- Posso saber o que te leva a pensar que tens alguma coisa a ver com o assunto? – Perguntou a minha mãe, dedicando um olhar especialmente desagradável na direção do Vasco que no mesmo tom calmo, respondeu:
- Não penso, simplesmente, tenho coisas a dizer sobre isto.
Ela riu com traços claros de ironia.
- Foste arranjar um namorado que gosta de se meter nos assuntos de família. Aliás todo esse ar de quem não faz nada na vida… só podia esperar mesmo mais uma desilusão. Nem um gajo de jeito soubeste escolher.
- Devia escolher-me pelo número na minha conta bancária? Foi essa a razão que a levou a casar-se com o seu marido? – Provocou Vasco. – Se bem me lembro, não foi isso que a Katya me disse, mas quem sabe agora com a separação à porta talvez tenha aprendido que dinheiro no banco traz felicidade.
- Quem é que pensas que és para falar comigo assim?! – Perguntou e passou por mim, indo até ao Vasco. Ao virar-me, vi quando ela levantou a mão que ele segurou sem problemas e também se erguendo, disse:
- Não bato em mulheres, mas parece que a senhora gostava que abrisse uma exceção para si…
- Não te atreverias… - Murmurou ela perigosamente baixo.
Ele largou a mão dela, não sem antes afastá-la com um movimento brusco.
- Não me conhece por isso, não me provoque. – Abraçou-me pelas costas, continuando a encará-la. – Como não me conhece, eu não arriscaria em tentar afastar a sua filha de mim.
- Isso é uma ameaça? – Perguntou perplexa.
- Sim é. – Afirmou secamente. – Não estou disposto a deixá-la ir embora contra a vontade dela. Muito menos para ficar à guarda de alguém que só está bem a controlar tudo. Conheço bem o seu tipo. Quer que tudo se mova e se faça conforme a sua vontade e sabe que mais, esse é uma das razões para o casamento ter ido ao ar.
- Quero ver que desculpa vais inventar assim que chamar a polícia e disser…
- E disser o quê? – Indagou num tom ríspido. – Já avisei, não me ameace. Antes que consiga ligar para alguém, pode ser que eu mude de ideias e a faça fechar a boca de uma só vez. Viu o carro parado lá fora? E se eu a forçar a ir dar um passeio comigo? Vivo aqui há tanto tempo que sei perfeitamente o que fazem quando alguém desaparece por aqui… as pessoas esquecem e quando desconfiam de quem possa ter sido, o medo fala demasiado alto para as pessoas terem coragem de fazer alguma coisa.
- O que estás a dizer é uma ameaça muito grave.
Pela primeira vez em anos, ouvia a voz da minha mãe tremer. A compostura sempre superior e até então, irónica e relaxada estava a ser quebrada pela forma fria como o Vasco demonstrava que não estava nem um pouco intimidado. A forma como os seus braços ainda me envolviam também eram outra prova de que estava calmo, terrivelmente calmo para alguém que tinha acabado de dizer tais coisas.
Por estranho que pudesse parecer, isso não fez em que momento algum tivesse medo da pessoa por detrás daquelas palavras. Pelo contrário, aquela estranha possessividade que me envolvia, fazia com que me sentisse segura e encarasse a minha mãe como alguém que afinal, não era assim tão intimidante.
- Mesmo que a polícia viesse aqui, seria a sua palavra contra a minha e claro… - Aproximou a boca da minha orelha. – A sua filha também saberia muito bem ao lado de quem iria ficar, ou seja, que versão da história iria confirmar. Já viu bem? Até que ponto alguém precisa de descer para ter a própria filha contra si próprio…
- Ela não se atreveria… - Disse a minha mãe, mantendo aquele tom trémulo nada familiar nela.
- O que farias, bebé? Falarias a favor da tua mamã? – Perguntou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Conexão
RomanceE se o desejo de mudar te levasse por caminhos que nunca pensaste percorrer?