoa que eu queria ver em uma situação como aquelas. Eu não estava apenas fraco corporalmente, mas como espiritualmente e Frank e seu olhar sincero, preenchido de uma preocupação sem fim, faziam com que eu conseguisse colocar meus pensamentos em ordem.

Gritar não era uma opção. Não naquele momento em específico... Mas Frank sabia, só de me olhar e assentir com a cabeça, de que eu estava me prendendo ao máximo e eu também sabia que se eu explodisse, falasse todas as verdades do mundo, Frank não iria me segurar.

- Eu não... Não quero olhar pra ele, Frank. – o respondi finalmente, após segundos o encarando e buscando integridade em tal situação, que haviam tido a duração de minutos. E assim que o meu menino desviou o olhar para frente, cravando seus olhos amendoados em meu pai, todo pomposo e trajando seu melhor conjunto social e uma gravata vermelha, pronto para livrar-me dele de imediato.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now