26. Sem contacto

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Domingo à noite, já depois da hora do jantar cheguei a casa. Tinha acabado de pegar na minha mala para sair do carro, quando a porta de casa se abriu. Era o meu pai que tinha todo aquele ar de querer satisfazer a curiosidade acerca do meu namorado com quem tinha ido passar o fim-de-semana.

Ao ver o ar curioso da figura parental, o Vasco saiu do carro e cumprimentou-o sem qualquer problema e apresentou-se. A troca de palavras entre os dois não foi muito longa e penso que o ar examinador do meu pai, deixou-me mais desconfortável a mim do que o meu namorado que sorria o tempo todo com um ar divertido. Feitas as despedidas, entrei em casa e claro tinha que ouvir os primeiros comentários sobre a opinião dele.

- Ele fuma. – Não era uma pergunta, apenas afirmou com um ar pouco satisfeito.

- E? – Perguntei sem entender.

- Não achas que te devias interessar por alguém da tua idade?

- Oh pai, por favor, não vamos ter esta conversa. – Respondi, continuando a arrastar a minha mala pelo corredor.

- E posso saber porque não? Achas que não tenho o direito de achar que és demasiado nova para passar o fim-de-semana fora com o namorado?

Parei de andar e encarei-o.

- Porquê? É mais interessante ver-me a passar cá em casa sozinha? Aliás, não é apenas o fim-de-semana. Passo mais tempo comigo do que…

- Sei que não tenho estado muito presente, mas podemos melhorar isso. – Interrompeu-me e eu esbocei um sorriso irónico.

- E vamos passear os três? Eu, tu e a Natália? – Indaguei. – E já agora, não toques na minha diferença de idade com o Vasco porque acho que aqui entre nós, há alguém que não tem muita moral para falar.

Depois desse meu comentário, a conversa morreu por ali. O que poderia dizer? Não podia negar que andava com alguém que poderia ser minha irmã.

Entrei no meu quarto e antes de dormir, tive que fazer alguns trabalhos que supostamente deveria ter feito durante o fim-de-semana. Esse desleixe fez com que só adormecesse depois das quatro da manhã. Estranhei que o Vasco não me enviasse qualquer mensagem durante esse tempo, já que julguei que iria ficar curioso sobre a opinião do meu pai depois de ele se ter ido embora. Imaginei que estivesse cansado da viagem e por isso, não dei muita atenção à ausência de mensagens.

Horas mais tarde, estava a acabar de arranjar-me em frente ao espelho. Tinha um gorro cinza na cabeça e os meus cabelos soltos caíam sobre os meus ombros. Levava um top branco de malha branco com um decote em “v” e uma saia cor de vinho curta e justa. Por cima levava um casaco de malha cinza que se estendia quase até ao fim da minha saia e que se fechava com pequenos botões castanhos. Calcei uns botins cinza enfeitado com algumas correias e peguei na minha mala também de cor cinza decorada com algumas tachas.

Apesar das poucas horas de sono tinha acordado até bem cedo para tomar o pequeno-almoço sozinha e assim evitar alguma tentativa de conversa por parte do meu pai. Sinceramente, ainda estava com pouca paciência para ouvir os pedidos de desculpa que deviam vir acompanhados de conselhos sobre relacionamentos.

Estava a chover um pouco quando saí e por isso, contrariada lá tive que pegar num dos guarda-chuvas que estava na entrada. Alguns metros já afastada da minha casa, notei que aquele guarda-chuva tinha um cheiro de perfume impregnado nele e que não se parecia com nenhum que havia em minha casa.

- Não acredito que de todos os guarda-chuvas tinha que trazer logo este… - Murmurei entre os dentes ao concluir que se devia tratar daquele que a namorada do meu pai devia ter esquecido lá em casa.

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