28 - Gerard

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Eu poderia fazer uma lista enorme de dores e sofrimentos que estavam me tomando naquele dia fatídico. Poucas horas restavam para a minha cirurgia, para a "cartada final" que seria dada contra o câncer e eu só conseguia pensar no quanto eu era feliz. Tudo poderia ocorrer durante as horas de cirurgia, eu poderia tentar pensar negativamente e me preocupar, mas eu não conseguia... E eu nem me forçava à isso, pois não havia motivos. Não enquanto Frank estivesse ao meu lado... Como, você sabe, sempre haveria de ser.

Nossas mãos estavam bem firmes, as tatuagens de Frank reluziam sobre a minha pele pálida, o contraste habitual sendo ainda mais drástico desde que eu mal via a luz do sol e parecia mais apático, por mais que o mal estar tenha cessado e as dores se tornavam mais suportáveis. Meu olhar percorreu a junção de nossos dedos, para traçar um minucioso caminho por seu braço tatuado, exposto pela camisa fina que usava, estrategicamente a mesma camisa que havia usado no dia em que nos conhecemos... Conhecia Frank o suficiente para saber que havia o feito de propósito.

Seus cabelos estavam bagunçados, ao que sua cabeça estava apoiada na altura do meu peito, seu corpo cuidadosamente sobre o meu, me fazendo notar que seu braço livre fazia esforço para sustentar todo o seu peso, logo ao lado de minha cintura. E como se já não fosse a coisa mais adorável do mundo vê-lo com os olhos semicerrados, concentrado no afagar de meus dedos sobre os dele, Frank graciosamente ergueu o olhar em minha direção, o queixo apoiado sobre meu peito e seu narizinho arrebitado em minha direção.

Desde que havia chegado no quarto, após uma manhã em que passei recebendo orientações da médica, Frank havia tido pouco, apenas se enroscado a mim naquela cama, enquanto esperávamos que Ashley voltasse para me preparar para a cirurgia que ocorreria dali a quase uma hora. Parte do seu silêncio era proposital, afinal, Frank queria me sentir, tanto quanto eu o sentia, concentrar-me em seu cheiro, na textura de sua pele e em memórias sempre tão bem vindas de momentos que passamos juntos. E mesmo que eu adorasse aquele silêncio, a troca intensa de olhares, não o reprimi de começar a tagarelar e sorrir daquele jeito arrebatador.

- Fui ver seu irmão... Não imagina o drama que ele está fazendo. – "Ah, eu imagino... Imagino bem...", disse, com a casualidade de quem havia recém visto Frank e que não estava se perguntando o que ele havia feito por aquele hospital sem mim, enquanto sentia seu corpo tremular sobre o meu, em meio a suas risadas baixas. – Alicia está ficando sem paciência com ele, está choramingando mais do que a própria filha... É até bastante divertindo, mas eles estão bem.

- Hum... E você? – a pergunta era simples, talvez aérea demais para alguém que estava falando de Mikey, então eu rapidamente emendei, pois eu só poderia seguir para a sala de cirurgia sabendo se Frank não estava tendo uma síncope. – Quero saber se você está bem... Se vai ficar bem enquanto eu estiver lá e tudo mais. Preciso ter certeza de que...

- Eu não vou! – Frank me interrompeu, os olhos cristalinos mais próximos de mim, ao que roçou seu corpo ao meu e aproximou nossos rostos, uma distância pequena o suficiente para que eu me perdesse no nuance de seus olhos amendoados. – Estou confiante... Mais do que antes. Você me transmite isso... É só de olhar. – e Frank sorriu docemente, o rosto afastando-se para depositar uma mordida delicada na altura de minha clavícula, nada muito forte, mas seguido de um beijo por sobre a roupa azulada que eu usava. Eu realmente estava literalmente pronto para ser retirado daquele quarto direto para a sala de cirurgia. – Achei que fosse ficar preocupado, mas... Você está bem. Um pouco nervoso, eu sei... Mas tem tranquilidade nos seus olhos. Nós dois sabemos que você vai ficar bem. – e Frank voltou a se aproximar, carinhoso em roçar os lábios por meu pescoço e maxilar, dissipando qualquer traço de nervosismo que poderia reaparecer em meu sentimental. Ele estava ali, não havia motivo para pensar em qualquer ponto negativo. Frank era a minha cura para tudo... Aliás, quase tudo. – Você vai voltar pra mim.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now