Todos começaram a correr, ávidos por atravessar logo e ir embora. Um por um, os adultos iam sumindo na mancha roxa do portal.
Fiquei para trás com Alex e sua mãe e o meu pai. Ele sorriu, olhando para mim.
"Veja bem o que vocês fizeram hoje. É uma das coisas mais maravilhosas que já presenciei em meus anos de exploração. Estou muito orgulhoso de você Steve."
Achei que nunca ouviria aquelas palavras na minha vida. Sem nunca saber minar direito, pescar direito, lutar direito ou criar galinhas sem fazer uma bagunça. Como eu, o ser mais destrambelhado que existia, poderia ter feito aquilo? Nem eu estava acreditando.
Alex me olhou com uma expressão vitoriosa no rosto.
"E não é que conseguimos mesmo?", disse ela, e apertou a mão de sua mãe.
"Eu também estou orgulhosa de você Alex", ela disse. "Agora você é uma verdadeira exploradora."
Deixamos para atravessar por último já que éramos os menos cansados por ali.
Pisamos na obsidiana e nos deixamos levar por aquela nuvem roxa, até a caverna de onde viemos.
Lá fora, todos se abraçavam. Alguns estavam sentados no chão, respirando aliviados e conversando alegremente.
"Vocês se lembram do caminho para fora dessa caverna?", perguntou a mãe de Alex.
"Claro", ela respondeu. "É logo por ali, só precisamos ficar atentos a aranhas e outras coisas."
"Mas antes, precisamos fazer uma coisa.", a mãe de Alex continuou. "Destruir esse portal."
Todos pegaram as picaretas largadas na mina abandonada e ajudaram. A obsidiana era muito resistente, mas muito em breve, o primeiro bloco e se foi, apagando o portal para sempre.
Satisfeitos, demos um tempo até que todos descansassem e guiamos o caminho para longe dali.
A escalada foi complicada, mas chegando lá em cima, na mina abandonada, fui recepcionado por Lobo, que esperava por mim fielmente.
O cachorro lambeu minha cara inteira e meu pai me olhou torto.
"É você que vai cuidar dele?", ele perguntou.
"É ele que vai cuidar de mim, isso sim".
A luz da entrada da caverna nos convidava a sair logo dali, e todos foram diretamente para a cachoeira onde havíamos caído, lavar os rostos e beber água.
Lembrei da minha perna e mostre o corte a meu pai. Ele apenas deu uma risada, perguntando se estava doendo. Não estava.
"Não acho que vá deixar uma marca muito grande, Steve. Mas esse negócio de ter cicatrizes é muito super valorizado."
Acho que eu tinha razão. Esqueci aquele assunto enquanto ia com todos até o lago.
"Como que vamos subir isso daí", perguntaram alguns, olhando os blocos de altura da ravina.
"Teremos de fazer uma escada, ou ir cavando e subindo", diziam outros. Mas a grande maioria saciava a sede na cachoeira.
Eu era uma dessas pessoas. Lavei os braços, o rosto e bebi. Depois fiquei ali, vendo todas aquelas pessoas. Algumas delas eram aldeões, que era bem parecidos com meu pai. O mesmo nariz, sobrancelhas unidas e olhos de sempre. A mesma cabeça careca.
Olhei para baixo, onde via meu rosto refletido na água. Vi Alex parada logo atrás de mim. Eu era muito mais parecido com ela e com outras daquelas pessoas.
"Porque vocês são assim diferentes do meu pai e de outros aldeões?"
Ela sentou do meu lado, tirando os nós dos cabelos com os dedos.
"Iguais a você, você quer dizer."
Eu apenas dei de ombros.
"Talvez você devesse perguntar para ele.", sugeriu ela, saindo dali e me deixando com meus pensamentos.
"Ou talvez eu já saiba da resposta.", respondi a mim mesmo olhando no reflexo.
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O Diário de Steve
FanficNa vila onde Steve mora, todas os aldeões são incumbidos de uma tarefa, sendo membros importantes da sociedade. Porém, Steve não consegue descobrir uma única coisa que saiba fazer bem. No Diário de Steve, o leitor irá acompanhar a jornada de...