25 - Gerard

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Sentir como se meu corpo inteiro queimasse, não era mais uma novidade... Era algo que eu vivia e, por algumas vezes, se dissipava a cada boa dose de analgésicos que eu tomava ao longo do dia. O que não estava acontecendo ali, quando senti meu corpo em uma extrema e desagradável combustão interna, enquanto eu sabia muito bem que não era nenhum fator causado pela doença. Era aquela maldita notícia.

A ideia de que nem tudo estava acabado batia novamente à minha porta, à nossa, aliás. Ás vezes, acreditamos que um obstáculo é ultrapassado, um muro a se escalar, com as mãos feridas e os pés dormentes... Mas nem sempre encontramos o que desejamos, quando assim o descemos. E eu tinha a impressão de que estava quase o descendo, próximo de encontrar a trilha da minha felicidade constante, quando aquele obstáculo surgiu.

Adam novamente, ressurgindo das cinzas, trazendo consigo todo o pesadelo que achávamos ter enterrado... Rogers era o tipo de doença que deveria ter cura, mas retornava, mais perturbadora e desafiadora do que antes. Quanto a essa suposição, eu não tinha absoluta certeza, mas sentia que seria difícil aguentá-lo se viesse a tentar alguma coisa para cima de Frank. Não por estar doente em uma cama de hospital, mas pela experiência anterior com aquele delinquente. E relembrar de tudo, diretamente, não só em minha mente, mas vivenciar todo o drama trazido por ele, era algo que eu não desejava a ninguém.

Uma semana. Uma longa semana imerso em algo que eu acreditava ter deixado para trás. Uma semana tendo que lidar com aquela fatalidade, acreditando que tudo se resolveria. Se eu possuísse algum tipo de fé, não demoraria muito a orar, a pedir para qualquer ser supremo, que o afastasse... Que Adam fosse encontrado e desaparecesse de nossas vidas, por bem... Pois eu não queria pensar no mal. Eu não queria trazer qualquer energia negativa para a minha vida.

Falando por mim, talvez eu estivesse lidando com aquilo silenciosamente demais. Volta e meia, meu marido e os outros tendiam a me questionar se eu estava me sentindo bem, quando, no fundo, eu sabia que nada disso girava a redor de minha doença. Temiam que eu me levantasse dali, me mandasse para longe e corresse atrás de Adam para mata-lo com as minhas próprias mãos. Vontade não faltava, claro, mas eu era bastante consciente de que possuía outras prioridades ali.

E a principal delas, se não levasse em conta a minha doença, era Frank.

Frank e como ele parecia completamente mudo quando tocávamos no assunto Adam. Frank e como desviava o olhar quando tentávamos perguntar se tudo estava bem. Frank e como estava sendo pior do que eu em tentar esconder a sua preocupação... Ou melhor, ele estava me ganhando, pois eu não fazia ideia do que estava se passando em sua cabeça. E era complicado, afinal, eu conhecia Frank o suficiente para lê-lo nos mínimos detalhes e ter quase todas as soluções para os seus problemas.

Não era o caso.

- Você precisa parar de ficar silencioso do nada, se não quiser que eu te encha o saco... Não tem nada a ver com você, ficar dessa forma e tudo mais. – comentei, bem acomodado na cadeira de rodas do hospital, quando Frank me manobrou para que pudesse ficar logo ao lado do banco amadeirado do pequeno jardim da instituição, onde se sentaria logo em seguida. – Desde que saímos do quarto, você não disse nada... E vindo de você, que não se cansa de tagarelar nem por um segundo, isso é demais. – observei seu perfil cuidadosamente, notado como respirou pesadamente e apoiou as mãos sobre o colo, ao que os olhos se fechavam e, aparentemente, ele se controlava a respeito de algo. E, como eu havia aprendido com ele, não deixei de continuar a tagarelar, ignorando a doce vista diante de nossos olhos, crianças correndo, divertindo-se naquele "parquinho" feito para os pacientes mais jovens da instituição. Havia algo mais bonito bem ao meu lado. – Pare de pensar nele... Você está com medo, não está?

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now