- Gerard possui um tumor... Tumor de estroma gastrointestinal. – Ashley disse, de uma só vez, retirando uma das folhas de dentro do envelope e me entregando. E, sinceramente, eu sequer me movi, pisquei e provavelmente havia prendido a respiração. Não fazia ideia do que estava acontecendo, pois, assim que disse tais palavras, eu encarei Frank e vi todas as cores dele se tornarem acinzentadas bruscamente ao que seus olhos se encheram de lágrimas. Me ancorei nele, tentando não debulhar-me da mesma forma, sob o som da voz calma da jovem médica, que delicadamente me tocou um dos braços. – Falando de uma forma mais direta, se trata de um tipo de câncer, não muito comum, mas que possui tratamento. No caso de Gerard, nos enganamos todo esse tempo... Não foi causado por bebida ou má alimentação. A biopsia do pequeno pedaço que retiramos de seu estômago comprovou que o tumor está no seu primeiro estágio... E que, segundo meus cálculos, é de caráter genético.
Ou seja, aquilo estava em nossa família... Eu o havia bizarramente "herdado" de minha mãe, que foi embora tão cedo... Que morreu daquilo. Morreu daquela maldita doença que se alastrou por seu corpo silenciosamente. E eu parecia caminhar para o mesmo destino. Sendo precipitado ou não: era uma realidade, uma possibilidade.
Eu tinha um maldito câncer crescendo dentro de mim.
Foi inevitável não lembrar de minha mãe, assim que fechei meus olhos e me desliguei de todo mundo, até mesmo de Frank e sua mão que havia fraquejado em segurar a minha. As memórias vieram como uma avalanche em cima de mim, tornando-me pequeno... Como se eu tivesse me transportado para o pequeno Gerard de alguns tantos anos de idade, que pintava trancado em seu quarto e que havia ignorado todas as crises noturnas da mãe, que escondia muito bem o que estava a dominando.
O mesmo Gerard que era inocente e não estava preparado para aquilo. Eu havia me tornado alguém melhor sim, alguém que via a vida sem medo ou receio do que achavam de mim, do que eu deveria fazer para ser feliz. E lá eu me encontrava, em uma cama de hospital, encarando a realidade com uma apunhalada no meu estômago (literalmente), pela primeira vez, em meses, em saber como eu iria me manter feliz depois de me ver diante de tudo aquilo.
Donna novamente perdurou minhas memórias, seu sorriso e seu tom sempre confiante, ao me apoiar em qualquer coisa... Todas as vezes em que ela me olhou com seus olhos sinceros e viu quem eu era de verdade: um jovem perdido, prestes a se achar em si mesmo, em outra pessoa e encontrar o seu caminho. E eu estava muito bem encaminhado, minha mãe deveria saber disso, deveria olhar tudo aquilo e, da mesma forma com que eu amaldiçoei o mundo, lamuriado por aquele capítulo trágico. E eu estava sendo muito modesto e educado ao referir-me daquilo tudo como apenas "trágico".
O primeiro choque veio com tudo: eu poderia morrer. Simples assim, nenhum acidente fatal ou morte natural aos meus noventa e tantos anos de idade, ao lado de Frank. Morrer aos trinta, jovem demais e inexperiente demais para aceitar que eu poderia estar na beirada do penhasco, prestes a ser empurrado, contra a minha própria vontade. E seria mentir que eu nunca estive naquela beirada antes, quando era mais jovem, alucinado pelas drogas, pelas bebidas e pelo o pesadelo que era aceitar como eu era de verdade... Eu havia pensado inúmeras vezes, mas de todas as covardias que eu havia eliminado de minha vida, aquela era a única que persistia. Eu nunca teria coragem de me livrar de todos os laços que faziam meu coração bater fortemente todos os dias. Principalmente aquele ao meu lado.
O segundo choque era sobre o que eu teria que enfrentar. Não só os remédios, uma possível e óbvia quimioterapia, mas toda... Toda a maldita dor emocional. Aquilo era o pior para mim, mais do que o passa mal, mais do que vomitar todos os dias e sentir meu corpo queimar por dentro. Pois eu era capaz de me acabar apenas dia após dia pensando se eu seria capaz de passar por mais uma semana, quem sabe duas... E era por isso que eu andava evitando pensar, realizar que eu poderia realmente ter herdado aquilo de minha mãe.
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Old Hope || Frerard version
Fanfic"- Eu e você... Pra sempre, sabe disso, não sabe? - fiz questão de proferir aquilo, no meio do caminho, em meio àquelas pessoas, à música, pouco me importando se eu parecia um louco chorão que se aproximava do cara mais bonito do planeta. Por um seg...