16. I got my heart right here, I got my scars right here

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Mal entrei em casa, notei duas coisas. O meu pai ainda não tinha chegado e a minha mãe definitivamente, estava no meu quarto a julgar pelos sons que cessaram mal fechei a porta atrás de mim. Ela não costumava entrar muitas vezes lá. As ocasiões anteriores prendiam-se com alguma conversa pendente ou então porque ia deixar roupa limpa ou nova sobre a minha cama.

Contudo, sabia que nenhumas das opções eram viáveis. Percebi que remexia no meu quarto pelo som e assim que vi a porta aberta e a luz acesa, concluí isso mesmo. Só havia uma razão para estar a mexer nas minhas coisas. Com certeza, teria encontrado as roupas novas. A mala. Os acessórios.

Parei na entrada do quarto e vi as minhas coisas espalhadas sobre a cama e a minha mãe encontrava-se de pé com uma folha na mão que não demorei muito para descobrir o que era.

- Finalmente em casa! Não tens horas para chegar a casa? Ou aproveitaste-te do facto do teu pai viver para o trabalho para fazeres o que queres?

- Fui dar uma volta. – Respondi, olhando para as coisas sobre a minha cama.

- Posso saber o que é isto?

- Roupa nova. – Respondi simplesmente.

- Com que dinheiro compraste isto? – Quis saber.

- Ora, todos os anos, nos meus anos ou como mesada dão-me dinheiro e eu nunca gastei como querias…pois bem, desta vez gastei naquilo que sempre quiseste que fizesse. Comprei coisas para mim. – Retruquei secamente, mantendo a minha mala sobre o ombro e encarando-o, parada na porta.

- Como irresponsável que és, gastaste todo o dinheiro em vez de guardar, não é?

Bufei e não pude evitar, deixar escapar um sorriso irónico com aquela situação. Durante anos, aquela mulher à minha frente quase tentara obrigar-me a comprar roupa mais interessante e por isso, dava-me dinheiro com frequência. Agora que finalmente, fazia o que ela sempre quis, reclamava de gastar dinheiro a mais.

- Por muito dinheiro que tenhas juntado, isto ainda são coisas caras.

Evidentemente que iria desconfiar do valor, mas logo tentou arranjar a explicação mais lógica: o meu pai ter-me-ia andado a mimar na ausência dela. Não tentei argumentar contra aquela ideia e por isso, deve ter tirado as suas conclusões.

- E isto, o que é? – Perguntou e mostrou o meu teste de Geografia, sinalizando com o dedo indicador a nota negativa.

- Correu mal, mas vou melhorar.

- Claro. – Disse, mantendo um tom irónico. – Escolhes um curso fácil e mesmo assim, mostras que além de inútil, és burra até para não conseguir fazer um curso de humanidades.

- Já disse que vou… - Antes que pudesse terminar, interrompeu-me, usando um tom de voz mais alto.

- Nem penses que vais viver à grande, tirando esta merda de notas num curso sem futuro e como recompensa, ainda te achas no direito de comprar coisas para te sentires bonita. Uma novidade para ti, filha. A vida não é justa.

- A quem o dizes? Se fosse, não teria que ouvir isto.

Aquela frase saiu mesmo antes de poder processar que o ideal seria deixá-la falar até ao final para assim não prolongar aquela discussão mais do que o necessário. Porém, aquela interrupção ou talvez porque aquela já fosse a sua intenção inicial, fez com que as palavras deixassem de ser suficientes.

- Pensas que até me podes responder? – Indagou num tom ameaçador e antes que pudesse compreender o que estava a acontecer, a minha mãe veio até mim, puxou-me pelos cabelos e fez com que caísse de joelhos no chão perto da cama. – Não penses que por estar a entrar numa fase de rebeldia qualquer, te deixo que faltes ao respeito ou cries a ideia falsa de que me podes responder!

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