31 . Reencontro

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A expressão facial do Tiago variava entre a incredulidade e a irritação. Chegou inclusive a deixar a rececionista a falar sozinha. Ignorando por completo a voz da jovem mulher atrás do balcão, veio até mim.

Permaneci imóvel em frente à entrada do hotel. Todo o ressentimento e ódio conseguiram esconder-se por detrás de uma expressão quase vazia. Era um mal necessário. Precisava de criar a situação ideal para fazê-lo entender que não ia fugir novamente. Desta vez, não tinha nada a perder.

Pelo canto do olho, vi que um dos seguranças observava atentamente a cena depois de trocar um olhar apreensivo com a rececionista. A perceção dessa troca de olhares fez com que tivesse uma ideia. A primeira de muitas que usaria enquanto estivesse em Portugal.

- Não percebeste que devias ter desaparecido de vez?! – Berrou à minha frente. Ele estava exatamente como eu queria. Sem qualquer compostura. A calma e o sorriso falso e confiante não tinham qualquer lugar na sua postura e expressão.

De soslaio, vi a tensão que rodeava o segurança que se preparava sem dúvida para interferir.

- Estás assim tão perturbado com a minha presença? – Provoquei, falando baixo o suficiente para que somente ele pudesse escutar-me. – Desconhecia esse teu medo de mim.

Foi o suficiente. Sem pensar nas consequências, agarrou-me o braço e no mesmo que o segurança avançou, gritei. Pedi ajuda. Exigi que retirassem aquela pessoa desequilibrada da minha frente.

Penso que nem o Tiago esperava aquele escândalo e por isso, assisti com divertimento como ele foi imobilizado pelo segurança. A isto seguiu-se um telefonema para a polícia não só pela tentativa de agressão da qual me queixei dramaticamente, mas também pela falta de pagamento da estadia. Pelo que pude perceber, o papá dele finalmente deve-se ter cansado de pagar a vida de luxo que levava.

- Muito obrigada. – Agradeci ao segurança com um sorriso.

Era um homem jovem. Devia ter quase trinta anos, tinha um porte físico ideal para a profissão que desempenhava e teria que admitir que era bem-parecido.

- Não tem de quê, senhorita. – Respondeu. – Ele magoou-a muito?

- Não, mas se quiser ajudar-me a não ver mais este tipo por aqui, saberei ser grata. – Falei e deslizei duas notas discretamente para o seu bolso, sorrindo-lhe discretamente.

- Com certeza. – Retribuiu o sorriso.

Assim, por muito que quisesse atirar o nome da sua família ao ar, Tiago não teve outra escolha senão acompanhar os agentes de autoridade. A rececionista desculpou-se mais uma vez pelo ocorrido e eu como boa pessoa que sou, tranquilizei-a. Disse-lhe que tinha sido muito profissional no modo como lidou com a situação e que diria isso mesmo à minha mãe. Seguiram-se mais sorrisos e alguns agradecimentos pela minha compreensão e simpatia.

A ida para os Estados Unidos impulsionou a carreira da minha mãe. Após menções honrosas e até prémios pelo bom jornalismo, o status que alcançou, permitia-lhe que a tratassem com deferência sempre que se instalava em algum hotel. E claro que como filha dela, esse tratamento especial acabava por estender-se até mim.

- Precisa de mais alguma coisa?

- Quero encontrar outra pessoa. Saber coisas sobre um individuo. Acha que consegue ajudar-me?

- Tenho os meus contactos.

- Ótimo. Não se preocupe que pago pela informação.

Ele sorriu novamente.

Paulo, o segurança, estava sem dúvida a sair melhor do que a encomenda. Em troca de dinheiro, trazia informação de forma rápida e eficiente.

Embora, não saiba até que ponto devia surpreender-me com o que fiquei a saber sobre o Capela, esse continuaria ainda assim como um alvo da minha vingança. Ele estava preso e as razões para isso? Assaltos violentos e uma série de acusações de violação de menores.

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