9 - Frank

546 42 4
                                    



Duas semanas.

Quinze longos dias entre médicos, advogados, farmácias, laboratórios e sonecas no fim de tarde, banhadas em toda a exaustão pela qual eu estava passando. Não, eu não estava reclamando, eu faria tudo de novo e quantas vezes fossem necessárias apenas para ver Gerard ali, largado em nossa cama, a aliança reluzindo na mão apoiada sobre meu peitoral, a expressão tão calma, que eu mal o reconhecia. Há dias eu o via com dor, remoendo-a e escondendo-a falsamente de mim. E quanto mais ele o fazia, mais eu grudava nele.

Gerard e eu estávamos casados há quase um mês e eu ainda me sentia naquela espécie de mundinho particular, onde passávamos as manhãs em nossa cama, entre beijos e um pouco de sexo, rindo e assistindo TV. A felicidade estava ali, sempre estaria, mas não poderia esconder que os últimos dias estavam sendo sofridos e arrastados, onde eu convivia com um Gerard quase dorminhoco demais o tempo inteiro, em decorrência dos remédios, e me recusava a fazer qualquer coisa da minha vida, que não fosse cuidar de cada segundo que ele passava naquele apartamento e fora dele.

Ah, não havíamos nos mudado ainda, por questões óbvias. Eu não iria para lugar algum com ele daquela forma, ainda mais para me manter afastado de onde sua médica ficava, longe de todo o centro médico e social que eu havia programado em minha cabeça para manter Gerard bem e seguro. A casa iria esperar, nós tínhamos a vida pela frente, então eu me ocupei de outras coisas mais, deixando nossa mudança para um segundo plano. Quem sabe até terceiro.

Meu marido também não trabalhava, tudo era trazido por sua assistente até o nosso loft e eu o ajudava entre analisar sketches e contribuições criativas para sua história, enquanto, ao mesmo tempo, buscávamos uma explicação pelo mal que parecia abatê-lo novamente. Eu sabia a resposta, eu não era nem um pouco burro e aquela era a razão pela qual eu estava de olhos abertos desde as três da manhã, encarando o teto de nosso quarto, escutando sua respiração calma próxima ao meu pescoço e sentindo todo o calor que emanava contra mim, registrando-o ao máximo.

Tudo estava valendo cada segundo, desde que Gerard e eu havíamos assinado os papéis, confirmando nossa união, assim que ele se estabilizou momentaneamente, em nossa volta para NY. Aquilo era o suficiente para que eu ficasse encarregado de tudo... Eu poderia acompanha-lo em hospitais, eu poderia cuidar realmente dele, sem que eu precisasse fazer um escândalo ou esperar que ele acordasse de uma crise e fizesse o dele, ordenando que me deixassem ficar ao seu lado.

Eu estava em pânico por dentro. Eu havia prometido à Mikey e estava conseguindo, a forma com que eu segurava a barra e firmava Gerard durante aquelas semanas era exemplar, mas, volta e meia, eu me pegava chorando, abraçado a ele, sendo amparado pelo homem que, a cada dia, parecia mais fraco e indisposto. Ele ainda sorria da mesma forma, cheio de vida, mas sofria para se alimentar, para ir ao banheiro e eu já havia perdido as contas das vezes em que havia desmaiado e me deixado em completo estado de calamidade, até que acordasse, rindo da minha cara, como se nada tivesse acontecido.

Até naqueles momentos mais graves, Gerard conseguia colocar um sorriso no meu rosto e era com essa mesma expressão, encarando a aliança em sua mão repousada em mim, que eu me via imerso em todas as manhãs. Eu poderia dormir mal, sofrer com o cansaço de organizar toda a nossa vida em função dele, de seus remédios e consultas, mas eu nunca havia deixado de me sentir o homem mais sortudo do mundo. Eu era... E por causa dele e de todo o seu esforço para igualmente me fazer feliz.

Enquanto eu me esforçava para manter tudo em ordem, era ele quem me trazia de volta para o nosso mundo, enchendo-me de beijos, me encurralando na cozinha, abusadamente apertando minha bunda, quando íamos para o mercado ou até mesmo para a visita a sua médica. Gerard sempre estava lá, tentando me relaxar e, na maioria das vezes, obtendo sucesso. Se aquilo não era sorte e amor, eu não sabia o que era.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now