13 - Frank

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Quando perguntei a Dra. Ashley, ou melhor, Halsey, onde a ala de recuperação de pacientes com câncer se encontrava, achei que era uma boa ideia. Afinal, eu poderia entrar em contato direto com alguns, quem sabe até puxar uma conversa e... Quem eu queria enganar? Eu não era capaz de sair puxando assunto com pessoas doentes, como se fosse um chat de internet. Cada um ali estava enfrentando uma batalha, dia após dia, e a última coisa que gostariam de aguentar era um rapaz tatuado, estranho e choroso lhes perguntando suas histórias de vida.

Sendo assim, eu estagnei, sentado em um banco, nos fundos do prédio, onde uma das enfermeiras havia me indicado que um grupo de crianças ali brincava. Pequeninos corriam de um lado para o outro, alguns sem nenhum fio de cabelo, outros magros demais... Outros com tristeza no olhar... E eu estava bastante ciente de que estava me torturando assistindo aquilo tudo. Se eu achava injusto ter meu marido sob aquele mal, quanto mais me conforma de que algo ruim poderia acontecer com aquelas criaturinhas? O mundo era mais cruel e pesado do que diziam por aí. E a minha vida estava enfrentando uma boa amostra grátis daquilo.

Eu nunca havia tido experiência alguma com aquele tipo de doença na minha família. Os Iero eram conhecidos por morrerem de velhice, assim como meu avô, durando uma eternidade, até que a morte batesse em sua porta e dissesse "É hora de ir, cara". E era assim que eu esperava, era a única ideia que eu tinha sobre deixar aquele mundo... E não era à toa que eu a assimilava à Gerard. Até o último segundo, ainda que eu soubesse o que ele tinha, bem no fundo, eu ainda me enganava e acreditava que teríamos o padrão de vida Iero. Juntos até o fim, até batermos as botas aos noventa anos em alguma casa de repouso por aí.

Também não era como se eu tivesse desistido daquela ideia, ela ainda morava dentro de mim e eu me agarrava nela, naquele futuro, com todas as forças que eu tinha. Mas o medo existia, martelava minha cabeça de tempos em tempos e me fazia chorar silenciosamente, durante as duas últimas noites que eu havia passado ali, ao lado dele. Contra sua vontade, ignorei o esquema que havíamos feito e estava engajado em passar todo o tempo possível com ele no hospital... Eu precisava olhá-lo dormir serenamente, chorar em meu canto, ao que eu morria de medo de perde-lo, mas, ao mesmo tempo, tinha certeza de que todo o meu mundo nunca seria tirado de mim com tanta facilidade.

Ele não se opôs, afinal, nós dois precisávamos um do outro e Gerard me queria por perto. Incapaz de falar aquilo em voz alta, eu somente fui ficando, me entregando a tudo e assumindo todas as responsabilidades possíveis. Como a respeito do tratamento, que iria se iniciar naquele mesmo dia, a quantidade de remédios prescritos sendo quase absurda demais, mas que agregava um pouco de esperança às nossas manhãs, quando acordávamos e nos deparávamos um com o outro. Ainda ali... Ainda sempre cuidando do amor que tínhamos.

Doía e isso era um resumo breve de tudo o que eu estava passando ali. Mesmo com Gerard, eu estava solitário, vagando pelo hospital, toda santa vez que eu tinha vontade de chorar desesperadamente ou quando uma das enfermeiras brotava para verificar se tudo estava bem. Eu sempre dava a desculpa de pegar um café, mas, quando retornava, eram meus olhos inchados e o nariz ligeiramente vermelho que eu trazia comigo, fazendo Gerard sinalizar para que eu sentasse ao seu lado e falássemos amenidades. E era sempre assim, desde aquele fatídico dia em que tivemos certeza. Mas eu iria sobreviver... Afinal, ele estava lutando.

Depois do choro denso daquele dia, Gerard se fortaleceu. Sorria mais vezes, continuava com suas piadinhas excêntricas e, principalmente, me fazia gargalhar ou simplesmente sorrir tanto quanto ele, quando soltava um de seus comentários repletos de humor negro. Aquele homem conseguia brilhar, mesmo que com o rosto cansado e cada vez mais magro, mesmo com todos os "mesmos", ele ainda era ele. E eu estava me empenhando para continuar a ser Frank Iero e com aquele Way reforçado no final.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now