Eu deveria estar acordado há mais de meia hora e apenas Mikey o havia notado. Não que eu me importasse, eu tinha uma boa visão de Frank de onde eu estava e vê-lo tão imerso em algo que não fosse se preocupar comigo ou correr atrás de médicos todo tempo, era tudo o que eu precisava. Meu irmão estava sentado no parapeito da janela, as longas pernas se balançando no ar, enquanto, volta e meia, me fitava de soslaio, ao mesmo tempo em que dava atenção a Frank e sua voz animada, ao falar das fotografias que tinha em mãos.
Meu marido parecia muito confortável com sua camisa folgada e a jeans rasgada, sentado naquela enorme poltrona azulada, grande o suficiente para que Frank pudesse colocar uma pilha de fotografias ao seu lado, conforme o álbum preto (tão bem conhecido por mim) estava em seu colo, sendo delicadamente folheado por ele, conforme colocava novas fotos ali. Na manhã anterior, antes que eu entrasse na sala de cirurgia, Frank havia dado um pulo em uma loja de conveniência não muito longe dali, ocupou-se em revelar algumas das fotos que estavam esquecidas em sua câmera, para organizá-las nos espaços livres do álbum. O encorajei, afinal, qualquer coisa que lhe ocupasse a mente era bem vinda.
Ainda mais após o procedimento do dia anterior, cujo quase havia deixado Frank em uma pilha de nervos.
Claro, ele se segurava, a expressão serena, ao que a médica explicava tudo o que seria feito, mas as unhas sendo cutucadas, os dedos se flexionando e apertando uns aos poucos, e os pés batucando o chão eram reflexo de que ele queria explodir em perguntas e em certezas de que todo o procedimento seria seguro e eu sairia vivo da sala de cirurgia. Por mais que fosse uma simples biopsia a ser feita, eu o entendia, afinal, o meu máximo de cirurgia e contato com anestesias havia sido com um problema dental. Aquilo ali era bastante temeroso até mesmo para mim, que exalava tranquilidade.
Eu não lembrava de nada, obviamente, somente do momento em que eu estava sendo preparado naquele quarto, Frank e seus olhos grandes e preocupados, e um último beijo em meus lábios e em minha mão esquerda, antes que eu fosse levado para longe dali. Adormeci poucos segundos após o cirurgião injetar a anestesia em mim e não fiz ideia de quanto tempo fiquei desacordado, até despertar em minha cama, Frank agarrado a minha mão e o rosto adormecido repousado no colchão, enquanto estava sentado na cadeira que havia puxado da escrivaninha do quarto.
Algo me dizia que aquela cena seria mais do que habitual em minha vida, então não demorei muito a fita-lo e mexer sutilmente minha mão, para bagunçar seus cabelos delicadamente. Com Frank despertado, pude escutar cada detalhe que a Dra. Ashley havia lhe dito após a cirurgia e como já teríamos o resultado no dia seguinte, já que eu tinha prioridade em saber o diagnóstico um tanto quanto antes. Eu estava me sentindo obviamente melhor, não tanto confiante, mas ainda sim fortalecido, desde que eu o tinha ali.
Frank havia mergulhado em seus trabalhos, em sua música e em entrevistas por aí, o que estava lhe fazendo bem, ao mesmo tempo em que também administrava cuidar de mim, manter-se à par de cada detalhe do meu caso. Ele me parecia igualmente sorridente e preocupado, tudo ao mesmo tempo, e eu estava satisfeito em vê-lo menos estagnado do que antes estava. Claro que eu apreciava sua presença, seus cuidados, a forma com que fazia questão de que tudo ao meu redor estivesse funcionando... Mas antes de mais nada, eu queria que Frank funcionasse também. E ele estava o fazendo.
Naquele momento, ele estava organizando suas fotos, como disse. Era algo simples, mas que lhe colocava um sorriso no rosto e parecia tão diferente do menino com o cenho franzido e resmungando sem parar da noite anterior, quando pedi para que ele chamasse uma das enfermeiras para que me desse mais analgésico.
Mikey percebeu aquele meu breve momento de epifania e fez questão de fingir que eu não estava ali, tentando me sentar, ao mesmo tempo que tomava cuidado para não abrir a pequena sutura em meu abdômen, a fim de ajeitar-me para olhar os dois da melhor forma. Quando o consegui, já era tarde demais: eu pude sentir os olhos atentos de Frank sobre mim, escutar meu irmão saltar da janela e algumas fotos caírem no chão, enquanto meu marido corria até mim.
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Old Hope || Frerard version
Fanfiction"- Eu e você... Pra sempre, sabe disso, não sabe? - fiz questão de proferir aquilo, no meio do caminho, em meio àquelas pessoas, à música, pouco me importando se eu parecia um louco chorão que se aproximava do cara mais bonito do planeta. Por um seg...