Dia7

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Hoje foi o dia que o Pescador veio me pedir ajuda. Só consegui me perguntar porque alguém me pediria qualquer coisa, mas aí lembrei que provavelmente meu pai tinha pedido aquilo dele. Típico. Esperava que fosse tudo dar certo e que eu me sentiria um pouco melhor.

Não custava nada tentar, não é mesmo?

Pelo menos, o rio em que ele pescava ficava afastado dali e eu poderia ficar longe das crianças que brincavam na planície, e poderia caminhar um pouco naquele dia bonito, entre as bétulas com seus troncos brancos, flores e cogumelos.

Fui atrás dele, carregando um cesto para que colocasse os peixes. Andava a minha frente tagarelando sobre iscas e encantamentos para pescar mais rápido. A vara de pesca brilhava num lilás clarinho com o encantamento posto sobre ela, e fiquei me perguntando se eu poderia ser um bom mago.

Oras, se eu era ruim com atividades físicas e materiais, talvez fosse bom com livros. Fiquei com esse pensamento na minha cabeça até chegarmos no rio.

Eles haviam construído um longo trapiche sobre a água, todo cercado. Alguns banquinhos estavam por ali, onde sentamos. Uma grande lula preta nadava a esmo, espirrando água para fora do rio calmo. O sol quadrado acima de nossas cabeças e as folhinhas das árvores balançando no vento. Ah, que dia maravilhoso! Parecia um belíssimo dia para falhar novamente.

O Pescador pegava baiacus, salmões e peixes-palhaço. Ele colocava na cesta e eu os olhava com dó. Por vez ou outra, pegava algum lixo, como ossos e botas. Houve um momento em que a vara ficou presa em alguma coisa pesada. Achamos que era uma pedra, ou uma lula, mas o anzol não se soltava. O ajudei a puxar a linha e foi aí que tudo foi por água abaixo — literalmente.

Eu cai e fui direto para a água. Com medo de me afogar, me segurei no primeiro objeto que vi pela frente: a cesta com os peixes!

Fui para o rio com cesta e tudo, com aqueles peixes todos caindo na minha cabeça. Afundei e achei que estava tudo acabado, ali mesmo. Não sabia nadar e não tinha onde me segurar.

Senti as mãos do Pescador na gola de minha camisa, me puxando para cima e soltei o folego, inspirando o ar puro. Fiquei ali estirado na grama, molhado e com frio, só olhando as nuvens no céu enquanto ele me dava uma bronca.

Nem dei bola. Era uma tragédia anunciada de qualquer jeito.

Só sei que fiquei até tarde no rio, pescando eu mesmo para compensar. E olha que só consegui pegar três peixes. Para meus padrões, aquilo era um sucesso!

O Diário de SteveOnde histórias criam vida. Descubra agora