39 - Gerard

218 28 11
                                    



Adam estava falando muito sério. A loucura imperava em seu olhar, em como sorria abertamente ao mencionar que queria vingança... Uma porra de uma vingança por algo que só se passava em sua cabeça. Era revoltante e preocupante, me fazia sentir um pouco de pena... Mas, acima de tudo, raiva. Pois era impossível mudar a cabeça de um psicopata com palavras. Talvez atos, algo mais violento, qualquer coisa que fizesse Adam entender que teria consequências.

Mas esse era o problema. Ele entendia que haviam consequências e, mesmo assim, ele pouco se importava.

- Você quer forçar a sua morte pra me ver na merda... Como quer ver tudo pegar fogo? Você é burro por acaso? – Frank e sua indignação falaram mais alto, literalmente, quando ele quase gritou aquelas palavras, a respiração já nitidamente fraca e descompassada. Meu marido não estava passando muito bem, então eu resmunguei um "Frank, você não deveria...", mesmo sabendo que não iria surtir efeito. Ele iria continuar, como continuou, o rosto perdendo um pouco de cor pelo esforço que fazia. – Eu sinceramente estou de saco cheio dessa porra, de ter que aguentar esse desgraçado ameaçando a nossa vida à troco de nada! Mil vezes aguentar seu pai, quando era daquele jeito... Mil vezes qualquer merda, ao invés de ter que aturar um desequilibrado que não tem a menor noção de realidade! – Okay, talvez Frank houvesse mexido com Adam mais do que deveria, mas eu o entendia... Eu era ele em sua revolta por não poder fazer nada. Era claro que Frank só estava se segurando por minha causa e isso só me causava ainda mais euforia.

- Eu estou disposto a fazer mais do que isso! Eu quero que pague por tudo o que eu passei! Tudo! – Adam gritava, me fazendo imaginar que seus gritos ecoavam pelo corredor, já que a porta ainda estava parcialmente aberta. Eu não possuía um ângulo bom, só conseguia vê-lo como aquele monstro assustador gritando diante de mim, quase queimando Frank com seu olhar, mas presumi que a ajuda não demoraria a chegar. Não era possível que ninguém estivesse ouvindo tudo aquilo. – Você, Frank, não merece tudo isso... Não merece ele! – Obviamente apontou para mim, um pouco de sangue respingando em meu lençol, ao que eu me vi, delicadamente, arrastando o corpo um pouco para trás. Quase fiz menção de sentar, mas, em meio a todo aquele caos, Frank teve tempo de me lançar um de seus melhores olhares repreendedores, impedindo que eu continuasse com aquilo. – E nós dois podemos ser felizes longe de você. É o único jeito, Gerard... É o único jeito de ter você pra mim. – Ótimo, agora aquele descontrolado havia pousado as mãos sobre a beirada da minha cama, se curvando drasticamente, os cabelos escuros caindo sobre o rosto e, se eu não tivesse passado por muita coisa na vida, inclusive ter sido obrigado a ver milhares de filmes de terror com Frank, eu teria medo.

- Será que é pedir demais para que você entenda que eu jamais vou te querer? – E eu não tive medo mesmo. A frieza em minha voz e em meu olhar se colidiram contra a expressão desesperada de Adam e eu não sabia se a ficha havia caído para ele, mas eu precisava continuar. Ganhar tempo era o meu plano... E falar cada vez mais alto, também. Por mais que eu sentisse fisgadas não muito bem vindas na região do meu abdômen. – Nem nessa vida, muito menos em qualquer outra! Eu não o quero. – E pontuei a última frase dita com lentidão e escutando minha voz grossa ecoar por todo o quarto, fazendo questão de que fosse propagada para fora dali... Não sabia se havia surtido efeito, mas a julgar por Frank e como ele voltou a se agarrar a minha mão, eu estava conseguindo alguma coisa. Principalmente quando o ar vitorioso de Adam se desfez, por mais que ele tivesse vantagem com aquela maldita serra apoiada sobre a cama, próxima demais de meu pé coberto pelo lençol. – Sempre vai ser Frank... Adam, preciso que entenda isso e siga com a sua vida de uma vez, longe de nós dois... Vai ser melhor pra você, mais seguro pra você também. Eu não quero ter que tomar medidas piores do que as que já tomei.

Certo, eu não havia feito nada propriamente dito, a não ser pedir ajuda a meu pai, mas era alguma coisa... Eu poderia contar com aquela insinuação para acalmá-lo um tanto. E ao ver Adam um pouco mais suavizado, pensativo, pendendo a cabeça para o lado, me fazendo desviar o olhar de seu rosto parcialmente queimado. Ainda era difícil digerir aquela imagem tão de perto e por muito tempo, então eu tratei de encarar meus dedos enroscados ao de Frank, podendo sentir que Adam havia feito o mesmo.

Old Hope || Frerard versionWhere stories live. Discover now